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A luta dos estudantes chilenos por melhorias em seu sistema educacional chega à Argentina

DA ANSA, EM BUENOS AIRES

Estudantes chilenos que vivem na Argentina saíram às ruas de Buenos Aires em apoio ao protesto de seus compatriotas e pediram mudanças no sistema educacional chileno.

Centenas de jovens, autodenominados “estudantes chilenos exilados pela educação de mercado”, marcharam do Obelisco até a sede do consulado chileno, aos gritos de “e vai cair, e vai cair, a educação de Pinochet”, em referência ao modelo implantado durante o governo do ditador Augusto Pinochet (1973-1990).

Nas universidades estatais de La Plata e Buenos Aires estudam cerca de 60 chilenos que, segundo eles, tiveram que mudar de país diante da impossibilidade de pagar o elevado custo do ensino no Chile.

Mobilizados há dois meses e acompanhando de perto os desdobramentos do movimento que pede educação gratuita e de qualidade, os chilenos contaram com o apoio de estudantes da Federação Universitária de Buenos Aires e da Coordenação Unificada de Estudantes Secundaristas.

“É um momento histórico, independentemente do que aconteça”, disse à ANSA a estudante Daniela Poblete, da cidade chilena de Valdívia. “Contive as lágrimas ao ver as imagens positivas e as negativas da repressão”, acrescentou ela.

Poblete contou que decidiu estudar na capital argentina porque, em Santiago, seu curso “é caríssimo”, cerca de US$ 630 (R$ 1019) por mês. Para começar a estudar, ela pediu um ano de crédito, o que significou um endividamento de 13 anos que ainda está pagando.

O estudante de sociologia Pablo Posio, de Santiago, por sua vez, afirmou que vive na Argentina um “exílio do capital econômico”, já que o sistema educacional torna “impossível” estudar em seu país. “Não queria continuar pagando um banco”, diz.

Segundo ele, o governo vai ter que atender as demandas, senão o presidente Sebastián Piñera vai ter que deixar o cargo. “Está em jogo a governabilidade”, avaliou.

Outras manifestações de estudantes chilenos foram registradas na França, na Espanha, na Suécia, na Venezuela e no Brasil.

Na Espanha, estudantes se reuniram com o cônsul-geral do Chile, Matías Undurraga, que expressou “a preocupação pela situação que o país vive e o total repúdio pela violência que as forças policiais exercem sobre os diferentes grupos sociais mobilizados”.

Milhares de chilenos responderam ontem a um chamado do movimento estudantil e começaram a bater panelas, uma ação conhecida como “panelaço”. O som foi ouvido em todos os bairros de Santiago e em diversas regiões do país, em um claro apoio da população ao que é considerado “o movimento social mais importante em 20 anos de democracia”.

O ato marcou o fim dos protestos pela educação que movimentaram o país durante toda a tarde de ontem e que levou às ruas, apenas na capital, mais de 150 mil manifestantes.

Os dirigentes estudantis calculam que cerca de 500 mil pessoas participaram de marchas em todo o Chile. Eles deram um ultimato ao governo para que apresente uma nova proposta de reforma educacional que incorpore suas demandas.

O subsecretário chileno do Interior, Rodrigo Ubilla, informou hoje que os protestos terminaram com 376 detidos e 78 feridos, dentre os quais 55 policiais e 23 civis.