Ubes – União Brasileira dos Estudantes Secundaristas

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#CONTRAOAUMENTO: LIDERANÇAS DO MOVIMENTO SÃO ENTREVISTADAS

DA UNE

Leia entrevista da UNE com três lideranças do movimento #contraoaumento, que, desde julho de 2011, mobiliza trabalhadores e estudantes na capital do Piauí

No último dia 10 de janeiro, o movimento #contraoaumento, organizado por estudantes e trabalhadores de Teresina, capital do Piauí, foi tema de destaque nos principais noticiários do país. Os protestos contra o aumento abusivo nas passagens de ônibus (de R$ 1,90 para R$ 2,10); pela extinção da segunda tarifa na integração; pela integração temporal de 2horas em 100% das linhas e por licitação das linhas de ônibus e implantação do plano diretor terminaram com forte violência policial.

Cerca de 600 policiais, mais a tropa de choque, participaram da repressão a uma manifestação pacífica que parou uma das principais vias da cidade, a Avenida Frei Serafim. Balas de borracha, bombas de efeito moral e spray de pimenta foram disparadas contra a multidão. Muitos estudantes ficaram feridos, aproximadamente 17 ficaram detidos de forma arbitrária e agressiva sendo levados para a delegacia. Um jovem perdeu parte da visão em decorrência de estilhaços de uma bomba atirada pela PM.

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Até terça-feira (18/01), apesar das manifestações de rua diárias organizadas pelos estudantes, o prefeito de Teresina, Elmano Férrer (PTB), recusava-se a ouvir as reivindicações e dialogar. Somente na manhã da quarta, ele marcou uma reunião com uma comissão do movimento para ouvir as propostas e chegar a um acordo. A reunião teve duração de mais de 12 horas e conquistas importantes foram alcançadas.

Para entender o histórico dessa luta e o panorama atual, conversaram com o site oficial da UNE o secretário do Conselho Estadual de Juventude, Gardiê Silveira; o diretor da UNE no Piauí, Cássio Borges; e o integrante do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal do Piauí, Eduardo Alemão. Confira a entrevista a seguir:

QUANDO EXATAMENTE COMEÇARAM AS MANIFESTAÇÕES #CONTRAOAUMENTO?

EDUARDO ALEMÃO: Em maio de 2011, o movimento ganhou corpo quando várias manifestações aconteceram e o prefeito congelou o preço da passagem até agosto. Nesse mês, foi autorizado o aumento de 10,53%, com forte repercussão nas entidades estudantis e nos movimentos sociais, bem como nas redes sociais. Daí, mobilizamos os estudantes em uma semana de manifestações na Avenida Frei Serafim. No dia 2 de setembro do ano passado, o prefeito anunciou novamente a redução para o valor inicial: R$ 1,90, e afirmou que só iria aumentar a passagem com a realização de uma auditoria na planilha das empresas de ônibus e com a implementação da integração. Esse aumento aconteceu no dia 2 de janeiro de 2012, quando realizamos novamente uma série de manifestações, pois o sistema de integração implantado pela prefeitura não contemplava a sociedade, principalmente por cobrar duas passagens.

CÁSSIO BORGES: No ano passado, um conjunto de entidades dos movimentos sociais do Piauí se reuniram no intuito de pautar a prefeitura de Teresina para o congelamento do preço das passagens de ônibus naquele ano. Fomos recebidos pelo prefeito e na reunião ele se comprometeu em analisar o pleito e só cogitar o aumento após a realização de uma auditoria no sistema. Infelizmente, o prefeito assinou o aumento de R$1,90 para R$2,10, o que gerou bastante descontentamento à população e às entidades que não esperavam aquela atitude, tendo em vista o compromisso firmado.

QUAL É O HISTÓRICO DE LUTAS EM DEFESA DE UM MELHOR TRANSPORTE PÚBLICO EM TERESINA?

EDUARDO ALEMÃO:  Há mais de vinte anos, a luta pela melhoria do transporte público em Teresina é uma bandeira dos movimentos, assim como a garantia da meia entrada, a garantia dos 120 vales estudantis mensais -que queriam reduzir para 60 em 2001- a implementação da bilhetagem eletrônica e a gratuidade do cartão eletrônico aos estudantes em 2003. Em janeiro de 2009, os estudantes e alguns movimentos sociais de Teresina realizaram uma atividade em protesto ao aumento de 10% no preço das passagens de ônibus da capital, que passou de R$ 1,65 para R$ 1,75. Fizemos um acampamento de 24 horas em uma das avenidas mais movimentadas da cidade, a Frei Serafim. Várias audiências públicas foram realizadas na Câmara de Vereadores para tratar da planilha da tarifa, os problemas enfrentados no trânsito caótico, a licitação das linhas dos ônibus que eles ampliaram de 5 anos para 15, sem a aprovação e consentimento do movimento popular que apresentava outra forma de integração.

