Depois de anos de silêncio, estudantes resolveram fazer alguma coisa para denunciar situações de constrangimento e opressão dentro de um colégio na Serra, município do Espírito Santo. Além do envolvimento da Secretaria de Educação nos casos, o movimento fez com que assédio enfim fosse um tema falado e discutido na escola onde isso acontecia.
Tudo começou com cartas divulgadas na Escola Estadual Clóvis Borges Miguel pelas estudantes, em 19 de junho. Depois disso, elas passaram a usar a tag #SuaAlunaNãoÉUmaNovinha para relatar os casos de assédio em rede social.
“Eu tinha 15 anos, (…) um professor chegou e falou que minha bunda era bem gostosinha e que eu podia dar uma chance para ele, que era pra gente se encontrar fora da escola”, contou uma delas, pelo Twitter.
Se somaram na rede social vários outros relatos, de opressões vividas no mesmo colégio, por alunas e ex-alunas, além de situações parecidas em outras escolas.
Dentro da escola, o tema antes silenciado virou um grande barulho e aproximou ainda mais os estudantes, que realizaram um ato de debate em solidariedade ao movimento.
Movimentos como o das capixabas têm sido cada vez mais comuns nas escolas brasileiras para denunciar padrões machistas perpetuados na sociedade e no ambiente escolar. No ano passado, cariocas se uniram com a tag #AssédioÉHábito. Em abril, o movimento #IForaAssédio denunciou casos em Santa Catarina.
“Cada vez mais as estudantes estão compreendendo que não é normal, nem piada, nem elogio ouvir este tipo de coisa na escola. Este debate tem mesmo que estar vivo para mudar a cultura machista que naturaliza isso”, acredita Stefany Kovalski, diretora de Comunicação da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES).
Ela explica que a própria escola e o movimento estudantil podem estimular atividades que debatam padrões nocivos da sociedade, como machismo, racismo e LGBTfobia. “O ambiente escolar é espaço para desconstruir os preconceitos. Formar cidadãos é também papel da escola”, completa ela.
Buscar a direção da escola é o primeiro passo, para relatar o que aconteceu e cobrar que sejam tomadas as medidas cabíveis contra o assediador, seja ele aluno, professor ou funcionário da escola.
Além dessas providências, se for o desejo da vítima, ela pode buscar a delegacia de polícia para lavrar boletim de ocorrência, buscar o Ministério Público ou a Defensoria de sua região.
Qualquer prova desse assédio deve ser guardada, como mensagens de texto, postagens, recados, sendo que, se houver testemunhas, elas podem escrever uma declaração contanto o que viu ou ouviu.
Há ainda o Disque 100, mantido pelo Ministério de Direitos Humanos. Lá, os casos passam para uma triagem para garantir que o encaminhamento seja o mais adequado, como polícia, ministério público, conselho tutelar ou outra instituição.