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10 passos para esquentar as ruas em dias gelados

Daniel Cruz no vão do Masp (foto: Débora Neves)

1- A SAÍDA

Bandeiras, hastes, panfletos, adesivos. Munidos, Daniel, Emerson,  Isac, Mateus Doná e Bárbara deixam a sede da UPES – União Paulista dos Estudantes Secundaristas – às 16h de terça-feira (18/7). O relógio marca 12 graus.

Na estação Ana Rosa do metrô, é preciso gastar uma das únicas 12 passagens gratuitas a que tem direito no mês de férias. Tudo por causa de mudanças mais severas no passe livre estudantil que o prefeito João Dória (PSDB) quer implementar. A partir de agosto, o direito de circular 24 por dia será cortado para 4 horas por dia, com duas “cotas” de duas horas cada – apenas para ir e voltar da escola. Aos estudantes, não basta para o direito já conquistado de viver a cidade.

Eles vão repassando as músicas e gritos mentalmente no metrô:

“O passe livre não vai ter corte / Tira a mão do meu transporte”

“O dinheiro do meu pai não é capim / Eu quero, eu quero, eu quero passe livre, sim…”

“Não à privatização / Eu quero passe livre no metrô e no busão”

2- O EVENTO

“Tem que lembrar todas!” diz Daniel, que é vice-presidente da UPES. Emerson Catatau é o presidente da entidade. No protesto, se uniriam com outras organizações de secundaristas e universitários, estaduais, municipais e nacionais, como UNE, UBES, UMES, UEE.

Seria o segundo protesto pela causa em São Paulo. Para divulgar e impulsionar a manifestação, um evento no Facebook estava sendo divulgado havia uma semana.

 

3- O DIÁLOGO

Já no metrô, eles começam a entregar os panfletos preparados para explicar as mudanças à população. Chegando na avenida Paulista, o diálogo com os passantes continua. Com paciência e sorriso, Bárbara oferece o papel e se anima a conversar com quem para: “Se 10 pessoas não querem falar, mais uma para e ouve, já faz diferença”.

Uma mulher se aproxima de algumas garotas que hasteiam bandeiras mais à frente. “Sou professora, vim de Goiânia e estava visitando o Masp. Espero que a juventude esteja cada vez mais na rua por motivos justos como este!”.

A manifestação acontece no vão do Museu de Arte de São Paulo, um dos espaços culturais da cidade a que estudantes sem renda não terão mais acesso.

(Foto: Débora Neves)

(Foto: Débora Neves)

4- ORGANIZAÇÃO COM A POLÍCIA

Policiais militares se aproximam de Catatau, o presidente da UPES. Pedem o RG, anotam o número e querem saber: qual será o trajeto, se virá mais gente, quanto tempo vai demorar, quais os movimentos envolvidos. “É o costume deles, para saber quem procurar se der algum problema”, explica Catatau. Depois chegam outros policiais, do setor de trânsito, e fazem as mesmas perguntas.

Perto dali, Bárbara entrega o folheto do ato a um vendedor ambulante. Ele diz concordar com a luta, mas também pergunta: Quanta gente vai vir? Qual percurso? “Quero vender muita capa de chuva”, diz. Organização informal do capitalismo. Mas não, não choveu.

5- OS DISCURSOS

No sistema de som montado pelos estudantes, músicas de Bob Marley começam a dar vez às falas dos jovens. Com microfone aberto, responsáveis por grêmios de toda a capital se intercalam para exigir direito à cidade, já conquistado com luta naquele mesmo vão do MASP, em 2015, e denunciar: o prefeito gasta milhões em publicidade para dizer que a cidade é linda, mas a população anda esmagada nos ônibus cheios.

“Essa cidade não é seletiva nem vai ser. São Paulo não vai virar modelo de nenhum engomadinho. Frio nenhum congela nossos sonhos”, terminou uma garota.

