Com o tema “Democracia, direitos, diversidade, resistência e luta”, o debate reuniu ainda outras 9 mulheres, como a ministra Nilma Lino Gomes (Cidadania) e a deputada federal e ex-ministra da secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosáiro. O presidente da UNA-LGBT (União Nacional LGBT), Andrey Lemos, também participou.
Camila trouxe para a mesa um pouco da vivência da luta nas ocupações das escolas que pipocam Brasil afora após o movimento vitorioso em São Paulo.
Ela lembrou que o ambiente nas ocupações era totalmente diferente do vivido no dia-a-dia das escolas, onde a direção é repressora e totalmente despreparada para tratar com situações que fogem da tradicional e arcaica forma de ensino.
“O cotidiano das ocupações nos mostrou que outra escola é possível. Os estudantes se sentiram muito mais parte daquele espaço quando tiveram liberdade para criar, decidir e produzir de uma forma mais diversa. As mulheres eram respeitadas, as pessoas lgbts eram respeitadas”, relatou.
“A escola precisa sair do armário e termos uma livre experiência da nova escola, sem machismo, racismo, lgbtfobia, livre, laica, aberta para o diálogo. Por isso, a importância de debater a diversidade e a aceitação do amor, qualquer forma de amor”, disse, sendo muito aplaudida.
Camila também denunciou as ações da polícia militar que tem reprimido com muita violência os protestos contra o aumento da passagem em São Paulo e feito perseguições a estudantes e professores que participaram das ocupações das escolas.
“Não vamos permitir que voltemos a uma ditadura, quando as pessoas eram perseguidas por suas posições e ações políticas. A escola é um território de luta”, desafiou.
O coordenador da União Nacional LGTB (UNA-LGBT), Andrey Lemos, trouxe para a mesa a cobrança de que é preciso avançar mais com as experiências dos governos democráticos e populares comprometidos no enfretamento às desigualdades.
“E o movimento social precisa estar organizado, articulado e fortalecido para pressionar os poderes legislativos, executivo e judiciário no sentido de garantir que não haja retrocesso”.
Andrey disse reconhecer que nos últimos poucos mais de 10 anos foram alguns avanços com políticas e ações afirmativas para promover uma parte da igualdade de oportunidades com as populações historicamente discriminadas. “Entretanto, governo e movimentos sociais precisam dar as mãos e disputar o imaginário cultural e o coração das pessoas e da sociedade. Garantir que as ferramentas como a educação, a cultura e comunicação sirvam de combate às opressões”, cobrou.
Ele ressaltou a necessidade urgente de descolonizar o Brasil. “Estamos em um sociedade que foi colonizada com a influência do patriarcado, do machismo e, consequentemente, da lgbtfobia. É preciso descolonizar o Brasil, descolonizar a América latina, enfrentar o fundamentalismo religioso e político e empoderar as mulheres, as pessoas lgtbs e outros segmentos vulnerabilizados. Precisamos avançar nas garantias doas conquistas sociais, enfrentar o golpismo e garantir a continuidade a democracia, defender a laicidade do estado e a criminalização da homofobia”, disparou.
“O Brasil não pode ver comprometida a sua democracia. Essa geração precisa honrar a democracia e dizer que não haverá golpe haverá luta para avançarmos no projeto dos movimentos sociais para um país com mais direitos. Isso é vital para que não tenhamos projetos aprovados como aquele que quer negar a vítima de estupro o atendimento na rede pública de saúde”.
Ex-ministra da Secretaria dos Direitos Humanos, a deputada Maria do Rosário foi também uma das mais aplaudidas ao falar no auditório Araújo Vianna e chamar a atenção para a onda conservadora enumerando uma série de projetos que estão em curso e, caso aprovados, causarão um grande retrocesso ao país. Ela pediu o fim dos chamados autos de resistência e dos monopólios da comunicação e cobrou a aprovação de uma legislação que criminalize a homofobia e a intolerância religiosa.
Maria do Rosário destacou ainda o enfrentamento à tortura não só no âmbito dos casos da ditadura militar que precisam ser julgados e mostrados à sociedade, mas também a tortura em cadeias, delegacias, lugares de longa permanência de idosos e adolescentes. “E a luta antimanicominal, que ainda não concluímos”, frisou.
A ex-ministra lembrou o sentido principal da criação do fórum para combater o neoliberalismo e promover a integração dos povos.
“Esse Fórum é para os meninos e meninas da Síria, para os palestino, para as meninas sequestradas pelo Boko Haram na Nigéria, esse é o Fórum dos migrantes, dos refugiados, dos lutadores sociais, das mulheres traficadas, das crianças exploradas”, disse.
“O Fórum não pertence aos governos mas dialoga com os governos democrático e contribuiu nesses 15 anos de existência para combater o nefasto projeto neoliberal. Neoliberalismo que precisava anos atrás ser combatido no seu âmago, na sua raiz”, destacou.
(Fotos: Fábio Bardella)