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UBES lança o Circus, Circuito de Cultura Secundarista

Um novo marco para a cultura estudantil foi oficialmente lançado durante o 42º Congresso da UBES, em Goiânia. Estudantes e artistas reunidos na Praça Universitária no último dia 30 (quinta), se reuniram para criar o Circuito de Cultura Secundarista (Circus). O projeto se estenderá como uma rede das diversas expressões artísticas realizadas nas escolas pelos alunos, nas áreas da música, teatro, artes visuais, cinema, literatura, artes plásticas e todas as linguagens.

A atriz e diretora de cinema Ana Petta, que já foi diretora da UBES, destacou a importância do circuito ser lançado após a onda de ocupações de escolas nos últimos dois anos: “De norte a sul do país, as ocupações foram também uma ação cultural, uma ação simbólica. A geração de vocês não quer apenas melhorar a educação, quer mudar os comportamentos, os valores, construir uma escola utópica, sonhar com ela de várias maneiras diferentes”, afirmou.

Ana Petta: “A geração de vocês não quer apenas melhorar a educação, quer mudar os comportamentos, os valores”

Outro convidado muito celebrado pelos secundas foi o rapper Flávio Renegado, que relembrou o seu passado no movimento estudantil e exaltou a iniciativa dos secundaristas se organizarem também por meio das manifestações artísticas.

“Com esse circuito vocês podem construir, na verdade, uma contra cultura para enfrentar o quê está aí. Eles dizem que a periferia não pode cantar, mas ela inventa o funk. Eles dizem que só existe um jeito de amar, mas a juventude ama quem ela quiser. Essa é a forma de construir uma nova escola, porque nós sabemos que os nossos heróis não estão nos livros de história”.

Renegado: “Eles dizem que a periferia não pode cantar, mas ela inventa o funk. Eles dizem que só existe um jeito de amar, mas a juventude ama quem ela quiser. Essa é a forma de construir uma nova escola.”

Os secundaristas também receberam o apoio do Circuito Universitário de Cultura e Arte da UNE (CUCA), que a partir de agora será um movimento irmão do Circus pelo Brasil. A coordenadora geral do CUCA, Camila Ribeiro, mandou um salve para os secundaristas: “A cultura é uma ferramenta para formar a humanidade, para fazer as pessoas se reconhecerem simbolicamente. A iniciativa do Circus é nevrálgica nesse sentido, porque mobiliza os estudantes das escolas, das ocupações, o que é mais do que fundamental no momento de agora”, disse.

Durante o encontro, foi lido também o manifesto do Circus. Leia a íntegra abaixo

Por Artênius Daniel, de Goiânia
Fotos: Léo Souza

Manifesto do CIRCUS – Circuito Cultural Secundarista

Esse é o circuito de quem quer uma outra escola, criativa, diversa e libertadora. Somos estudantes de todas as artes e todas as partes. Norte com sul, leste com oeste. Morro com asfalto, sudeste com nordeste.

Em cada estado e em cada cidade, resiste a nossa identidade de um país rico em diversidade. Cada canto uma realidade, cada realidade uma cultura, imagina se formos amordaçados? Já passamos por uma ditadura, e ficou mais do que provado, que o povo não aceita calado, e aposta na organização, para conquistar a consciência, pois sabe que só traz transformação a “rebeldia com consequência.”

Temos belos sonhos, e por eles lutamos, tem quem deu sua vida por esse país, se você nunca ouviu dizer, pergunte a um estudante que ele te diz, pois tem na história em quem se inspirar, lutar e honrar, ao exemplo de Edson Luis, assim como nós seu sonho era simples, apenas poder ver seu povo livre e feliz

A nossa batida é pesada. Bate no peito e no grave da caixa, no ritmo do nosso show. No flow. O nosso close é aberto, para registrar geral e mostrar quem está na pista. Olha lá. É secundarista.

Bafo. Secundaristas, na função e criação. Ideia na cabeça, câmera ou celular na mão. Secundaristas fazendo arte, fazendo meme e revolução. Secundaristas mudando o mundo, lutando, cantando, rimando, inventando e descendo até o chão.

