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Peça sobre a Guerrilha do Araguaia estreia nesta semana em SP

Dentro da densa folhagem amazônica, em um trecho da floresta entre o Pará e o Tocantins, cerca de setenta pessoas organizavam a resistência à ditadura militar e articulavam formas de tomar o poder do regime autoritário. Entre elas, dezessete eram mulheres — doze das quais morreram durante o episódio, um dos mais violentos da época, a Guerrilha do Araguaia (1972 – 1975). Nesta sexta-feira, dia 15 de janeiro, às 21h30, chega aos palcos do SESC Belenzinho, em São Paulo, o espetáculo “Guerrilheiras ou Para a terra não há desaparecidos”, que recria a trajetória dessa dúzia de companheiras.

A peça, vencedora do edital Rumos Itaú Cultural 2013/2014, tem dramaturgia de Grace Passô e direção de Georgette Fadel e foi idealizada pela atriz Gabriela Cunha. “Eu queria desenvolver algo próprio e, de alguma forma, intuí que fosse sobre a ditadura”, conta Gabriela. “É um período que desperta muita curiosidade, porque aprendemos muito mais sobre 1500 do que sobre 50 anos atrás”. A questão dos desaparecidos polítocos chamou a atenção da atriz. “É uma lacuna. A partir de um momento, você não consegue acompanhar a vida de uma pessoa e tudo vira imaginação.”

Depois de descobrir que grande parte dos nomes da lista oficial de desaparecidos integrava a Guerrilha do Araguaia, se interessou pelo tema que, na opinião dela, deveria ser muito mais conhecido pelos brasileiros. Com o tempo, concentrou a pesquisa nas mulheres. “Sou mulher e imagino o que foi ser mulher naquele momento. São sempre os homens que aparecem como heróis nas lutas e revoluções. E as mulheres do Araguaia tiveram um papel fundamental”, diz.

Para a concepção do espetáculo, Gabriela mergulhou em um processo de investigação que terminou com uma viagem de toda equipe ao sul do Pará. De ônibus, atrizes e diretora refizeram o trajeto de muitas guerrilheiras que partiam do sudeste para o combate no Araguaia. Junto à caravana, o cineasta Eryc Rocha documentou em vídeo o percurso, e alguns trechos são projetados no palco durante a peça.

Conhecer os familiares e moradores da região, que mantêm viva a memória da guerrilha, foi essencial para traçar o perfil de cada mulher representada. “A viagem foi o coração do processo. Conhecemos lendas sobre cada uma e começamos a nos envolver com o que as motivou a estar lá. Guerrilheira tem um propósito, a vontade de um novo mundo, tem medo e arrependimento. Não queríamos colocá-las em um lugar de heroínas, que não é humano.” O resultado é uma montagem classificada pelo grupo como “poema cênico”, que não só registra a história do período como recria os desejos íntimos das protagonistas.

Para Gabriela, fugir da narrativa historiográfica é importante para trazer um discurso atual à temática da ditadura militar. “Não deixou de ser atual, porque é algo muito recente. Não termos levado à justiça torturadores, assassinos e sequestrados abre precedentes para o que a gente vive hoje. Não revimos esse momento, o que torna possível que isso continue acontecendo nas periferias, no norte do Brasil. Não quero que as pessoas saiam do teatro com a sensação de que isso aconteceu há 50 anos e nã aconteceria de novo.”

“Guerrilheiras ou Para a Terra não há desaparecidos” fica em cartaz no SESC Belenzinho por três finais de semana, de 15 a 31 de janeiro. Três mesas de debate acompanham a temporada, com a participação de grandes nomes, como Wlad Lima, Lucio Flávio Pinto, Sonia Sobral, Roberta Estrela D’Alva, Irene Maestro, Georgette Fadel, Maria Thais, Berna Reale e Grace Passô. Saiba mais aqui.

SERVIÇO

O que?“Guerrilheiras ou Para a terra não há desaparecidos”.
Quando? De 15 a 31 de janeiro de 2016. Sextas e sábados às 21h30. Domingos às 18h30.
Onde? SESC Belenzinho – Rua Padre Adelino, 1000 – Belenzinho, São Paulo (SP). Telefone: (11) 2076-9700
Quanto?  Ingressos de R$ 6 a R$ 20.