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O velho e novo no coração em transição de uma jovem cubana

“Através” estreia no 10º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo

Praticamente no mesmo momento em que Cuba e EUA realizam gestos concretos no processo de reaproximação das nações após meio século de distanciamento, o filme Através, dirigido pelos brasileiros André Michiles, Diogo Martins e Fábio Bardella, estreia no 10o Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo (2 de agosto, às 21h30, no Cinesesc e 5 de agosto, no Cinusp da Cidade Universitária).

A produção, feita de forma independente, mistura ficção e documentário e segue a viagem da personagem Cintia pelo interior de Cuba em busca de uma resposta se deve ou não deixar pela primeira vez o seu país.

O drama parece recente. Esta semana, Cuba e EUA abriram a porta de suas embaixadas em Washington e Havana, e este deve ser o primeiro passo para uma série de outros gestos que  devem mudar definitivamente as relações entre os dois povos, principalmente dos cubanos.

O filme foi registrado durante 45 dias entre 2012 e 2013, momento em que o presidente de Cuba, Raúl Castro, revogou a lei da “carta branca”, autorizando as viagens ao exterior sem a necessidade de permissões especiais.
Através retrata o período de transição do país e da personagem Cintia para definir o seu destino.

De acordo com os diretores, o clima de ‘abertura’ na época ainda era muito tímido. No final de 2012, quando chegaram à Ilha, era possível notar  sinais como vitrines recheadas com eletrodomésticos, pequenos shopping centers, caixas-eletrônicos e outras mudanças.

“O governo de Raul estava se adaptando com as novas necessidades da população cubana e as mudanças cada vez mais visíveis, tanto para o bem quanto para o mal. A abertura lenta e gradual é complexa, os cubanos ainda tem um longo caminho para percorrer. Mas uma coisa é certa, a riqueza cultural que eles adquiriram nos anos da revolução são uma base muito consolidada”, enxerga André Michiles.

PRODUÇÃO INDEPENDENTE

A filmagem de Através, produção da Estrangeira Filmes de baixo-orçamento tendo gasto apenas R$ 40 mil, foi feita em 10 cidades cubanas. As dificuldades começaram já no Brasil, com a autorização para entrar com os equipamentos em Cuba. A permissão só chegou perto do embarque por meio da Ancine e do Instituto Cubano del Arte e Industria Cinematográficos (ICAIC), que  também emitiu vistos de trabalho para os cineastas.

Eles contam que em Havana a produção foi maior e com mais recursos. Mas, a partir do momento em que se deslocavam e atravessavam a ilha, tudo foi ficando muito difícil e desgastante.

“Praticamente não tínhamos autorização para filmar. Então, todos os movimentos eram calculados para não chamar atenção. Foi muito peso carregado nas costas, carona, ônibus, trem, balsa, trilhas, quase uma guerra, ou melhor guerrilha, foram 45 dias filmando o novo e o velho momento que Cuba atravessa. Quanto mais a Oriente, mais difícil era para filmar, fazia um ano que o furacão Sandy tinha passado e destruído milhares de casas. Estávamos cansados, mas com a sensação de dever cumprido”, lembra Fábio Bardella.

No meio da jornada, a protagonista Cintia visita a casa dos seus avós reais na cidade de Cienfuegos. O encontro de alegria é retratado pelas lentes sensíveis dos jovens cineastas. “Foi um dos fatos mais legais, um momento bonito para quem esteve ali”, conta Bardella.

Para Diogo Martins, o filme registra um momento do país que talvez não exista mais no futuro. “Até que haja o encerramento total do embargo, o povo cubano flertará com o exterior de maneira muito particular. O imaginário criado por este exterior que é tão próximo, mas tão diferente, tão desejado, e foi por tantos anos um pecado, assombra ainda hoje seus moradores. A gente aborda isso diretamente como tema. Mas, suspeito que mesmo que não buscássemos isto, esta questão lá é tão latente que estaria impregnada qual fosse o filme. Talvez no futuro estas contradições não existam mais”, afirma.

SERVIÇO:

O que? Lançamento do longa-metragem Através

Quando? Serão duas exibições durante a programação do 10º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo. A primeira ocorre no domingo, 2 de agosto, às 21h30, no Cinesesc (Rua Augusta, 2075). Depois, haverá sessão no dia 5 de agosto, quarta-feira, no Cinusp da Cidade Universitária (R. do Anfiteatro, 181 – Butantã).

Quanto? As entradas são gratuitas e serão distribuídas 1h antes do início da sessão.

Confira o trailer:

Através – Trailer from Estrangeira Filmes on Vimeo.

Cuba passa por uma transição histórica. A recente abertura diplomática e a revogação da lei de imigração “carta blanca” em 2013 caracterizam um momento novo, de reformas e incertezas. A cubana Cintia, protagonista de Através, também está em processo de mudança para definir o seu destino. Atrás de respostas para o seu futuro, ela viaja em busca de suas origens.

Um filme de: André Michiles, Diogo Martins e Fábio Bardella.

Por Cristiane Tada, da UNE.