“Ocupar não é se comportar como um bando de baderneiros, como muitos disseram. Prova disso é que passei no vestibular”, diz a secundarista paranaense, Eduarda Meneghetti, que acaba de ser aprovada em Engenharia de Produção. Durante três semanas, a jovem de 17 anos liderou a ocupação do seu colégio – o Estadual Pato Branco – em mobilização contra a PEC 55, a Medida Provisória de “deformação” do Ensino Médio (MP 746) e a Lei da Mordaça.
“Tivemos vários aulões, palestras que ampliaram nosso censo crítico e conhecimento. Lutar pela educação sempre foi um sonho e, se precisar, ocupo novamente”, diz Eduarda.
No Paraná, estado que teve o maior número de mobilizações com quase 1000 escolas ocupadas, Eduarda relembra que o espaço construído pelas manifestações foi uma das maiores experiências de sua vida. “Aprendi mais dentro da ocupação do que fora, estávamos até então estudando enfileirados, sem foco, cansados. Hoje entendo sobre políticas públicas, econômicas, sobre leis, decretos, medidas provisórias e responsabilidade de lutar pela coletividade”, contou.
Sobre entrar na universidade, a secundarista que atuou na organização do movimento na maior escola de Pato Branco, cidade localizada no sudoeste do Paraná, conta sobre a expectativa para o novo momento. “É um sonho antigo, desde pequena sonhei em ser engenheira, disputar e ganhar o meu lugar num campo que tem poucas mulheres. Eu quero conquistar o meu lugar”, finaliza Eduarda.
A luta contra a MP de “deformação” traz como crítica a falta de diálogo do governo de Michel Temer que não propõe democraticamente mudanças na forma de pensar a educação nas salas de aula. Para estudantes como João Pedro Fritsch, 16, ocupar é uma alternativa para promover formação transversal e propor uma nova lógica de ensino.
Depois de passar quase 15 dias em seu colégio, o Estadual Reinaldo Sass, ele conta que prestou o vestibular como treineiro e foi aprovado para o curso de Ciências da Computação. Nesse novo momento de sua trajetória acadêmica, ele enfatiza a importância das ocupações ao apresentar novos formatos de pensar a educação.
“Apresentamos nas ocupações novos sistemas de ensino, por exemplo, como debates e aprendizado real, ao contrário de só decorar o quadro. Deixamos de ver as matérias em si separadas para entender o que todas as questões sociais apresentadas em sala eram na vida real, interligadas. Abrimos a escola para toda a comunidade, para que os objetivos de melhoria de educação fossem discutidos, entendidos, e assim criar meios de fazer isso”, disse João.
Veja aqui a proposta de Reformulação do Ensino Médio construída pela UBES junto com os estudantes
Juliano Tonielo, 17, também ocupou sua escola, o estadual Eduardo Virmond Suplicy, em Francisco Beltarão, na região sudoeste do Paraná. Aprovado nos cursos de administração, direito e engenharia elétrica, relembra que ocupar não prejudicou seus estudos.
“Pelo contrário, serviu para lutar em defesa da educação e mostrar para sociedade. Ficamos muitos dias em debate, tudo isso nos trouxe uma outra visão sociológica que soma em nossas experiências de vida”, argumento Juliano.