A cada quatro minutos, uma mulher é agredida por um homem no Brasil. Em 2018 foram 145 mil casos de violência, segundo o Ministério da Saúde, sem contar as 1.173 mulheres que morreram vítimas de feminicídio. Estes dados alarmantes foram discutidos e analisados no 5º Encontro Nacional de Estudantes da UBES, durante a mesa “Pelo direito de viver: mulheres em luta pelo fim da violência e do feminicídio”.
Ali naquela sala da Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, essas informações não eram apenas números. Os dados tinham rostos, vivências, dores e lutas. Várias meninas que participaram do debate aproveitaram o momento de interação para compartilhar relatos pessoais doloridos, se acolher e, principalmente, somar sonhos, força e a vontade de mudar esta realidade.
“Nessa conjuntura do Brasil, é ainda mais importante que, em vez de nos vermos como rivais, a gente consiga se unir para reerguer o país”, convocou Débora Nepomuceno, vice-presidenta da UBES, após falas sobre vários tipos de violência: física, sexual, psicológica.
A atividade aconteceu na sexta-feira, 18/10. Além da Débora, participaram da mesa a professora e militante Yara Gouvêa, a delegada Samira Fales, a representante da União Brasileira de Mulheres (UBM) Keith Cristine e a vice-presidenta da UNE Regina Brunet.
A delegada Samira Fales trabalhou em uma Delegacia da Mulher por dois anos e explicou que este tipo de instituição foi criada para evitar que a vítima de violência sofresse uma segunda violência, por parte do Estado, ao registrar sua queixa. É muito comum que profissionais sem preparo façam perguntas indevidas para a vítima.
Débora, da UBES, compartilhou uma situação assim: “Minha mãe, quando foi fazer o exame de corpo de delito, foi perguntada pelo delegado o que tinha feito para acontecer isso. Hoje eu sei o que ela tinha feito: fugido do machismo dentro de casa acreditando em um ‘homem salvador da pátria.’ A gente tem que romper com estes padrões, saber que temos outros caminhos. Parar de nos culpar pelas violências que sofremos”.
Na opinião da delegada Samira, nem o aumento da pena para feminicídio, nem o armamento da população são respostas para os números de violência e mortes, na maior parte das vezes causadas por conhecidos das vítimas.
Ela apontou a educação e circulação de informação como propostas de combate a estes tipos de violência: “Não fico feliz quando vou atender uma mulher vítima de violência doméstica, pois o Estado já falhou. Fico mais feliz de vir conversar com vocês, estudantes.”
Regina Brunet, da UNE, explicou como a existência da violência contra mulheres é prejudicial para todas, pois é uma forma de controle dos comportamentos pelo medo. Todas as mulheres, mesmo as que nunca sofreram violência, já deixaram de fazer coisas pelo medo.
Ela propôs alguns caminhos de mudanças, como desnaturalizar as violências, quebrar o isolamento das mulheres, conversando umas com as outras, e educar cidadãos conscientes. Todas as convidadas acrescentaram que a educação sexual pode contribuir para que meninas identifiquem abusos e violências.
“Se não nos voltarmos para as causas, nós não conseguimos saber quais podem ser os instrumentos para a luta contra a violência e o feminicídio”, disse Yara, destacando que o contexto político atual se relaciona a um aumento do feminicídio.
Para ela, está claro que as autoridades do país instigam a população a se armar, e que isso ajuda a inflar os índices de feminicídio, não o combate a ele. Ela acredita ainda que a figura do presidente Jair Bolsonaro se relaciona com uma “masculinidade tóxica”, que se vê superior ao gênero feminino.
Yara chamou atenção para a “arminha” que Bolsonaro utiliza como símbolo e sua relação com o órgão sexual masculino: “Temos como maior mandatário do país um homem que faz questão de ressaltar o símbolo fálico como objeto de poder. A arminha é um símbolo fálico”.