A diversidade do povo que rapidamente ocupou o Largo da Batata, em São Paulo, chamava a atenção de quem se unia à multidão para marchar contra as reformas de Temer nesta sexta-feira, 28 de abril. A cara da maior greve da história do País, que superou os 35 milhões de envolvidos de 1989, tem todas as cores e todas as idades.
Logo se aprendia o grito de ordem, entoado pelos 70 mil presentes que rumaram até à casa de Michel Temer, no Alto de Pinheiros, contra as reformas que o presidente quer impor ao povo:
“Pisa ligeiro / Quem não pode com formiga não atiça o formigueiro”.
Desde a greve do dia 15 de março, também organizada pelas Frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular com o Fórum das Centrais Sindicais, a conscientização contra as ações do governo Temer só cresce – enquanto diminui sua aprovação, que já não chega a 10% da população.
“Hoje é um dia de muita luta, mas também de muita felicidade. Foi quando vencemos o cabo de guerra das opressões. Demonstramos a força dos trabalhadores e do povo organizado. Esse é o recado que damos ao governo golpista e ao congresso de corruptos – é na rua que construiremos nosso futuro”, discursou Carina Vitral, presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE).
Camila Lanes, presidenta da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, reforçou o clima de unidade: “Vamos lutar todos juntos contra estas reformas. Elas atacam especialmente a nós, estudantes, e aos nossos professores”. Um grito da multidão concordava: “Unificou, unificou! É estudante com trabalhador!”.
Há exatos 100 anos da primeira greve no Brasil, mais uma vez São Paulo foi palco de paralisações e reivindicações, com muitas categorias atuantes, o que se viu todo o país nesta sexta-feira. Se, em 28 de abril de 1917, funcionários protestavam pelos primeiros direitos trabalhistas, hoje o povo se impõe para manter o que conquistou com muita luta.
A reforma da previdência, que deve ser votada na Câmara em breve, e a trabalhista, aprovada pelos deputados há dois dias, são as principais denúncias do povo nas ruas nesta sexta. “Acima de tudo, lembramos que quem quer fazer esses ataques é um governo ilegítimo, colocado por um golpe”, lembrou Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).
Presidente da Intersindical, Edson Carneiro “Índio” falou também dos interesses que orientam as medidas federais hoje: “No último período, o Temer, a mando do grande capital dos banqueiros e grandes empresários, atropelou o povo e todo rito democrático do nosso País”.
Para Vagner Freitas, da Central Única dos Trabalhadores, esta sexta foi o dia dos trabalhadores “sepultarem o golpismo”, como indicava outro grito da multidão: “A nossa luta não vai parar / pela democracia eu quero diretas já!”.
No começo da noite, mesmo com os 14ºC na capital paulista, o povo seguia animado até as proximidades da casa do Temer permitida pelo cordão de isolamento. Flavia Oliveira, da União Estadual dos Estudantes, resumiu o clima: “Para quem não acreditava nessa greve, basta olhar a multidão aqui e ver que o Brasil não aprova o golpismo e as reformas que detonam direitos e criam mais desigualdades. Não vamos parar por aqui”.
Enquanto manifestantes ainda se dispersavam pacificamente, às 21h30, a Polícia Militar jogou bombas de efeito moral.