50 anos depois da madrugada em que os militares incendiaram a sede das entidades estudantis no Rio de Janeiro, a “Vigília da Resistência” homenageou os jovens que enfrentaram a repressão
Tão logo tomaram o poder em 1964, os militares destruíram um dos principais símbolos de apoio ao governo João Goulart: no dia 1º de abril daquele ano, o prédio da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) foi incendiado. Exatos 50 anos depois, o fogo voltou a crepitar no número 132 da Praia do Flamengo neste começo de madrugada, mas dessa vez as chamas eram das velas acendidas em memória aos torturados, mortos e desaparecidos durante a ditadura. O ato, chamado “Vigília da Resistência”, foi puxado pela AMES, UEES, UBES, UEE e UNE.
Juntos, os líderes estudantis participaram de um debate com o jornalista Arthur Poener e a ex-presa política Regina Toscano. “As cenas que eu vi ali não saem da minha cabeça até hoje: estudantes caídos na escada com lenços no nariz que rapidamente não fariam mais efeito, moças escondidas no banheiro e um estudante preparado para pular da janela em direção à rádio MEC. Ele quebraria as pernas, mas pularia.” As memórias são de Ivan Proença, capitão do regimento presidencial em março de 1964, que foi preso e cassado pela ditadura.
Relembrados como “heróis”, para presidenta da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, Bárbara Melo, o momento foi muito emocionante. “Relembramos os heróis do nosso povo, os que lutaram contra o período mais obscuro do Brasil, em que as liberdades foram cerceadas e que graças à esses jovens como Edson Luís, João Vasconcelos e tantos outros, não vivemos mais a ditadura”, comenta a líder estudantil.
Completando 50 anos desde o golpe de 1964, Bárbara define a permanência dessa memória e seu reflexo à juventude atual. “Hoje, nosso empenho é combater a histórica ação da polícia militar que ainda mata os jovens brasileiros, somos a geração que permanecerá se opondo à ditadura – seja ela qual for, nosso empenho é pelas reformas democráticas”, sinaliza.
Demolido em 1980, nada restou do prédio que abrigou reuniões do Centro Popular de Cultura (CPC) naqueles tempos. Mesmo assim, em respeito à memória de quem lutou contra ditadura, o último resquício daquele edifício – um portão azul, com o número 132 grafado grosseiramente – foi tomado por fotos de nomes como Vladimir Herzog, jornalista morto em 1975, Stuart Angel, morto em 1971, e Mário Prata, estudante morto em 1971, que hoje dá nome ao Diretório Central de Estudantes da UFRJ.
Ao fim, os estudantes atravessaram a rua em direção ao Aterro do Flamengo cantando os versos “Apesar de você / Amanhã há de ser / Outro dia”, um dos hinos contra a ditadura, lançada por Chico Buarque em 1970.
Da Redação com informações de Leandro Resende