Escolas militares são melhores? São o ideal para nossa educação? É comum ouvir afirmações para essas questões por defensores do ensino público militarizado, inclusive de candidatos à presidência que visam a ampliação desse modelo. Diferente do que dizem, os bons índices de colégios militares têm explicação: investimento.
De acordo com o Exército Brasileiro, existem 13 colégios militares vinculados à instituição, e 93 escolas públicas vinculadas às polícias militares, um fenômeno recente em vários estados do país. O desempenho dos alunos matriculados nesses colégios foi realmente superior em 2015. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) tem média de 6,5 nos colégios militares, contrapondo 4,1 nas escolas estaduais.
A própria estrutura das escolas garante um ambiente de qualidade com piscinas e laboratório bem equipados. Já os professores contam com salários que passam dos R$ 10 mil, diferente de um professor no início da carreira que ganha cerca de R$ 1.179 na rede estadual.
“Acho que quando as pessoas falam em militarizar, elas pensam em disciplina. Podemos conseguir disciplina com bons trabalhos e engajamento dos alunos, pais e funcionários das escolas”, diz Mário Fernandes, professor de Ciências e secretário de Educação em Águas Mornas (SC), que aponta a importância de uma boa proposta pedagógica, dando suporte a estudantes e professores com materiais e estruturas mínimas para o funcionamento da escola pública.
“O que menos acredito é na militarização das escolas. A prova de que não precisamos disto é a de que temos muitas escolas em lugares carentes e com bons índices de desenvolvimento”, acrescenta Mário. É o caso dessas escolas públicas que se destacaram com bons indicadores, mesmo em situações adversas.
Além da menor vulnerabilidade social dos estudantes, o colégio militar tem verba quase dez vezes maior que os colégios estaduais/municipais. Cada aluno custa em média R$ 19 mil por ano nas militares, valor três vezes maior do que a média de R$ 6 mil nas estaduais/municipais.
Além disso, o livre debate em sala de aula e o estímulo à participação de todos os membros da comunidade escolar promove ao estudante uma formação mais completa. Mário, portanto, conclui e questiona:
“Queremos cidadãos críticos ou que obedeçam?”
A pedagoga Paula Cristina Guimarães, da UFRJ, também concorda com esse pensamento em seu artigo publicado no Simpósio Nacional de História: “A formação como a entendemos não se limita aos processos de disciplina, treinamento e condicionamento. Devemos pensar sobre o que se pretende com esse tipo de formação, para quê e para quem se pretende formar”.
Enquanto o Brasil fica em 69º lugar no Pisa, exame internacional do ensino médio, os matriculados nos institutos federais ficariam em 11º. De acordo com as notas do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) de 2015, se os Institutos Federais representassem um país à parte, eles ocupariam a 11ª posição no ranking em ciências, na frente de Coreia do Sul, Estados Unidos e Alemanha. Em leitura, seriam o segundo colocado entre 71 países.
O investimento seria semelhante ao dos colégios militares com mais recursos destinados aos estudantes. A diretora de Escolas Técnicas da UBES, Rozana Barroso, afirma que o investimento no ensino técnico público e de qualidade é a solução para desenvolver o Brasil: “Isso pode resolver. Se a gente destina o dinheiro adequado para ensino técnico, ele vai formar esses estudantes com senso crítico e liberdade para suas individualidades”, acrescenta a diretora.
Rozana encara os projetos que visam militarizar escolas como uma situação problemática pois são escolas que não respeitam o individual dos estudantes, colocando todos no mesmo padrão, além da própria instituição tender a um caráter mais conservador. “Se a gente quer uma escola que valorize o professor, forme meninos e meninas para desenvolver sua cidade, onde tenha educação pública e de qualidade, não tem justificativa defender um ensino que acaba alienando e excluindo a individualidade dos estudantes”, conclui.