Uma noite de muitas emoções nesta quarta-feira (06/2) deu a largada da bienal das bienais, a 11ª Bienal da UNE – Festival dos Estudantes, em Salvador (BA). Com o teatro Castro Alves, repleto, a presidenta da UNE, Marianna Dias deu as boas-vindas.
“Salvador é uma cidade histórica para o movimento estudantil e é aqui que saudamos todas as delegações, de todos os estados, que vieram para o nosso festival. Viva o Nordeste, viva o Sudeste, viva o Norte, viva o Sul, viva o Centro Oeste, viva a décima primeira Bienal dos estudantes!”.
Foi exatamente aqui, na capital da Bahia, que foi realizada a primeira Bienal, há 20 anos atrás, em 1999. Foi também aqui que UNE foi reconstruída há 40 anos depois de perseguida e levada à clandestinidade.
O vice-reitor da Universidade Federal da Bahia, Paulo Miguez, foi responsável por um dos momentos mais emocionantes da noite que levou Marianna às lágrimas. Ele levantou seu crachá de delegado do 31º Congresso da UNE, em maio de 1979. “Como bom baiano eu diria que essa lembrança é uma mancha de dendê não sai nunca. Eu queria dizer com esse gesto de memória expressar um momento tão especial como esse e mostrar confiança que deposito em cada um de vocês, em cada jovem brasileiro. Eu sei que vocês irão defender o direito inegociável à universidade publica brasileira”.
Este ano é a primeira vez que festival reúne secundaristas, universitários e pós-graduandos. O presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), Pedro Gorki, destacou essa união histórica nesse momento de resistência da história do nosso país. “A Bienal cumpre a função de inaugurar o período de lutas que os movimentos sociais do Brasil terão pela frente no ano de 2019. Aqui estamos, estudantes, artistas, ativistas, militantes, unidos na defesa da democracia e dos direitos, na defesa da educação e da cultura, contra a censura e a mordaça, pela liberdade do nosso país”.
A presidenta da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), Flávia Calé, também reforçou a unidade. “Vamos reconstruir a unidade do nosso povo, celebrar a diversidade cultural do Brasil, e fortalecer os nossos laços e as nossas forças”.
A aula show do homenageado máximo da noite, Gilberto Gil, foi um formato de perguntas intercaladas com música. A escritora Ana de Oliveira mediou a conversa entre o ex-ministro da Cultura e os estudantes da UNE.
Ele respondeu sobre o passado e sua militância, bem como comentou a conjuntura política do Brasil e do mundo. Gil também foi homenageado como patrono do Cuca da UNE, e recebeu um quadro com a arte oficial do evento feito pelo artista Elifaz Andreato.
“Eu sou contemporâneo da infância da UNE do movimento em que os estudantes se agregaram nessa forte inconstitucionalidade que se tornou o movimento estudantil que eu participei naquele início. Muito da minha formação da minha capacidade de compreensão da dimensão cidadã, muito disso veio da militância junto a UNE, junto ao Centro Acadêmico”, afirmou. E completou generoso: “Eu sou não só grato, mas devedor da UNE, por tudo isso que me deu”.
Para o músico essa geração é beneficiada por um longo tempo do que chamou de “exercícios libertários”. “Quiséramos ter naquela época, 40, 50 anos atrás o grau de autonomia que vocês tem hoje, o grau de compreensão sobre a complexidade, sobre a paradoxidalidade dessas coisas que vocês tem hoje que já podem reconstituir de fato uma trans-esquerda”, afirmou.
E se identificou com a juventude. “Quando jovem eu tive os mesmo impulsos, as mesmas esperanças, as mesmas atitudes desafiadoras que vocês jovens tem hoje. Vocês hoje são mais cultos e mais experimentados. O tropicalismo almejou tudo isso, expandir a compreensão sobre o mundo”, afirmou.
Ele finalizou a noite empolgando a plateia com a canção vencedora dos festival da Record de 1967 e talvez uma das suas músicas mais famosas: Domingo do Parque.
De hoje até domingo, serão mais de 90 atividades incluindo debates, conferências, oficinas, visitas guiadas, lançamentos de livros, vivências criativas, uma feira de economia solidária, atividades relacionadas a todas as áreas de interesse da juventude. Nas mostras estudantis selecionadas, a Bienal apresenta mais de 270 trabalhos, incluindo as áreas da música, audiovisual, literatura, artes cênicas, artes visuais, extensão, ciência e tecnologia. As atrações culturais terão grandes shows com artistas como Baiana System, Atoxxxa, Djonga, Francisco El Hombre, além de uma grande culturata de blocos de carnaval como o Ilê Ayê, Banda Didá e Filhos de Ghandy.
Post interessante – Livre docência