Aconteceu no último dia 12 de junho, em Belo Horizonte, o 25º Congresso da Associação Nacional de Pós-Graduandos, entidade que representa os estudantes da pós-graduação de todo o país. O evento teve início na sexta-feira (10) e contou com a participação de mais de 600 representantes de diversos estados. Ao final do evento, foi reeleita presidenta da entidade a goiana Tamara Naiz, que representará os pós-graduandos brasileiros pelos próximos dois anos.
A chapa de Tamara, “Vamos à luta: ANPG é pra lutar”, recebeu 188 votos de um total de 229 delegados credenciados. Concorreu também a chapa “Amanhã Será Maior: Oposição de Esquerda na ANPG”, que obteve um total de 41 votos. Tamara é a décima mulher à frente da ANPG e a primeira reeleita em 30 anos de história da entidade.
“Tivemos um congresso vitorioso, que conseguiu fortalecer o nosso movimento e que mostrou a nossa capacidade de organização. Os desafios do próximo período serão grandes e precisamos da unidade dos pós-graduandos das universidades de todo país”, afirmou, em referência à luta contra a tentativa de golpe no país.
Para o vice-presidente da ANPG, Cristiano Flecha, a entidade está cada vez mais próxima das lutas dos movimentos sociais e dos trabalhadores “Após este Congresso, devemos seguir em direção a construção de uma greve geral nas universidades brasileiras”, defendeu.
Ao longo do Congresso foram realizados um total de 13 debates com temas envolvendo o papel da ciência na sociedade, as políticas educacionais no Brasil, a integração da América Latina, os Direitos Humanos, a saúde pública, a inovação tecnológica. Foi também realizada uma mostra científica, com dezenas de trabalhos de universidades de todo o país e um ato político com a participação de diversas organizações populares.
QUEM É TAMARA NAIZ
Nos últimos dois anos, uma jovem voz feminina tem tomado o microfone nas principais manifestações do movimento social brasileiro para falar em nome dos 300 mil pesquisadores e pesquisadoras do país. Ao invés do imaginado protocolo ou da morosidade de um discurso científico, tem trazido uma mensagem enérgica.
Quase sempre ao lado das outras presidentas do movimento estudantil brasileiro (Carina Vitral da UNE e Camila Lannes da UBES), a goiana Tamara Naiz, 31 anos, mestranda da área de História Econômica da Universidade Federal de Goiás defende o crescimento e a massificação do movimento de pós-graduandos, representando todos os estudantes dos programas de mestrado e doutorado no país.
“A ANPG precisa ser uma organização popular, contrariando a ideia de que a ciência e a academia são espaços fechados, inacessíveis. A luta da pós-graduação está diretamente ligada ao futuro do país, está ligada à vida de absolutamente todas as pessoas”, define. Ela acredita que a mobilização dos pós-graduandos é vital neste momento de ataques à democracia nacional. “Somos o movimento social daqueles que produzem conhecimento, que formam opinião, que podem fazer uma grande diferença contra o golpe”, ressalta.
A primeira gestão de Tamara, iniciada em 2014, conseguiu vitórias importantes no país, tanto nas pautas específicas da pós-graduação como em conjunto com os movimentos ligados à educação. Entre elas, estiveram a aprovação do Plano Nacional de Educação, com a conquista dos 10%do PIB para o setor, as cotas raciais na pós-graduação por meio de uma portaria do Ministério da Educação, a mudança nas regras da revalidação dos diplomas de estrangeiros no Brasil e o avanço da luta pelos direitos específicos dos pós-graduandos.
Para a nova gestão que se inicia, além da resistência ao golpe, a entidade enfrenta o retrocesso nas políticas públicas e já encampa, com todas as forças, a mobilização pela volta do Ministério da Ciência e Tecnologia, extinto com o governo interino de Michel Temer. Segundo a presidenta, outros temas de prioridade máxima são o enfrentamento ao machismo e assédio nas universidades brasileiras, o fortalecimento das mulheres, negros e LGBT na academia e a busca pela assistência estudantil na pós-graduação.
Artênius Daniel, de Belo Horizonte
Foto: Guilherme Bergamini