Comentários sobre o corpo ou a roupa, brincadeiras preconceituosos, toques sem consentimento… essas são situações que, infelizmente, fazem parte do cotidiano de muitas estudantes dentro de suas próprias escolas. São casos de assédio que partem de companheiros de sala de aula e, muitas vezes, dos próprios diretores, professores e funcionários.
Como não existem dados sobre este tema, a diretoria de Mulheres da UBES lançou em 2018 uma pesquisa para tentar entender o que vivem as meninas dentro de suas escolas. Entre as 203 estudantes que responderam, 65% disseram já ter sofrido assédio.
O dado alarmante é que quase metade delas (48%) acusam os professores. A pesquisa foi respondida voluntariamente pela internet, por meio de um formulário divulgado nas redes sociais da UBES e em grupos de estudantes no WhatsApp.
“A escola está incluída na sociedade, então é natural que reproduza os mesmos padrões. Mas é também na escola que podemos começar a mudar estes comportamentos. Discutir isso e despertar consciências é o papel da escola” explica a diretora de Mulheres da UBES, Maria Clara Arruda. Para ela, é essencial que debates sobre machismo estejam presentes no ambiente escolar, seja na sala de aula, seja por ações do grêmio.
Julienne da Silva, secretária-geral da UBES, comenta sobre um paradoxo atual:
“Tenho percebido que entramos num momento em que pessoas se sentem tranquilas para serem machistas, racistas, homofóbicas. Ao mesmo tempo, as meninas têm se mostrado mais instruídas, conhecem situações machistas e não pensam duas vezes para se posicionar, denunciar, opinar”.
ALGUNS RELATOS
“O professor passou a mão na minha coxa durante a aplicação de uma prova.”
“Diretor fica mandando mensagem de ‘linda’ pelo Instagram.”
“Andava em um dos corredores do colégio quando escutei coisas bárbaras sobre meu corpo.”
“Professor no meio de uma roda de meninos da sala comentou o quanto eu estava ‘gostosa’usando uma legging.”
Movimentos contra assédio estão cada vez mais fortes em várias regiões do país, confira algumas ações recentes:
#IFORAASSÉDIO
RS, Março de 2018
A partir de algumas denúncias sem encaminhamentos, meninas de várias instituições se conectaram via WhatsApp e fizeram ações simultâneas no estado.
“Desde o crescimento do movimento feminista nos anos 1960 e 70, as mulheres estão se impondo mais, exigindo respeito da sociedade. Por isso hoje temos mais voz para dizer não”, analisa Ketheryn Fistarol, da União Catarinense dos Estudantes Secundaristas (UCES).
#ASSÉDIOÉHÁBITO
Rio de Janeiro, RJ, Agosto de 2018
O estopim foi a demissão de uma professora que defendia muitas estudantes, em uma rede de ensino particular carioca. As denúncias de assédio começaram a ser postadas no Twitter com a tag e o movimento se ampliou para várias escolas do estado, públicas e privadas.
#SUAALUNANÃOÉUMANOVINHA
Serra, ES, Julho de 2019
Depois de anos de silêncio, estudantes resolveram denunciar situações de constrangimento e opressão em um colégio na Serra, no Espírito Santo. O tema enfim foi discutido na escola onde isso acontecia.
No banheiro feminino, que tal trocar os desentendimentos por gentileza e fortalecimento? Usem post-its, deixem recados de como a união entre as mulheres pode ser forte!
Pode ser um evento para toda a escola (inclusive os homens!), com convidadas especiais e temas pré-estabelecidos, ou uma roda periódica (todo mês), onde meninas possam conversar sobre dificuldades, desafios e questões de gênero.
Algumas ideias de frases: “Assédio não é elogio”, “Depois do não, tudo é assédio”, “A escola é pública, meu corpo não”.
Em muitas escolas, o grêmio é um canal para receber denúncias de assédio e acompanhar os encaminhamentos junto à direção ou até mesmo Ministério Público, dependendo do caso.
Matéria originalmente publicada no PLUG |Revolta, leia a edição na íntegra: