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“Estamos nos organizando para mostrar que nosso lugar é onde quisermos”

No dia 7 de setembro, lideranças estudantis de todo o Brasil, meninas protagonistas nas suas escolas, grêmios e ocupações, estarão reunidas na faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, para discutir como construir uma educação e uma sociedade sem machismo.

Veja programação do 4º EME e 16º CONEG

Para Brisa Bracchi, diretora de Mulheres da UBES, as escolas “ainda são um ambiente opressor, o que não é surpresa, uma vez que é apenas o reflexo da nossa sociedade”. Mas ela conta como as garotas estão se organizando para lutar contra isso.

Depois de militar nos movimentos feministas no seu estado, o Rio Grande do Norte, hoje Brisa, além de diretora de Mulheres da UBES, é militante da Marcha Mundial das Mulheres (MMM) e componente do coletivo de mulheres da sua escola, o MIGA.

Para ela, seus quatro anos de movimento estudantil, desde a reativação do grêmio no Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN),ensinaram algo importante: “Passei a compreender que a luta feminista não é pela nossa libertação individual, mas sim pela libertação de todas as mulheres”.

UBES: As mulheres têm crescido no movimento estudantil?
Brisa: Sem dúvidas. As mulheres cresceram, e, além de crescermos, estamos cada vez mais organizadas e feministas. O protagonismo das mulheres nas ocupações é consequência dessa organização que vem mostrando que lugar da mulher é onde ela quiser, inclusive na política.

O protagonismo das mulheres nas ocupações é consequência dessa organização que vem mostrando que lugar da mulher é onde ela quiser, inclusive na política.

UBES: Você acha que o machismo está sendo combatido de forma efetiva nas escolas?
Brisa: As escolas ainda são um ambiente muito machista e opressor, o que não é surpresa, uma vez que é apenas um reflexo da nossa sociedade.

A organização das mulheres em coletivos ou no grêmio muda a dinâmica da escola e contribui na construção de um ambiente menos machista, mas ainda estamos distantes de conseguir por completo.

Em 2015 e 2016 lamentamos a perda da garantia do debate de gênero e sexualidade na maioria dos planos municipais e estaduais de Educação, o que poderia hoje ser uma ferramenta fundamental na construção de uma nova escola.

A organização das mulheres em coletivos ou no grêmio muda a dinâmica da escola e contribui na construção de um ambiente menos machista, mas ainda estamos distantes de conseguir por completo.

UBES: No dia a dia das escolas, quais principais problemas acha que as meninas enfrentam?
Brisa:
Desde as piadas dos professores, que ainda são muito comuns nos relatos das estudantes, colocando as garotas como menos inteligentes ou que têm mais dificuldades em certas disciplinas, ou que passam em tais matérias porque são bonitas, etc. Este tipo de comentário aflige muito vindo dos professores e dos colegas. Acontece também abuso em sala de aula, tanto por parte de professores, diretores ou colegas. As piadas machistas são muito presentes na vida das meninas e quando o professor reforça isso elas acabam se sentindo mais isoladas, mais violentadas e mais frágeis.

UBES: Que dica daria para as garotas secundaristas se organizarem?
Brisa: O primeiro passo é sempre a gente se reunir. Encontrar outra menina, por exemplo, que também tem vontade de se organizar, e tentar formar essa rede, que acaba conquistando outras meninas. Marcar uma reunião e convidar outras pessoas para debater algum texto sobre feminismo ou algum caso que tenha acontecido na escola… A própria organização do grêmio pode ajudar nisso. É papel fundamental do grêmio, inclusive, auxiliar nestes debates de formação e de organização nas escolas. O principal é isso:

A gente não está sozinha. Porque combater o machismo sozinha é muito cruel. É muito mais fácil e se dá muito melhor quando estamos organizadas.

UBES: Para você, como as atuais reformas (da previdência, do trabalho, do Ensino Médio) podem prejudicar as mulheres?
Brisa: Nós, estudantes secundaristas, não podemos nos enganar achando que essa reforma também não nos ataca. O governo golpista tem um projeto de sociedade que quer voltar a elitizar as universidades, que quer formar uma geração de jovens que não terá mais a chance de cursar o ensino superior. Para esse governo, os jovens da classe trabalhadora devem apenas trabalhar, e continuarem submissos à elite. Tudo isso também está refletido na reforma do Ensino Médio, quando precariza e tecniciza o ensino, com o objetivo de formar uma camada da população que deve sair do ensino médio direto pro mercado do trabalho, sem mais o direito de sonhar e planejar um futuro na universidade. Além disso, a reforma do ensino médio diminui e desvaloriza o ensino da história, sociologia e filosofia, matérias que têm um papel fundamental em uma formação que compreenda os papéis sociais dos setores oprimidos da sociedade.