Neste mês, o maior grupo de ensino privado do Brasil (e do mundo) fez suas primeiras aquisições na educação básica e já não atua mais apenas no curso superior. Com uma compra bilionária, este tubarão do ensino já domina todas as fases de ensino.
A nova aquisição é o grupo Somos (ex Abril Educação), até então líder no segmento da educação básica com editoras de material didático e escolas por cinco estados. Com isso, o ensino básico vai representar 28% do faturamento da Kroton, que já avisou estar apenas no começo de sua empreitada na nova área, agora que não tem mais para onde crescer entre as faculdades. No ensino superior, são mais de um milhão de estudantes, 130 unidades e 700 polos de educação a distância.
O que isso significa? Primeiro, a possibilidade de precarização das escolas particulares. Basta ver o que aconteceu com as faculdades administradas pela Kroton, como Anhanguera, Unime, Uniderp, Unic. Em um ano, o faturamento triplicou, mas a porcentagem gasta com salários diminuiu. As informações são de um estudo da Fepesp (Federação dos Professores do Estado do São Paulo) entre 2014 e 2015.
Além disso, a Kroton, um grupo de acionistas influentes, passa a ter interesse em leis e mudanças do ensino básico. Para a lógica da empresa, quanto pior for a qualidade do ensino gratuito, mais fácil de aumentar seu mercado.
O ensino médio estadual, onde estão 8 a cada 10 estudantes, já vive momento delicado. Além do fechamento de turmas em vários estados e do congelamento de investimentos federais em educação, não se sabe como as unidades farão para se adequar à “reforma do ensino médio”. Até o ensino a distância está sendo cogitado.
“Nossa maior e principal luta é por um ensino público gratuito e de qualidade. Por isso nos preocupamos muito quando grupos poderosíssimos têm interesse na educação como mercadoria”, diz o presidente da UBES, Pedro Gorki.
A Kroton é uma Sociedade Anônima (S.A.) controlada por vários acionistas do mercado financeiro, com muita influência até nos rumos políticos do país. O presidente da empresa, Rodrigo Galindo, apoiou a reforma trabalhista, por exemplo, que retirou estabilidade e direitos dos trabalhadores.
Diretor de Políticas Educacionais da UBES, Matheus Vianna lembra que a Kroton também passa a entrar de imediato nas escolas públicas por meio do material didático das editoras Saraiva, Scipcione, Ática.
Ele avalia: “As grandes empresas fornecem um projeto de ensino com dois únicos objetivos, a preparação do estudante para vestibulares e mercado de trabalho. A UBES defende um projeto de educação libertadora e emancipacionista, o contrário da mercantilização da educação”.