A nossa cultura é criminalizada, mas no teatro da vida somos protagonistas e sempre daremos a nossa resposta.

“A vida é um palco
Eu não interpreto
Tudo que canto, danço
Que eu berro
Vem de dentro”
– Yngrid Manarina

Cultura é viva, é brisa, poesia da vida e circula na gente. Eu sei que você sente. Nas nossas veias há sangue, tinta de aquarela e de latão de spray. Se é pra tombar, tombei. Mas se é pra ousar, pixei.

Os golpistas tentam nos passar a rasteira, mas se esquecem que somos bons de capoeira, no nosso gingado vocês vão se perder, e não venham entrar em desespero quando saírmos em carnaval para ocupar o poder e conquistar o direito de poder sambar e sonhar o ano inteiro!

“Como o choro
Que brotam dos olhos
Fasso da avenida meu palco
Junto com milhões de povos
Que ecoam em uma só voz”
– Yngrid Manarina

Vamos acabar com o enredo da escola onde nada é atrativo, onde falta qualidade e eu me desmotivo, onde falta democracia e o incentivo para expressar o que há de mais criativo no nosso coração, que triste bate quando vemos a desvalorização da produção da nossa arte, e todo o descaso e sucateamento, de uma ¬escola que não nos forma para o dia a dia.

Educação e cultura não são mercadoria. E não adianta tentarem nos amordaçar, ou nos censurar, construímos um novo tempo, incentivando o pertencimento, afinal a gente já provou, eles disseram que a escola não era nossa e a gente ocupou, e servimos de inspiração, para um povo desacreditado, pois renova-se a esperança de construir uma nova sociedade, onde caibam todas as expressões de linguagens.

Vamos espalhar a cultura então, da Amazônia ao sertão, seja no campo ou na cidade, temos convicção, e podemos garantir que ganharemos a consciência de toda a população quando tivermos a escola dos nossos sonhos para garantir o futuro da nossa geração.

Rap, fotografia, dança, rock, cinema, artes plásticas, funk, slam, estêncil, poesia, grafite, teatro, carnaval, sinfonia, sarau, balada, vernissage, vídeo-mapping, malabares, passinho, webart, ilustração, artesanato, serigrafia. Os circos da juventude são muitos.

“E mesmo alegre
sai chuva pelos meus olhos
Me lembro de tantos
Que caminharam antes de mim
Lutaram
Doaram suas vidas
E a eles devo a liberdade”
– Yngrid Manarina

“O mel da mocidade é o fel dos governantes, melhor ocupar a cidade(…)’’
Pra quem sempre vive ás margens, o refúgio vem da rua. E acesso à cidade tem que ser prioridade, passe livre no busão para ocuparmos a cidade.

Nosso nome é povo na rua, e sabemos que não é à toa, é na rua que conquistamos muitos direitos, recitamos nossos poemas e seguimos atuando da forma mais verdadeira, nada de texto decorado à mando de ditador.

Vamos democratizar a mídia e ampliar nossa comunicação, colorimos a cidade com as cores da primavera secundarista e não tem prefeito que tenha tinta o suficiente para deixar nossa juventude cinza. Todo final de semana, é a mesma história, no jornal mais um bandido que foi morto por ser suspeito de sabe-se lá o que dessa vez, na quebrada mais um Silva foi curtir o baile e sua vida perdeu, na escola mais um irmão que teve o futuro interrompido pela repressão.

Cantaremos todas as vozes
A voz de Natália Alves de Oliveira
A voz de Edson Luís
A voz de todos os estudantes
Que morreram correndo do medo
E na esperança da construção
De uma nova sociedade
– Desconhecido

O Circuito Cultural Secundarista é soma pura. Cola mina, cola mana, cola favela e tem amor. Todas cenas e linguagens, respeito e voz para cada cor.

Da vida loka ao picadeiro, vamos juntar o Brasil inteiro.

O circo é nosso. Do nosso jeito. E se quiser chegar então chega direito. Vem com tudo e compartilha. Sonha com a gente e bota ainda mais pilha.

Afinal, luta é festa, e não têm hora pra acabar.

Circuito de Cultura Secundarista
Goiânia, 30 de novembro de 2017