Por essa o governador Geraldo Alkmin não esperava. Acostumado a passar por cima dos interesses da juventude quando lhe interessa, o tucano está tendo que enfrentar agora a força da Primavera Secundarista.
Desde a semana passada, pelo menos 39 escolas públicas da rede estadual — no interior e na capital — já foram ocupadas por estudantes, pais e professores contra a (des)organização escolar anunciada por Alckmin.
Durante o seu 41o Congresso, que se encerrou no domingo 15 em Brasília, a UBES convocou em caráter de urgência o “Dia Nacional de Solidariedade à Ocupação de Escolas em São Paulo” para esta quinta-feira, 19 de novembro.
Para liderar este movimento, a entidade escolheu uma jovem acostumada a enfrentar a truculência do Estado. A paranaense Camila Lanes, eleita nova presidenta da UBES neste domingo, participou ativamente dos protestos contra os cortes na educação pelo governadora Beto Richa.
Camila chegou a tomar um tiro de bala de borracha na coxa durante a repressão policial às manifestações de professores e estudantes, que transformou o centro de Curitiba em uma praça de guerra.
De Brasília, a estudante foi diretamente para São Paulo e participou da ocupação de mais um colégio na manhã desta terça-feira. Com o apoio da UBES e da União Paulista dos Estudantes Secundaristas (UPES), a Escola Américo Brasiliense, na região do ABC, foi ocupada por um grupo de 80 jovens contrários ao fechamento da unidade.
“Precisamos reforçar a unidade do movimento estudantil para enfrentar os desafios que se colocam no próximo período. Vamos fortalecer os grêmios, tomar as ruas, resistir ao conservadorismo que deseja retirar os direitos da juventude. Além disso, o mais importante é dizer bem alto que ninguém fechará as nossas escolas”, declarou a presidenta recém-eleita.
No início de outubro, a Secretaria de Educação de São Paulo anunciou uma “reorganização escolar” para os colégios das rede estadual terem um ciclo único, isto é, cada unidade terá somente ensino médio, fundamental 1 ou 2.
A iniciativa contou com o repúdio de toda a comunidade escolar: estudantes, pais e professores realizaram diversos protestos em todo o Estado num movimento que ficou conhecido como“Não Feche a Minha Escola”. Algumas manifestações foram violentamente reprimidos pela Polícia Militar.
Desde o início, a UBES e a UPES tem se posicionado contra o fechamento das escolas e cobrado uma posição do governador. A presidenta da entidade paulista, Angela Meyer, chegou a questionar Alckmin pessoalmente sobre os cortes, contudo não obteve resposta (o vídeo viralizou nas redes, você pode vê-lo aqui).
No início de novembro, no entanto, Alckmin anunciou o fechamento de 94 escolas: 25 estão na capital, 30 na Grande São Paulo e 39 no interior — afetando mais de 1 milhão de alunos.
Na surdina, o governador tem aumentado a faca. A Escola Estadual Martin Egídio Damy, na Brasilândia, zona norte da capital, terá o seu ensino médio fechado, apesar do colégio não constar na lista oficial. A instituição está ocupada pelos estudantes desde esta segunda-feira.
Para pôr fim às ocupações, a polícia chegou a cortar a energia e a água de algumas unidades e invadiu a escola José Lins do Rego, na zona sul, agredindo estudantes e professores. A Primavera Secundarista tem contado com o importante apoio de movimentos sociais, como o MTST, na manutenção das ocupações.
A reintegração de posse das escolas está suspensa pela justiça.