A iminência de um forte ataque à democracia brasileira, refletido na tentativa de impeachment da presidenta Dilma Rousseff , levou milhares de pessoas às ruas de todo país. Em Brasília, o ”acampamento da democracia” recebeu desde o início da semana caravanas vindas dos mais diferentes locais com o objetivo claro de barrar o golpe.
Vindo de São Paulo com a filha, a estudante da Unicamp Miriam luta atualmente pela implantação da licença maternidade na universidade. Para ela, existe muito machismo contra a primeira mulher eleita para o cargo mais alto do Brasil: “Discordo de muita coisa no governo Dilma, mas vejo que infelizmente criticam ela é pelo modo de falar, tentam fazê-la passar como burra, são ataques pessoais à mulher, como se ela fosse menos capacitada para aquilo. E se esquecessem que as mulheres nesse país nunca são criadas para conduzir um debate ou liderar nada. Querem que nosso papel seja outro”, opina.
De um assentamento rural no interior do Paraná, Celito Souza tem 47 anos e já trabalhou no campo em diversos estados, desde o Acre até o Mato Grosso. Há oito se juntou às famílias dessa localidade, junto ao MST. “Ter um lugarzinho, um pedacinho de terra é a coisa mais maravilhosa que tem”, descreve.
Celito está no acampamento da democracia motovado para as manifestações deste domingo. “Dilma não é a salvação para nós, mas sabemos que a direita está muito incomodada com a melhoria de vida dos pobres. Os ricos da cidade se acham muito inteligentes mas não sabem nem quantas doenças estão tendo por causa dos agrotóxicos, do agronegócio. Nós sabemos”, diz.
MAIS AMOR, MENOS GOLPE
Completando um ano de namoro neste 17 de abril, as estudantes Thais e Daiane acreditam que o golpe na democracia brasileira vai prejudicar principalmente a população das mulheres e dos LGBT porque, além de tudo, irá representar a vitória dos grupos do Congresso Nacional que são contra os seus direitos. Querem a aprovação do casamento igualitário, uma lei de criminalização da LGBTfobia e mais garantia para a adoção de crianças. “Quero uma criança mais velhinha, que já foi rejeitada nessa vida e que precisa de um amor verdadeiro”, confessa Thais. O casal mora em duas cidades diferentes, mas descobriu um jeito de se ver o tempo todo: “Estamos sempre na luta em algum lugar do Brasil, então estamos sempre juntas”.
Com apenas 16 anos, a estudante Nicole es considerava branca até os 14: “Na televisão só tinha mulher de cabelo liso, sedoso e brilhoso. Então eu alisava o meu também, e não gostava que me chamassem de negra, eu me achava branca”, relembra.
Hoje, Nicole é a criadora e diretora de um coletivo de empoderamento das mulheres negras, LGBT e outros oprimidos, o grupo “Afroforever”. Ela é de São Luís do Maranhão e enfrentou 1990 quilômetros para chegar a Brasília e protestar contra o impeachment da presidenta Dilma Rousseff neste fim de semana: “Vim defender a democracia. Se ela sai quem fica são os corruptos. E hoje se tem negro na universidade é por causa dela e do governo que veio antes dela”.
Texto Artênius Daniel e Renata Bars
Fotos Sergio Caldieri/CUCA da UNE e Artênius Daniel