Desde os “anos de chumbo” o Brasil não presenciava um cenário tão cruel e repressivo nas ruas do país. Em São Paulo, a impressão é de que a mordaça invisível do Governo toma forma física, novamente com a cavalaria nas ruas, balas de borracha, spray de pimenta, muitas bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral.
A reportagem da UBES esteve presente na mobilização dessa quinta-feira (13) para acompanhar o ato com os estudantes contra o aumento da passagem. Ao contrário do que se esperava, a tentativa da manifestação resultou em uma ação descompensada da polícia militar que, em síntese e sob as ordens irresponsáveis do governo estadual, cercou todas as saídas do ato que reunia em grande parte a juventude paulistana.
Todos integravam a passeata, livre de atos de vandalismo, como comenta a presidenta da UBES, Manuela Braga ao relembrar que “desde o início no Teatro Municipal, a passeata seguia de forma pacífica rumo a Praça Roosevelt, conforme acordado com a Polícia Militar”, relembra. Mais de 5 mil pessoas caminhavam em defesa do transporte da capital, entre eles, estudantes secundaristas, universitários, cidadãos que saíam do trabalho, pais de família e até crianças entoavam palavras de ordem como “Ooo, o povo acordou!” e “Vem, vem, vem pra rua vem, contra o aumento”.
No momento em que dezenas de homens da Tropa de Choque da PM perfilaram-se em formação de ataque, um cenário repressor de truculência instaurou-se. Na rua da Consolação, entre a simbólica rua Maria Antônia (em que estudantes das universidades do Mackenzie e USP entraram em conflito na ditadura civil-militar), e a Praça, os policiais militares iniciaram um “massacre”. Cercando as saídas da marcha que seguiu pela Rua Augusta e a Bela Cintra, o confronto se configurou em um ataque militar com manifestantes presos, feridos e sem ter para onde ir.
Para William Rosal, 25, que já participou dos últimos três atos que aconteceram em São Paulo contra o aumento, a sensação era de terror entre todos que estavam encurralados. “Desde a primeira vez que vim às ruas reivindicar pacificamente, nunca vi nada igual comparado à atitude totalmente desumana por parte dos policiais. Nos atacaram com milhares de bombas, impedindo que saíssemos do tumulto, não conseguíamos nem respirar ou abrir os olhos. Foi um cenário de horror e tensão”, conta o jovem.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que as informações e imagens que chegaram ontem (13) ao governo federal mostram que houve “extrema violência policial”, na próxima terça-feira, Haddad informou que convidará representantes do ato para participar de uma reunião extraordinária do Conselho da Cidade.
Para UBES e os estudantes não resta dúvidas que houve violação dos direitos humanos em uma ação truculenta carregada de resquícios da ditadura militar e que terão sua apuração cobrada. As entidades estudantis estudam formas de mobilizar os estudantes não apenas contra o aumento, mas também pelo passe livre, ampliação da frota e do horário de atendimento do transporte público, entre outras pautas em defesa da mobilidade urbana que deverão ser discutidas na próxima semana.
Leia aqui a Nota de CAOS E VIOLÊNCIA INSTAURADA PELA PM DE SP NO PROTESTO DESTA QUINTA