Sério mesmo que foram apenas dois anos? O que se passou no Brasil e no movimento estudantil secundarista desde o início desta gestão da UBES, no final de 2015, tem gosto de décadas. Foram muitas as transformações no país, na juventude, nas formas de luta dos movimentos sociais que tiveram, mais uma vez, a galera secundarista na sua linha de frente. As meninas e os meninos das escolas e institutos federais do Brasil inteiro marcaram o seu lugar na história.
Não é fácil ser a referência da resistência de todo um país contra um golpe. Mas os estudantes secundaristas literalmente ocuparam esse espaço, nas escolas de norte a sul, na maior ação organizada da juventude brasileira em todos os tempos. Mais de mil ocupações secundaristas chamaram a atenção da sociedade para uma pauta que foi muito além da educação. Quando Michel Temer tomou de assalto a presidência da República, encontrou as nossas barracas e as nossas faixas no caminho.
Na verdade, o movimento começou bem antes. A gestão teve início no calor da primeira onda de ocupações, que surgiu em São Paulo com o fechamento de escolas no projeto de reorganização escolar de Geraldo Alckimin. Em 2016, quando o golpe avançou a partir do conluio de gente como Eduardo Cunha, a UBES se mobilizou junto com as frentes Brasil Popular e a Povo Sem Medo para denunciar o ataque à democracia.
Os estudantes foram a Brasília, protestaram no lado de fora do Congresso contra o show de horrores do dia 17 de abril, com a votação na Câmara do impeachment irregular de Dilma Rousseff. Estivemos em um dos lados daquele vergonhoso muro que foi erguido na capital federal: o lado certo, contra a farsa de um impeachment sem provas que foi votado para acobertar as denúncias de corrupção dos próprios deputados que diziam “sim”.
Os retrocessos que vieram dali foram muitos, como o congelamento dos gastos em educação por 20 anos, a falsa reforma do Ensino Médio que, na verdade, veio foi deformar a escola brasileira, o fascismo de movimentos como o Escola Sem Partido, a diminuição do acesso à universidade com a proposta de cobrança de mensalidade nas universidades públicas, além dos ataques ao FIES e ao Prouni.
Apesar desse, que foi o pior cenário do país desde o fim da ditadura militar, a UBES e os secundaristas cresceram muito. Tanto em número, por conta do enorme volume de jovens que começaram a se politizar com as ocupações, como em maturidade e qualidade. Realizamos um grande Encontro de Grêmios, o primeiro Encontro LGBT da UBES, o quarto Encontro de Mulheres Estudantes, fortalecemos o combate ao machismo, ao racismo, à LGBTfobia dentro da escola, fizemos frente à onda conservadora com a defesa de um modelo de educação diverso, democrático e inclusivo.
Em solidariedade aos jovens de toda América Latina, somamos forças no segundo Encontro Latino Americano de Secundaristas, realizado na Colômbia, defendemos a meia-entrada, crescemos em alcance nas redes sociais, na chamada grande imprensa e na mídia independente, participamos mais abertamente do debate público, fomos mais ouvidas e ouvidos, tomamos o protagonismo da luta estudantil com a força das ocupações e da esperança que o Brasil tem sobre nós.
Como escreveu Chico César, que presenteou essa geração com a música “Mel da Mocidade”, que teve seu clipe gravado em parceria com a UBES, os estudantes sabem que são viajantes e vão inventando o destino. Por isso, temos certeza de que a estrada ainda será longa e repleta de desafios. Mas, já mostramos para todo um país, e para nós mesmos, de que é feito o movimento secundarista. A emoção e a energia que tivemos para ocupar um Brasil inteiro ainda resultará em muito mais.
Toda sorte e melhores ventos à próxima gestão desta grandiosa entidade, que se aproxima agora dos seus 70 anos de vida.