(Foto: Guilherme Imbassahy - CUCA da UNE)

(Foto: Guilherme Imbassahy – CUCA da UNE)

 

6- MÚSICAS E GRITOS

Mateus Doná virou o puxador natural da UPES, ao dividir o microfone com Daniel Cruz e acompanhar a bateria Ritmo de Luta. Os gritos e rimas vão vindo naturalmente, ao adaptar músicas conhecidas, gritos antigos dos estudantes e novos.

Esse saiu do grupo, criada coletivamente ali na hora:

“O passe livre não é esmola/ O filho do prefeito vai de Uber pra escola”

Doná, que ouve reggae e quer fazer Artes Cênicas, também compõe algumas músicas e funks. “Eu sempre pensei em falar as coisas com ritmo, desde os oito anos. Quando vou para uma atividade de estudantes, me animo para pensar em algo novo. Os mais próximos gostam e me incentivam a cantar nos atos para mais gente.”

Este funk, Doná fez sobre a política do Brasil hoje:

E esta é uma adaptação da Lei do Retorno (mc Hariel) para o passe livre:

“Vou marcar de te ver e não ir / Só se você vier me buscar / Vou ficar sem passe livre / Porque o Dória quer cortar”

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7- O PERCURSO

Foto: Thallita Oshiro - CUCA da UNE

Foto: Thallita Oshiro – CUCA da UNE

19h, 10°C. O pessoal que estava no vão do Masp se uniu com outros protestantes na avenida Paulista para marcharem até à Prefeitura, uma distância de 2,5 kms.

O caminho, já fechado pelos agentes de trânsito, foi animado por gritos e várias baterias diferentes, que se organizaram durante a marcha e conquistaram muitos moradores pelo percurso. Até acontecer um incidente.

8- CASO DE VIOLÊNCIA POLICIAL

Quanto tempo demora uma ambulância? Do serviço público de São Paulo, maior cidade do país, 40 minutos. Foi o tempo que estudantes aguardaram para socorrer uma mulher ferida por um policial durante a manifestação. Enquanto isso, a marcha decidiu não andar, até que a moradora de rua covardemente atingida fosse atendida. Já eram 21h da noite, quatro horas de ato, quando o carro do SAMU chegou. Sem sistema de som, o jogral virou forma de comunicação entre todos os grupos unidos na manifestação.

https://www.facebook.com/ubesoficial/videos/1371877169596736/

9- O FINAL

“A verdade é dura / Tentaram reprimir mas eu cheguei na prefeitura.”

Mais uma vez, o jogral foi útil para que os representantes dos grupos lessem uma mensagem final a todos e todas  estudantes que resistiram ao frio e às horas de caminhada, na frente da Prefeitura de São Paulo. “Não sairemos do nosso lugar, que são as ruas”, disseram.

Ficou avisado: na sexta, representantes farão reunião com secretário dos Transportes, Sergio Avelleda. E sábado uma assembleia com todos definirá os próximos passos. Na Casa do Povo.

10 – PARA IR EMBORA

Confusão na saída pelo metrô Sé. Defensores do passe livre irrestrito foram duramente repreendidos pelos seguranças. Houve quem lembrasse que, em manifestações pelo impeachment, as catracas eram liberadas para manifestantes de verde e amarelo.

“Boi, boi, boi, boi da cara preta / Se não tem passe livre a gente pula a roleta”, adaptavam.

Ao grupo que chegou ao metrô São Bento, surpresa: portões fechados. Seguranças não sabiam explicar o motivo: “São ordens”. Eram 10 horas da noite e o metrô paulistano fecha meia-noite. Com calma, Daniel apelou com calma que eram estudantes e só queriam ir para casa. Um dos seguranças se convenceu e tirou as correntes, aplaudido pelos jovens. Com vaquinha para quem não tinha dinheiro para passagem, finalmente terminava a missão do dia. Mas a batalha continua.

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