Debate sobre mulheres discute as bandeiras de luta da UBES em defesa da emancipação feminina e o rompimento com os paradigmas do machismo. Em carta aprovada pelo Seminário, a Gestão da entidade firma suas pautas em defesa das mulheres no movimento estudantil
O segundo dia do Seminário de Gestão da UBES, que aconteceu no dia 8 de março – Dia Internacional da Mulher, reuniu integrantes da Diretoria da Executiva da UBES para debater a participação e os desafios das mulheres no movimento estudantil e sua presença nos espaços de poder. Na mesa do debate esteve a presidente da UBES, Manuela Braga, a diretora de Mulheres, Larissa Lorena, e a 2ª vice-presidente da entidade, Thaís Soares que afirmou a importância de fortalecer as discussões sobre o assunto entre os estudantes.
“É perceptível a participação das meninas no movimento estudantil, e o que precisamos agora é garantir essa paridade dentro da UBES. A escola é um espaço machista e por isso precisamos fortalecer essas discussões e debates para que possamos fazer o enfrentamento a essa realidade”, disse Thaís.
Depois de debater o uso da imagem da mulher na publicidade que cria as necessidades imaginárias dentro dos comportamentos sociais forjados pelo capitalismo, a feminilidade a que muitas estão sujeitas pela ótica machista, os estudantes da diretoria e os demais convidados tiveram a oportunidade de expor suas opiniões e acrescentar a realidade de seus estados. Em resolução, a seguinte carta foi aprovada, a qual contém as bandeiras de luta defendidas pela gestão. Veja na íntegra.
OCUPEMOS AS RUAS PELA AUTONOMIA E EMANCIPAÇÃO FEMININA
Dia 8 de março é o dia em que se lembra a luta de centenas de mulheres que morreram reivindicando justiça e igualdade. Nesse dia histórico, comemoram-se as inúmeras conquistas do movimento feminista em todo o mundo por autonomia e respeito. No Brasil, vivemos um período de grande inserção feminina na economia e nos espaços de poder, tomando como forte exemplo, a recente eleição da primeira mulher presidenta da República, Dilma Rousseff.
No ano em que comemoramos 80 anos da conquista do voto feminino no Brasil, vemos que muitos passos já foram dados, mas ainda há muito em que avançar no sentido da emancipação das mulheres. Podemos perceber que, apesar de termos muitas mulheres cumprindo papéis sociais, antes tidos como exclusivo dos homens, ainda há um forte movimento opressor por parte da sociedade, de cultura machista e patriarcal. Isso se reflete nos 30% a menos que as mulheres recebem em comparação aos homens quando realizam a mesma função no mercado de trabalho, dado que se agrava no caso das mulheres negras, que recebem, ainda, 50% do que recebem as mulheres não negras. No meio rural a situação é ainda mais preocupante: a cada dez mulheres, apenas duas tem acesso a renda.
No espaço doméstico, onde o trabalho atribuído às mulheres é invisibilizado, a opressão se reproduz por gerações, ultrapassando em muitas vezes os limites dos direitos humanos, gerando violência e impunidade; tudo isso regado a ignorância e medo. Nos espaços públicos, vemos todos os dias na mídia a imagem da mulher ser vendida como objeto de consumo, alimentando ainda mais o ciclo vicioso da dominação machista e mercantilização da vida humana.
Tudo isso se reflete na educação. A imagem da figura femina que se divulga é perpetuada em sala de aula até pelas próprias professoras que, limitadas, repetem para as crianças o que aprenderam em casa. Os meninos são estimulados às atividades de intenso convívio social (como jogar futebol), e as meninas são ensinadas a se resguardar e a cuidar (escrever com letra caprichosa, brincar de boneca). Dessa forma, temos que os meninos crescem, se tornam professores universitários, alcançando altos salários e reconhecimento, ao passo que as mulheres continuam sendo as “tias” da educação infantil e fundamental, reafirmando o papel inferior da mulher na sociedade.
Também não é raridade que, ainda em idade escolar, as mulheres engravidem. Nestes casos, encontram na escola um ambiente hostil, tomado por preconceitos e discriminação, sem espaços nem possibilidades. Muitas tem que abandonar os estudos, e as que persistem enfrentam sérias dificuldades.
O Brasil precisa adotar uma firme postura de combate ao machismo em todos os âmbitos educacionais, pois, esta é uma questão cultural, e somente a partir da educação pode ser rompida efetivamente. Precisamos de mecanismos que atinjam a raiz do problema, trabalhando a formação de professoras e professores no sentido de lidar com a condição social da mulher de forma respeitosa, reprimindo e desconstruindo preconceitos e opressões. Precisamos de uma escola mais humana e preparada para lidar com as demandas reais da sociedade, garantindo acesso e permanência das estudantes mães e também dos pais através de políticas específicas de assistência estudantil e da drástica expansão da rede de creches públicas e de qualidade pelo país. Precisamos de educação sexual que perpasse a questão biológica, e que aborde a sexualidade feminina com o respeito devido a tanto tempo a mulheres com direito a autonomia sobre o próprio corpo.
Queremos um país que se desenvolva, acima de tudo, respeitando a vida das pessoas. Precisamos de mais engenheiros, técnicos, médicos e advogados, mas essa demanda só será de fato suprida integralmente com justiça social, quando tivermos equivalente número de engenheiras, técnicas, médicas e advogadas. Só assim estaremos seguindo no caminho certo rumo a um Brasil mais democrático e humano.