A luta pelo transporte público e de qualidade para a juventude é uma das mais antigas na União Brasileira dos Estudantes Secundaristas. Desde a revolta dos bondes, em 1956, até os dias de hoje, o movimento estudantil se mobiliza incansavelmente para mudar as regras desses sistema. Por isso, o debate sobre o tema no 41º Congresso da UBES, em Brasília, foi um dos mais movimentados. Aleḿ de trocarem pontos de vista sobre a difícil realidade de quem usa o transporte no país, jovens e convidados apontaram alternativas.
O prefeito de Maricá Washington Quaquá (PT) apresentou a experiência do município com a implantação da tarifa zero para a população, a partir do reordenamento de impostos e prioridades da gestão. Segundo ele, é necessário entender o transporte como um direito fundamental no Brasil: “Assim como passamos pelo processo de criação da nossa saúde pública, educação pública, temos que avançar para uma concepção muito mais pública do transporte que, apesar do nome, foi sequestrado por um grupo de empresas de ônibus”.
Segundo ele, tal medida seria possível a partir de um novo planejamento tributário, envolvendo impostos como a Cide, e com a construção de uma arrecadação progressiva: “A carga tributária do país é absolutamente injusta, não seria difícil custear o transporte de graça em todo o território nacional”, defende. Os reflexos da medida em Maricá, segundo o prefeito, têm sido transformadores para a forma de pensar e usar a cidade.
O diretor de Relações Internacionais da UBES, Rafael Araújo, problematizou a questão envolvendo deslocamento e cidadania para os jovens: “Moro na cidade do Rio de Janeiro, considerada a cidade maravilhosa. Mas ela é maravilhosa para quem? O jovem da periferia precisa pagar sete reais para chegar à praia, para ir a um teatro, a um cinema. Essa cidade não é aproveitada pela maioria dos seus cidadãos”, protestou.
Já Fabiana Amorim, diretora de movimentos sociais, lembrou a importância de vincular o debate do transporte com a garantia de outros direitos, citando por exemplo a questão de gênero e da violência contra a mulher. “O transporte público é um espaço de grande opressão às mulheres, assédio, estupro, e quase não temos políticas pensadas nesses sentido”, opinou.
Outra questão lembrada durante a conversa foi a necessidade de garantir uma reforma política no país sem o financiamento privado de campanhas, para evitar as relações de interesses entre empresários do transporte e políticos financiados por suas empresas.