“Pula, sai do chão quem é contra a redução”. Foi com a provocação dessas palavras que estudantes e convidados gritaram – e literalmente pularam – para oficializar a abertura do maior encontro estudantil secundarista do Brasil, que acontece na capital federal até o próximo domingo. A luta contra a proposta da redução da maioridade penal no país foi o tema escolhido para a primeira mesa de debates do evento, reforçando a unidade que existe atualmente nos movimentos de juventude em relação a essa causa. A atividade aconteceu em uma tenda montada às margens do lago do Parque da Cidade.
Antes de pularem junto aos estudantes, os convidados falaram sobre a urgência de manter a mobilização em torno dessa pauta nos próximos meses. A presidenta da UBES, Bárbara Melo, destacou a importância do assunto: “Resolvemos trazer essa conversa logo para a abertura do Congresso, com pessoas de diversos movimentos, porque sabemos o quanto isso é central para nós”, defendeu.
O secretário nacional de juventude, Gabriel Medina, posicionou-se de maneira forte: “Estamos em luta contra o Congresso Nacional do ódio”, declarou. Ele disse que a proposta de redução da maioridade penal é a expressão dos interesses de financiadores de campanhas ligados à indústria armamentista e ao sistema privado de segurança pública no país. “Nossa realidade é a de morte de 33 mil jovens negros por ano e eles querem massacrá-los ainda mais. Essa é uma situação de guerra”, disse.
Já a presidenta da UNE, Carina Vitral, ressaltou que o momento de retrocessos do legislativo brasileiro representa a reação dos conservadores às conquistas dos movimentos nos últimos anos. “O projeto de lei da redução da maioridade penal é a resposta deles contra as nossas conquistas, é a reação à unidade do movimento social que se construiu no último período, é a expressão do atraso contra os avanços”, afirmou.
Ela lembrou que foram os movimentos de juventude contrários a redução que causaram a primeira derrota do presidente da Câmara Eduardo Cunha, responsável pela ascensão do conservadorismo no Congresso e hoje ameaçado por graves denúncias de corrupção.
Um dos principais movimentos que surgiram no último período, o Amanhecer Contra a Redução, foi representado por Rowena Almeida, que defendeu a ampliação da luta em direção à garantia de direitos da juventude pobre e negra das periferias.
Há mais de 100 anos a escravidão foi abolida, mas os resquícios continuam. Nossa briga precisa também ser contra as revistas vexatórias no sistema sócio-educativo desses jovens, pelo acesso deles ao esporte, à educação, à cultura, pela vida dessa parcela da população.
A proposta de redução da maioridade penal no Brasil foi aprovada pela Câmara dos Deputados e seguiu para o Senado Federal. O tema continuará em debate nessa quinta-feira no Encontro de Negros e Negras da UBES, dentro da programação do Congresso.