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Mulher pode fazer o que quiser? Só com luta, dizem convidadas no 5º EME

“O nome da mesa é ‘Somos mulheres e podemos ser o que quisermos’, mas estamos aqui há uma hora falando das tantas dificuldades que temos para isso”, riu a advogada Thais Bernardes, ao dividir o debate nesta sexta (20/10) com a empresária Eliane Dias e a cientista Mariana Moura, com mediação da diretora de Comunicação da UBES Stefany Kovalski. A atividade fez parte do 5º Encontro de Mulheres Estudantes da UBES, na Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo.

Apesar de todos os obstáculos narrados sobre a vida profissional, as convidadas insistiram para que as estudantes, com os olhos vidrados na mesa, acreditem no seu potencial, lutem pelos espaços de poder e exijam respeito em todas as áreas. “Diante das dificuldades, lembrem que vocês são herdeiras de quatro séculos de luta das mulheres”, lembrou Mariana Moura, explicando que até o direito de entrar na faculdade só foi conquistado há menos de cem anos.

Mariana Moura, cientista: “Diante das dificuldades, lembrem que vocês são herdeiras de quatro séculos de luta das mulheres.” (Foto: Patrícia Silva)

Olhos vidrados para ouvir as experiências das convidadas (Foto: Patrícia Silva)

Teto invisível

A cientista destacou um dos obstáculos profissionais: mulheres ganham em média 15% a menos que os homens, e a diferença aumenta quanto maior a escolaridade. Isso porque mesmo as que chegam a professoras ou pesquisadoras raramente são chefes de pesquisas, dirigentes dos cursos ou universidades. Para Thaís, que é advogada da UNE e da UBES, existe um “teto invisível” difícil de ser atravessado. Mulheres são maioria na faculdade de Direito, mas minoria nos tribunais.

No bate papo, foram muitos os exemplos das participantes sobre os desrepespeitos comuns. Thais falou sobre as vezes em que teve que abrir mão para um advogado homem fazer a sustentação oral, diante de juízes, de teses que ela mesma construiu.

Eliane Dias, mulher negra, se formou advogada aos 26 anos tendo dois filhos e conhece bem todas as dificuldades envolvidas: “Dormia quatro horas por noite”. Era seu sonho desde que, aos nove, encontrou no lixo um livro de Maria Carolina de Jesus e lhe disseram que quem conhece livros são “advogados”.

Mas ela lembrou da tristeza em chegar a uma vara judicial e ser impedida repetidas vezes de acessar um processo. “Diziam: chame o advogado. E eu precisava mostrar a carteira da OAB para mostrar que EU era a advogada”.

Eliane Dias, advogada e empresária dos Racionais MCs: “Diziam: chame o advogado. E eu precisava mostrar a carteira da OAB para mostrar que EU era a advogada.” (Foto: Patrícia Santos)

Não sorrir

Mulher do músico Mano Brown, há seis anos Eliane dirige a carreira dos Racionais Mcs, mas tem consciência do quanto precisa se adaptar para impor respeito: “Nunca sorrio para os subordinados. Dizem que sou brava, e sou. Não uso roupas justas nos shows. Sei que minha luta para ocupar poder é imensa”.

Ela e a advogada Thais falaram muito sobre como desenvolveram o costume de se impor assim que chegam a reuniões ou local de trabalho, se apresentando com seu cargo. Ou se arrumando bem e muitas vezes omitindo os corpos e aparência feminina para não serem barradas pelo segurança, delegado, pela responsável do setor.

“Talvez com a geração de vocês já seja diferente. Proponho que tentem abrir espaço sem abrir mão de suas características, de se emocionar, ser empáticas, solidárias, usar batom ou brincos”, disse a Thais.


“Proponho que tentem abrir espaço sem abrir mão de suas características, de se emocionar, ser empáticas, solidárias, usar batom ou brincos.” Thais Bernardes (Foto: Lene Bento/ CIRCUS da UBES)

Para esses e outros enormes obstáculos – principalmente falta de prioridade nas famílias para a vida profissional das mulheres e acúmulo de funções domésticas – as convidadas sugeriram ampliar a luta e estar sempre atenta a outras mulheres. E também mudar o olhar comum que sempre duvida da capacidade das outras, que dá mais atenção para a visão masculina e culpa mulheres sem razão.

Elas ainda ouviram atentamente e com sorriso no rosto as colocações das estudantes, que mostraram estar dispostas em seguir esta luta. Eliane Dias conclamou: “Vamos nos acolher, respeitar nossos limites. Vamos nos ajudar. Nos preparar, estudar juntas”. E terminou, antes de pedir para tirar uma foto com toda a sala: “Ano que vem vai ser pesado, mas vamos seguir juntas. E peço a vocês, precisamos eleger mulheres negras, ou mulheres, para as Câmaras de Vereadores!”