O conservadorismo e a tentativa de golpe chama atenção da líder estudantil, Camila Lanes. A presidenta da UBES todos os dias tem ido às escolas, conversado com grêmios estudantis, liderado passeatas e debates com os secundaristas sobre a democracia brasileira e a tentativa de derrubar a primeira mulher eleita presidenta do país.
À frente da entidade que liderou o “Fora Collor” e que derrubou o presidente corrupto em 1992, Camila explica porque a UBES é contra o golpe, o papel da juventude e dos estudantes.
“Pedir impeachment é deslegitimar a eleição da presidenta Dilma, a inteligência e a capacidade do povo brasileiro de escolher quem ele quer que o represente”, diz em trecho de entrevista.
Leia na íntegra.
UBES: No momento de fortes tensões políticas no país, onde está a UBES?
CAMILA LANES: Como sempre esteve historicamente, a UBES está ao lado da democracia. Neste momento, boa parte da diretoria da entidade, estudantes de todo o país estão em Brasília para barrar o golpe fazendo resistência ao lado dos movimentos sociais. Para além disso, nos outros estados estamos organizando comitês, atos, debates, atividades com artistas, juristas e uma parcela muito grande da população que compreende que, no cenário de hoje, não pode haver impeachment. Assim como há muito tempo atrás encabeçamos o processo de democratização do nosso país, hoje lutamos pela legalidade, acreditamos que essa é uma tentativa de golpe e precisa ser barrada!”.
U: Por que a UBES apoiou o “Fora Collor” e não apoia o impeachment da presidenta Dilma?
C: O Collor devia, usava dinheiro público para pagar contas pessoais e da família, o que foi comprovado na primeira investigação iniciada, por isso protagonizamos o movimento “Caras Pintadas” e derrubamos o presidente corrupto. Hoje, não existe nenhum crime de responsabilidade por parte da presidenta Dilma Rousseff, então, nós somos contrários ao impeachment até que se prove que ela não cometeu nenhum crime. Do contrário, não seríamos coniventes. No cenário que se apresenta hoje, o que é necessário é discutir coisas mais importantes do que tentar um golpe dentro do Congresso Nacional.
U: Como você avalia a forte onda conservadora, que não afeta apenas o Brasil, mas todo continente?
C: No Brasil existe uma forte onda conservadora desde junho de 2013, que tem como embasamento mais forte a utilização do ódio e da desinformação para fazer com que o povo se aliene do que realmente acontece na política. Essa onda vem acompanhada de violência física, moral e psicológica que ataca não só a presidenta Dilma, mas todas as mulheres, independente dos cargos que atuem em suas vidas, um conservadorismo regado pelo machismo, a misoginia, homofobia, xenofobia e toda forma de segregação.
Não acreditamos que isso represente a juventude e seus interesses, o que muito nos preocupa. Na ditadura, tivemos a mesma luta contra o conservadorismo, mas hoje, a internet se tornou palco para que muitas dessas pessoas conservadoras e de direita consigam reproduzir cada vez mais o seu discurso de ódio, enquanto na verdade, o que precisamos é nos libertar dos preconceitos e opressões para que conseguir de fato, avançar no debate político do país.
U: Em meio a toda essa efervescência no cenário político, a UBES encabeça a campanha “Se Liga 16”, de incentivo ao voto. Como a participação do jovem pode mudar a política?
C: Hoje, nós não nos sentimos representados pelo Congresso Nacional e pela política brasileira, isso, porque não temos nossa representação ativa lá dentro: não temos jovens dentro do Congresso, não temos mulheres, negros e lgbts para representar a população brasileira. Então, se hoje temos um déficit muito grande de mulheres parlamentares, mesmo sabendo que elas são maioria da população brasileira, é porque existe necessidade de mais participação, acompanhada de uma reforma política que vai mudar as estruturas corruptas que existem na política.
O “Se Liga 16!” serve para fazer o jovem compreender que ele também precisa fazer parte disso tudo, perceber que a política só está deste jeito porque precisamos participar internamente dela. É muito importante ocupar as ruas, declarar nossas críticas e apoio, mas é muito mais importante votar e decidir na hora da eleição dos nossos representantes. Infelizmente, Marco Feliciano, Jair Bolsonaro e companhia foram eleitos para representar uma parcela conservadora e atrasada dentro do Congresso. Isso se deu também por falta dos jovens nas urnas, precisamos que eles compreendam que para mudar a política é preciso participar dela.
U: Protagonizando a luta contra o golpe e a favor da democracia, como a UBES está se preparando para votação que começará nesta sexta-feira, em Brasília?
C: Primeiro, ela é confusa: Como é que uma eleição que terá a participação majoritária dos deputados que trabalham de terça à quarta será no domingo? É incoerente, começa por aí o golpe.
Estamos acampados há mais de uma semana no ginásio Nilson Nelson, resistindo com outros movimentos sociais para que no domingo façamos uma grande marcha pela democracia, para que possamos falar e mostrar aos deputados que tem sim uma galera muito grande que quer dar opinião nessa tentativa de impeachment.
Não foi só 54 milhões de votos que participaram dessa votação, foi 114 milhões de brasileiros que participaram das últimas eleições. Pedir impeachment é deslegitimar a eleição da presidenta Dilma, a inteligência e a capacidade do povo brasileiro de escolher quem ele quer que o represente.