*Por Brisa Bracchi, diretora de Mulheres da UBES
Vinte e cinco de julho, Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha e, além disso, aniversário da UBES, maior entidade de organização secundarista da América Latina. Dia de celebração, mas também de muita luta e resistência.
Dia de enfrentamento ao racismo, porque sabemos que somos nós, mulheres negras, as mais afetadas pela precarização do ensino público, pela tecnização do ensino médio, pela reforma do trabalho e pelo desmonte do SUS. Dia de lutar pelas nossas irmãs negras que não chegaram às escolas, menos ainda às universidades. Dia de mostrar que as mulheres negras estão fortes e unidas no combate ao encarceramento e extermínio da juventude negra. Dia de resistir porque as opressões de raça, classe e gênero continuam atuando sobre nossos corpos e nossas vidas sistematicamente. E resistir, para nós, é questão de sobrevivência.
A UBES, tendo uma história forjada nas lutas, nas trincheiras da resistência e mobilizando milhares de estudantes por todo o país, possui um papel fundamental. Os estudantes secundaristas, sobretudo as mulheres, resistem e afrontam ao lutar pela conquista e manutenção de programas como o Reuni, Prouni e as cotas raciais, que possibilitaram a entrada de novos sujeitos nas universidades. Ao ocupar nossas escolas contra um projeto de reformulação do ensino médio que nitidamente busca manter as estruturas de desigualdade socioeconômicas e meritocráticas. Ao parar nossas cidades contra um governo ilegítimo que se estabeleceu por meio de num golpe machista e misógino. Ao nos organizarmos para reunir estudantes para discussões sobre a educação e o país que queremos, a exemplo do que acontecerá no 4º Encontro de Mulheres Estudantes da UBES, que reunirá centenas de estudantes de todo país afim de construir e lutar por um projeto de escola e de sociedade sem machismo, racismo e LGBTfobia que queremos.
Neste 25 de julho, seguiremos em luta e resistência, pois ser mulher negra é enfrentar a hipersexualização dos nossos corpos, a não aceitação de nossos traços e nossos cachos. É enfrentar as mortes de nossos pais, filhos e companheiros que se tornam números nas estatísticas. É enfrentar a negação da nossa participação enquanto sujeitas dirigentes nos espaços da política. É enfrentar as marcas da senzala que se reproduzem em cada quarto de empregada. É enfrentar a solidão, pois nem mesmo nossa afetividade foge às garras dessa opressão.
Enfrentamos e resistimos cotidianamente a esse sistema patriarcal, racista e LGBTfóbico e será dessa resistência, construída às mãos das mulheres das escolas, das universidades, das favelas, dos guetos e do campo, que se construirá uma alternativa ao povo brasileiro, latino americano e caribenho.
Viva a resistência secundarista, negra e feminista!