“Os meus professores foram as pessoas que mais me inspiraram na vida para tomar decisões. Eles não formam nosso pensamento, mas ajudam a gente a se conhecer”, dizia emocionada Ana Beatriz Moreira, de apenas 16 anos, ao participar de ato de paralisação do docentes de escolas privadas em São Paulo, nesta quarta (23/5). Ela era uma das muitas estudantes que seguiram em apoio junto aos profissionais na manifestação.
Em geral, os jovens das escolas particulares presentes concordavam que o reconhecimento profissional é muito pouco em relação à importância dos professores. O ato no vão do Masp teve como reivindicação a quebra de uma convenção firmada com o sindicato patronal do estado há 20 anos, com alguns direitos como não haver demissões no meio do semestre, recesso de 30 dias no fim do ano e direito à educação para até dois filhos. (leia mais)
A desvalorização da profissão tem desencorajado os adolescentes brasileiros a seguir também a carreira na área da licenciatura, mas Ana Beatriz, a jovem do Madre Cabrini, insiste em querer lecionar História no futuro. Graças aos exemplos que teve em sala de aula.
Lorena Coimbra, sua colega de escola, também exaltava sentimento de gratidão: “Hoje um professor não tem essa profissão por causa do status ou dinheiro. Sem dúvida é pelos outros, é uma das profissões mais lindas que tem. Mas pouco respeitada”.
“Hoje um professor não tem essa profissão por causa do status ou dinheiro. Sem dúvida é pelos outros, é uma das profissões mais lindas que tem. Mas pouco respeitada”
Aos 18 anos, Lorena acha que o fato de seus professores estarem lutando pelos direitos deles e “principalmente dos que virão depois” é um ensinamento de coragem e cidadania. “O professor é sobretudo um transformador, tem o poder de transformar a vida de uma pessoa. E tem que ser um provocador”, reflete.
Enquanto apenas 18% dos brasileiros matriculados no ensino básico frequentam escolas pagas, na capital de São Paulo esta modalidade é bem maior: representa 34% dos estudantes paulistanos. Cerca de 40 colégios participaram da paralisação. Muitas escolas pela cidade, em diferentes bairros, também realizaram atividades, aulas públicas e rodas de conversas, além do ato na avenida Paulista. Os estudantes ainda assinaram esta carta em apoio à mobilização.
A mobilização em escolas privadas do estado de São Paulo acontece de forma inédita logo depois da greve das privadas de Minas Gerais.
Para o professor Ademar Mendes de Souza, do colégio Giordano Bruno, um dos presentes na manifestação, “isso mostra a gravidade do quadro nacional”.
Ele explica que a reforma trabalhista promovida no ano passado pelo governo federal endossa a postura das empresas de educação: “Logo que a reforma foi colocada, nós avisamos que isso aconteceria. Que os trabalhadores ficariam na instabilidade e perderiam garantia de direitos”.
A entrada da Kroton, maior grupo privado de ensino do mundo, na educação básica, é mais um sinal de que a educação particular corre risco de se transformar cada vez mais numa mercadoria e lucro, esvaziada de sua função social.