Com 19 anos, a jovem estudante carioca é a nova presidenta da UBES
No bom carioquês da juventude da zona oeste do Rio de Janeiro, cabe dizer que Bárbara Melo é uma menina “na função”. Aos 19 anos, moradora da região de Bangu, filha de um pai técnico em eletrônica e de uma mãe que gastou suor para conciliar o trabalho doméstico e um curso na faculdade de direito, a nova presidenta da UBES é bate-pronto, desembolada, na fita, disposição. Estudante do pré-vestibular e recém-formada no ensino técnico, em um curso de administração, ela acredita que a vida tem acelerado o passo no caminho que a levou, em apenas três anos, da disputa na quadrilha de festa junina da escola ao movimento do grêmio estudantil, posteriormente à presidência da Associação Municipal dos Estudantes do Rio de Janeiro (AMES) e agora ao posto máximo do movimento secundarista brasileiro. “Admito que dá um pouco de medo, mas tô aí”, sorri matando no peito.
A capacidade de encarar e se dar bem com grandes desafios está na biografia recente. Como estudante de uma escola pública tradicional do bairro de Marechal Hermes, aprendeu a improvisar em uma rotina envolvendo uma hora de ônibus para chegar à aula de manhã, outra hora de tarde para ir ao estágio na Eletrobrás, no centro da capital, e jogo de cintura para ainda participar das reuniões e “corres” do movimento estudantil na cidade. Trocar de roupa e se maquiar na estação de metrô, fazer refeição com a tradicional batata frita com bacon na região da escola ou vender bijuteria entre os amigos para fazer um extra foram apenas o começo.
O clima “na função” na vida de Bárbara aumentou e muito, a partir de 2012, quando já presidente da AMES tornou-se uma das mobilizadoras do Fórum de Luta contra o Aumento da Passagem no Rio. Totalmente envolvida com um dos temas mais importantes do movimento secundarista, o passe livre, viu o Fórum tornar-se, um ano depois, um dos nascedouros da histórica jornada de manifestações de junho de 2013, em todo o Brasil. Desde então não saiu das ruas e integra, hoje, a geração de jovens cariocas que tem emendado lutas após lutas, como a campanha do caso Amarildo, a greve dos professores municipais e a mobilização pela desmilitarização da polícia militar. Na suposta trincheira de oposição caricata entre black blocs de um lado e “coxinhas” de outro, ela aponta um caminho do meio:
“Não me incluo na tática dos black blocs, apesar de achar simbólico o fato de quebrarem, principalmente, os grandes bancos privados. Há uma mensagem nisso. Por outro lado, acho perigoso o discurso dos que gritam contra todos os partidos e contra as entidades do movimento social. É errado criminalizar a política no geral porque, inclusive, os que estão na rua são políticos. Fazer uma manifestação é um gesto político”, afirma. Entre as outras lutas que encampa estão a democratização dos meios de comunicação, o combate à homofobia e o conjunto das pautas feministas. Participante do movimento da Marcha das Vadias no Rio de Janeiro, ela acredita que os temas voltados às mulheres – principalmente as jovens – estão explodindo na cidade e no Brasil. Menciona os recentes casos de suicídio de duas jovens estudantes brasileiras, após terem vídeos envolvendo sua sexualidade expostos na internet: “O problema do chamado ‘revenge porn’ é urgente, precisa ser mais debatido dentro da escola e também pela UBES”, acredita.
No que diz respeito à educação pública brasileira, a grande bandeira da entidade, Bárbara espera que o movimento educacional passe a discutir, com mais afinco, qual é o papel do sistema de ensino na atualidade. “Comemoramos algumas vitórias como a conquista dos royalties do petróleo para a área da educação, mas precisamos saber como e onde esse recurso deve ser investido. Qual escola queremos?”, indaga. Ela enxerga a necessidade de reformas pedagógicas e estruturais no ensino médio, grandes reajustes salariais para a classe de professores, alterações curriculares, adequação de cada sistema de ensino às realidades locais das regiões brasileiras, o fortalecimento da democracia nas escolas e a valorização de órgãos como os conselhos escolares e os próprios grêmios estudantis que, em sua opinião, estão crescendo de forma marcante no país. “O estudante brasileiro, no geral, ainda acha a escola um saco, além de achá-la ruim, e a escola não se preocupa com os anseios desses jovens.”, aponta. Segundo ela, outra prioridade de sua gestão será a campanha pela reestruturação do ensino técnico, a busca por melhorias nos institutos federais e no projeto original do Pronatec, realizado pelo governo federal.
A pauta requer fôlego, mas ela se diz otimista para o ano de 2014, que envolve grandes eventos como as eleições e a Copa do Mundo no país. Terá que conciliar as viagens e responsabilidades da presidência da UBES com a sua preparação para a universidade, onde espera ingressar no curso de administração pública. “Estou me sentindo desafiada”, descreve. O sentimento é semelhante àquele que teve na primeira disputa do campeonato de quadrilha da escola, mas Bárbara sabe que, agora, não é ela que perde ou ganha. São todos os estudantes secundaristas brasileiros.
Crédito de Imagem: Vitor Vogel