CÁSSIO BORGES: A pauta dos transportes públicos sempre esteve na pauta do movimento estudantil piauiense. Tenho relatos da década de 1980 na qual houve grandes mobilizações na UFPI. Recordo-me muito bem quando a prefeitura, na gestão de Firmino Filho (PSDB), queria reduzir a quantidade de passes estudantis (meia-tarifa) de 120 para 60 passes/mensais e os estudantes foram às ruas por uma semana e ocuparam a Câmara de Vereadores não permitindo a retirada deste direito. Quando estudava no CEFET/PI, e a partir de lá me engajei no movimento estudantil, participei de várias mobilizações contra o aumento da passagem e me marcou muito a mobilização feita pela União Municipal dos Estudantes Secundaristas (UMES-Teresina), quando a prefeitura queria implementar o Sistema de Bilhetagem Eletrônica e nós fomos às ruas dizer que os estudantes não iriam pagar pela implantação deste sistema, e, assim, todos os estudantes receberam seu cartão eletrônico gratuitamente. Já como coordenador do DCE da UFPI fizemos acampamento no passeio da Av. Frei Serafim (palco das manifestações atuais) pela qualidade nos transportes coletivos de nossa cidade, realizamos um abaixo-assinado que coletou mais de 5 mil assinaturas, para que houvesse ampliação das linhas de ônibus na UFPI e saímos exitosos. Foram ampliados o percurso de algumas linhas para atender a demanda de novos bairros, e outras foram estendidas para passar na UFPI, pois a cidade está crescendo e foi necessário para atender às necessidades dos estudantes. Então, percebam que esta luta sempre existiu e vai continuar existindo no coração da juventude piauiense.

ALÉM DOS ESTUDANTES, QUEM MAIS APOIA AS MANIFESTAÇÕES?

GARDIÊ SILVEIRA:  Primeiro vale registrar que existe um enorme respaldo popular ao movimento #contraoaumento e que, embora alguns setores sociais não participem das lutas nas ruas, percebemos que estão atuando nas redes sociais e nos meios de comunicação. Já nas ruas percebemos um gigantesca amplitude de manifestantes, dentre eles os estudantes, trabalhadores, integrantes do movimento popular, artistas (poetas, músicos, artistas plásticos), intelectuais e professores.

FORAM PUBLICADAS ALGUMAS NOTÍCIAS NA GRANDE IMPRENSA ACUSANDO OS ESTUDANTES DE VANDALISMO E DEPREDAÇÃO DO PATRIMÔNIO PÚBLICO POR TEREM COLOCADO FOGO EM ÔNIBUS. ISSO REALMENTE ACONTECEU? POR QUÊ?

Gardiê Silveira: Aconteceu, porém são atitudes isoladas dentro da manifestação. Geralmente os atos começam por volta das 9 horas da manhã e se estendem até as 19 horas da noite, ou seja, são 9 horas interruptas de protestos. A imprensa, ao fazer a cobertura das manifestações, acaba por enfatizar aqueles 10 minutos de tensão, ao invés de fazer uma análise mais completa e justa com as intenções do movimento. Avaliamos que essa é uma atitude desleal ao jogar a opinião pública contra o movimento, até porque geralmente quando ocorrem momentos de tensão esses são motivados pela forma truculenta com que a Polícia Militar do Piauí vem tratando o movimento.

QUAL A SUA OPINIÃO SOBRE A COBERTURA QUE A GRANDE IMPRENSA FEZ DAS MANIFESTAÇÕES?

GARDIÊ SILVEIRA: No caso especifico das manifestações em Teresina foram positivas. Através da veiculação das notícias em rede nacional, o Brasil teve conhecimento das atrocidades e práticas arbitrárias que estavam acontecendo aqui. Isso nos deu fôlego e armas para enfrentarmos os poderosos que manipulavam os meios de comunicação local e ocultavam a realidade.

A POLÍCIA REPREENDEU VIOLENTAMENTE OS PROTESTOS, O PREFEITO SE MANIFESTOU EM RELAÇÃO À VIOLÊNCIA?

EDUARDO ALEMÃO: A secretária de Transporte, Alzenir Porto, deu uma declaração em um dos sites locais: “não tem negociação e a polícia vai ter muito trabalho”. O prefeito nunca se manifestou com relação à violência, disse sempre que a polícia estava fazendo o trabalho dela.

CÁSSIO BORGES: O prefeito não destacou sua posição sobre a forma violenta de atuação da polícia, pelo contrário, ele é tão mal assessorado que a superintendente da STRANS, Alzenir Porto, ao ser questionada em uma entrevista a uma emissora de televisão local sobre quem poderia resolver impasse entre a prefeitura e os estudantes, respondeu que só a polícia.

EM RELAÇÃO A ISSO, O MOVIMENTO PRETENDE ENTREGAR ALGUM DOCUMENTO PARA A COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS DA CÂMARA DOS DEPUTADOS?

GARDIÊ SILVEIRA: Já está sendo elaborado um dossiê com todos agredidos, presos, etc. Pretendemos, em parceria com a Ordem dos Advogados do Brasil – Secção Piauí – OAB, realizar uma audiência pública e trazer a deputada dederal Manuela d’Ávila, presidente da comissão de Direitos Humanos da Câmara. O movimento também já entrou em contato com Narciso Patriota, Coordenador Geral de Direitos Humanos e Segurança Pública da Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República. Enviaremos um relatório das agressões policiais e solicitaremos a anistia dos manifestantes que foram presos, para que os mesmos não respondam à processos judiciais, pois não cometeram nenhum crime.

QUE OUTRAS ESTRATÉGIAS, ALÉM DOS ATOS DE RUA, VOCÊS UTILIZARAM PARA PRESSIONAR O PREFEITO A MARCAR O ENCONTRO E PARA MOBILIZAR A POPULAÇÃO?

GARDIÊ SILVEIRA: Panfletagem com jornal dos movimentos, ofício das entidades estudantis, visita a imprensa local, conversa com vereadores e o presidente da câmara, OAB e Ministério Público, e nesta terça-feira o movimento fez a “catraca livre”, onde a população utilizou os ônibus sem pagar passagem, num movimento pacífico e irreverente.