Das ruas às redes sociais, em 2015 as mulheres gritaram e, a contragosto ou não, tiveram suas vozes ouvidas. Por uma série de episódios que escancararam o machismo, a opressão e a violência contra as mulheres, o ano passado fortaleceu a luta feminista e provou que, se por um lado, ainda há muito que se combater, por outro, as mulheres estão prontas para a batalha. Neste 8 de março, o site da UNE prepara uma retrospectiva do que marcou a primavera feminista.
Logo no início do ano, a Organização das Nações Unidas lançou a campanha He for She para envolver os homens no combate à violência contra a mulher. Embaixadora da campanha, a atriz Emma Watson sofreu diversas ameaças.
Estrelas de Hollywood pedem que os jornalistas não façam apenas perguntas sobre beleza e roupas para as mulheres presentes no Oscar. Ao levar a estatueta de melhor atriz coadjuvante por Boyhood, Patricia Arquette defende a igualdade salarial em seu discurso. Ainda no rol das cerimônias hollywoodianas, Viola Davis se tornou a primeira mulher negra a ganhar um Emmy e o filme brasileiro Que Horas Ela Volta?, de Ana Muylaert, entrou na disputa por uma indicação ao Oscar.
Um ano de heroínas: a Marvel anuncia uma mulher como protagonista na nova versão da HQ Thor e as grandes franquias Mad Max e Star Wars colocam personagens femininas fortes em evidência.
Personalidades como a jornalista Maria Júlia Coutinho e a atriz Taís Araújo sofreram ataques racistas em suas redes sociais e responderam pedindo a punição dos responsáveis e defendendo a luta das mulher negra contra o racismo e o machismo.
Na esteira do sucesso do vídeo sobre relacionamentos abusivos Não tira o batom vermelho, que projetou a youtuber Jout Jout, as redes sociais foram palcos de inúmeras campanhas online pelo fim da violência contra mulher. As hashtags #meuprimeiroassédio (que apareceu depois de internautas postarem comentários de cunho sexual sobre uma participante de 12 anos do programa de TV MasterChef Júnior) e #meuamigosecreto reuniram milhares de denúncias de abuso e comportamentos machistas.
A prova do ENEM trouxe uma questão sobre a escritora feminista Simone de Beauvoir e a redação sobre violência contra mulher. Enquanto isso, as secundaristas paulistas encabeçaram o movimento Não fechem a minha escola, que ocupou mais de 200 instituições públicas no estado.
Em Brasília, a Marcha das Mulheres Negras foi fortemente repreendida pela polícia, ao cruzar com militantes a favor do impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Na capital federal ainda trabalhadoras rurais, extrativistas, indígenas, quilombolas realizaram a maior mobilização de mulheres da America Latina, na Marcha das Margaridas, que teve como tema o desenvolvimento sustentável com democracia, justiça, autonomia, igualdade e liberdade. Já em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, milhares de mulheres foram às ruas contra o projeto de lei 5069, de Eduardo Cunha (PMDB), aprovado na Câmara, que reduz os direitos das mulheres vítimas de estupro e pune com até três anos de prisão qualquer pessoa que “instigar, aconselhar ou ajudar” uma mulher a abortar. O PL ainda restringe o acesso à pílula do dia seguinte.
De um lado, marcas como Risqué, Skol e Novalfem lançam campanhas que endossam discursos machistas, seja aplaudindo ações cavalheiras (que colocam a mulher em lugar de fragilidade), incentivando o sexo sem consentimento ou chamando a cólica de “mimimi”. Na contramão, a Lola Cosmetics trouxe a primeira mulher trans brasileira como estrela de uma campanha publicitária e a Pirelli anunciou que seu famoso calendário trocaria modelos por mulheres inspiradoras.