Com muitas apresentações artísticas e atividades culturais, mulheres de diferentes movimentos populares, sindicais, estudantis e coletivos do Rio de Janeiro e São Paulo ocuparam, na terça-feira (5), dois tradicionais espaços das cidades, o Circo Voador, clássico palco da música e da cultura brasileira, e a Praça Roosevelt, já referência das lutas do povo paulista.
Na capital de São Paulo, em clima de união, luta e solidariedade, as participantes ocuparam a Praça em defesa da democracia, ampliação de direitos e para denunciar também a violência e o machismo.
A atriz Maria Casadevall, moradora da região da Praça, fez questão de participar. (Veja aqui o vídeo)
“Eu acredito que, como pessoa pública, acho muito importante estar aqui para que a minha figura não represente só a mim, mas a todas as mulheres que não têm voz e não podem ter o seu espaço garantido na mídia. É por isso que eu estou aqui e quero dizer que eu sou altamente contra o golpe, a favor da democracia e estarei em todas as manifestações a favor da liberdade“, mandou CasadeVall.
O ato foi organizado pelo Comitê de Mulheres pela Democracia e contra o Golpe, que reúne centrais sindicais, entidades estudantis, movimentos feministas, frentes populares, artistas, professoras, comunicadoras e trabalhadoras de diversas áreas.
Teve poesia, bateria da Marcha Mundial das Mulheres, oficina de cartaz, teatro, dança, performance, músicas e leituras de manifestos. Subiram ao palco a Frente de Mulheres do Hip Hop, a Liga de Mulheres do Funk, as cantoras Luana Hansen e Preta Rara e muitas outras atrações.
A tesoureira da UBES, Stephannye Vilela, esteve presente para dizer que haverá resistência das mulheres contra o golpe.
“Unidas, fomos e continuaremos indo às ruas para defender a democracia, não vai ter golpe! A cada ato nos fortalecemos mais, mulheres empoderadas, negras, mães, filhas, jovens, secundaristas que não baixarão a guarda contra essa investida golpista”, alertou.
MULHERES NEGRAS, MULHERES GUERRILHEIRAS
Uma intervenção da União Brasileira de Mulheres (UBM) lembrou e homenageou as desaparecidas políticas que foram assassinadas pela ditadura militar. Um grupo de jovens subiu ao palco com cartazes e gritaram os nomes de Dina e outras guerrilheiras.
“As mulheres em um grande sarau democrático afirmaram a importância da liberdade, do amor e da defesa da legalidade do mandato da presidenta Dilma Rousseff. A democracia é fundamental para o avanço das lutas feministas no Brasil. Nós precisamos aprofundar a conquista dos direitos das mulheres, e isso só será possível em uma sociedade democrática que permita que mais mulheres ocupem os espaços de poder para combater o machismo, a misoginia, e toda a forma de violência contra as mulheres”, declarou Maria das Neves, coordenadora de Juventude da UBM.
A atriz mineira Tula Pilar Ferreira interpretou durante o ato trechos de livros de Carolina Maria de Jesus. Ela recitou um poema seu em homenagem à escritora. “Toda mulher negra é uma Carolina”, disse. (Veja aqui o vídeo)
Uma das participantes foi Nenesurreal, conhecida pelos grafites que faz na cidade em que retratam mulheres negras, e que diz ser fundamental a mobilização da sociedade nesse momento. “Mais do que nunca as mulheres estão se posicionando em todos os setores e, nada mais justo, do que elas estarem aqui contra o golpe. E a arte, apesar de silenciosa, manda um recado direto”, afirma.
Em uma noite marcante, pelo menos 3000 pessoas participaram, na terça-feira (5), do ato “Mulheres pela Democracia”, no Circo Voador, na Lapa. Sob os gritos de “Não vai ter golpe, vai ter luta” e “Fora Cunha”, as convidadas leram um manifesto a favor da democracia e contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff. O documento pode ser assinado aqui.
“Estamos nos ‘irmanando’ com a presidenta Dilma e com todas as mulheres eleitoras dela. Eu sou política, atriz, cidadã brasileira e já lutei contra a ditadura. É um golpe político, sim”, bradou a atriz Bete Mendes, que esteve presente ao Circo Voador e tem sido uma militante da liberdade e da democracia.
A presidenta UBES, Camila Lanes, rasgou o verbo e denunciou a perseguição da Secretaria de Estado de Educação que proibiu os estudantes de organizarem assembleias dentro das escolas. A líder estudantil falou sobre a ocupação das mais de 14 escolas estaduais, o cenário político e o papel dos secundaristas.
“Somente com a democracia vamos ocupar o Congresso Nacional, ocupar a política, levar mais brancos, pretos, mulheres e lgbts para os bancos das universidades. A democracia começa dentro da escola, crie seu comitê, lute pela democracia!”, disse.
As mulheres criticaram ainda a matéria principal da revista “IstoÉ” da semana passada. Para elas, a edição trouxe uma mensagem sexista.
A atividade no Circo Voador encerrou com uma ciranda e a música “Maria Maria”, de Milton Nascimento.
Com CUT e Agência Brasil
Fotos: Mídia Ninja