Sempre atento a responder as perguntas da equipe de comunicação da UBES, o secundarista Ivysson Luz de Souza é uma das lideranças a guiar a visita à ocupação de sua escola, a Conselheiro Crispiniano, que tem erguido no centro da cidade de Guarulhos a luta contra a reorganização.
A autonomia do estudante de 16 anos extrapolou as tarefas de organização e execução das atividades da ocupação iniciada no último dia 23 de novembro. Um dos afazeres de Ivysson, além de acompanhar as assembleias deliberativas e fazer a ronda por todo prédio é atualizar diariamente o seu perfil no facebook (que você pode acessar aqui) com os principais acontecimentos do dia a dia.
Em um dos trechos de sua publicação sobre o quarto dia de ocupação da Conselheiro, onde estuda desde 2013, o secundarista do 3º ano relata sobre a presença da polícia. “Ao descer da viatura, o cabo em questão, já deu uma ênfase em sua arma e, devagar, aproximou-se do portão, fazendo algumas perguntas e questionamentos acerca da ocupação, mas com jeitinho, fomos mudando o foco da conversa e tudo acabou num bom debate sobre futebol”.
Em entrevista, Ivysson fala um pouco mais sobre a iniciativa.
UBES: Como surgiu a ideia de criar o “Diário de um ocupante”?
Ivysson Luz: É a minha visão sobre os acontecimentos, espécie de desabado sobre o que eu sinto, presencio, vejo e ouço. Senti a necessidade de deixar todos a par do que um ocupante vê, e sinto que estou conseguindo atingir essa meta.
U: E você já contou sobre o início da ocupação?
I.L: Foi bem conturbado, fizemos uma tentativa de diálogo, mas a direção nos ameaçou e pressionou; como resposta ganhamos xingamentos, gestos obscenos da diretora contra nós. Esse foi o estopim, a fagulha necessária para iniciarmos a ocupação. Começamos então a avaliar as nossas reivindicações.
U: E como foi a organização dos estudantes?
I.L: No início todos estavam assustados, a diretoria de ensino tentando nos impedir, a polícia militar segurando fuzil. Quando as coisas apaziguaram, com a solidariedade do movimento estudantil, entidades e moradores da região, iniciamos a primeira assembleia para nos organizar. Desde então, separamos as tarefas e mantemos esse modo de organização.
U: Você já teve alguma experiência parecida como essa?
I.L: Sou chamado aqui na escola de sindicalista e revolucionário, alguns brincam dizendo que serei o primeiro presidente negro, porque gosto de tomar a frente. Esse é o jeito que encontrei de colocar essa energia pra fora.
U: Sobre a sua iniciativa nas redes sociais, você acha que pode servir como exemplo e ser um contraponto diante da mídia que tenta deslegitimar o movimento?
I.L: Sim, é uma forma de deixar tudo bem claro. Sai informações a todo o momento, e nós não sabemos em quem acreditar. Agora, estamos inseridos nessa realidade, essa iniciativa tem o propósito de garantir o nosso próprio relato.
U: Hoje, você vive e ajuda a construir a ocupação, o que você espera que aconteça de resultado, além do que já se tem alcançado?
I.L: Espero que tudo mude. Lutamos não apenas contra a reorganização, mas pela melhoria do ensino, por mais qualidade na educação e valorização do corpo docente. Esse é o nosso sonho, esse é o objetivo de estarmos aqui ocupando a escola. Como diz a musica do Vandré, “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Nós não ficamos sentados no sofá esperando um milagre, fomos pra cima, sem medo, lutamos e batalhamos. No futuro, poderemos dizer que nós estivemos lá, fomos um dos ocupantes.
Saiba mais sobre a ocupação do Conselho Crispiniano, acesse aqui.