Professor do Paraná conta as consequências da greve e os próximos passos da paralisação que chegou ao 15º dia
Com adesão de 90% da categoria, a greve dos professores do Paraná continua em um impasse. Além de não responder às reivindicações dos profissionais que pedem reajuste salarial, piso nacional e anulação do projeto de lei que altera a Paranaprevidência, o governador do Estado, Beto Richa (PSDB), tem na sua conta 213 manifestantes feridos durante o massacre promovido pela polícia militar no dia 29 de abril.
Até agora, entregaram os cargos os secretários da Educação, Fernando Xavier, da Segurança Pública, Fernando Francischini, e o comandante geral da Polícia Militar do Paraná, Coronel Cesar Kogut.
O professor de história, Arnaldo Vicente, que há 25 anos leciona nas escolas públicas, conta sobre o caminhar das manifestações. Nesta terça-feira (12), em reunião com representes do governo, o sindicato da categoria buscará novas tentativas de diálogo.
UBES: Há paralisação dos professores em pelo menos 7 estados e 4 municípios brasileiros. O Paraná, logo no início do ano foi o primeiro a deflagrar greve. Qual é a dívida do governador Beto Richa (PSDB) com os professores paranaenses?
PROFESSOR: Em fevereiro, a greve atingiu 100% da categoria, hoje calculamos algo entorno de 90%. Têm uma grande adesão. O ano letivo começou em 9 de fevereiro sob a tentativa do governador de desmontar o plano de carreira com um projeto apresentado na Assembleia Legislativa cortando R$ 8 bilhões do nosso fundo previdenciário. A tentativa dele desde o começo é extinguir o fundo, gastar o dinheiro e deixar a dívida para os futuros governantes. A greve foi até 9 março, interrompemos porque ficou pendente a questão previdenciária. Fizemos negociação no mês de abril e retomamos a paralisação no dia 27, pois o governador se comprometeu em negociar e não cumpriu, pelo contrário, atacou os professores com duas horas e meia em ato de puro terror e violência.
UBES: A desvalorização dos professores é evidente, mas como no dia a dia essa falta de comprometimento reflete na vida dos profissionais da educação?
PROFESSOR: Os 10 mil professores que estiveram no ato do dia 29 de abril, pelo menos 6 mil da rede básica de ensino, não voltarão da mesma maneira para as salas de aula. Diante das autoridades, a sensação é de uma profissão desmerecida. Mas do outro lado, estamos na luta com a greve, empenho que gera compromisso dos professores com a própria sociedade que tem nos apoiado. Ainda não sabemos como todas essas mobilizações irão impactar o cotidiano da escola. Com certeza, merecerá muitas pesquisas.
UBES: Na última sexta-feira (08), aconteceu o Julgamento Moral sobre o Massacre do Centro Cívico de Curitiba, na qual a decisão final do júri foi pela responsabilização do governador pela violência que feriu mais de 200 professores. Esse ataque contra a democracia e contra própria educação ainda deve ser protestado?
PROFESSOR: Parte da categoria está determinada a retomar as aulas caso Richa pague a inflação do período de 2014 e 2015 em uma única parcela, continuando a luta pela previdência no judiciário. Mas houve a consequência política das ações do governador, essa parcela precisa ser levada em consideração. Para essa outra parte da categoria, a greve continuará até que ele saia do governo do Estado. Fui depor no Ministério Público e lá os relatos são assustadores, há muitas pessoas traumatizadas, são mais de cem pessoas que não podem ver carros da polícia que entram em estado de desespero.
UBES: Como está a dinâmica da greve? Há atividades constantes dos professores?
PROFESSOR: Tivemos na sexta-feira (08) um ato em londrina, a segunda maior cidade do Paraná, onde mais de 3 mil pessoas foram às ruas apoiar os professores. Sábado (09), em Maringá, uma nova mobilização interrompeu a comemoração da cerimônia do município. Para essa terça-feira (12), estamos chamando um novo ato que tentará novamente um novo encaminhamento.
Suevelin Cinti, da Redação.