O problema das queimadas vai além da Floresta Amazônica que está sofrendo com o crescente número de focos de incêndio no mês de agosto. No estado do Mato Grosso, o fogo alcança o bioma do cerrado e já atingiu a Unidade de Conservação do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães.
O estado atingiu nesta segunda-feira (09), a marca de 16.182 focos de calor no período de 1° de janeiro até agora, segundo o satélite de referência do INPE. O mais alarmante é que, conforme divulgou o Instituto Centro de Vida (ICV) nos últimos nove dias, registraram-se impressionantes 2.036 novos focos. O aumento total é de 90% em relação ao mesmo período do ano passado. O Mato Grosso possui o maior número de focos do Brasil.
Porém, ainda que a maioria dos focos de calor sejam na região amazônica, a preocupação dos ativistas e profissionais ambientais também está com os incêndios no cerrado. O segundo maior bioma do Brasil possui uma das maiores diversificações de vegetação, indo de campos naturais até formações florestais.
Atuação dos brigadistas
Há vinte dias, profissionais do ICMBIO estão junto ao Corpo de Bombeiros, tentando combater o fogo que ocorre no entorno do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães. Até agora já foram atingidas propriedades rurais de pequenos agricultores e a região militar ocupada pelo exército na Estrada da Chapada – Rodovia MT-251. O que tem dificultado o trabalho dos brigadistas é o relevo acentuado do local, sendo necessário utilizar helicópteros do governo do estado para tentar o combate direto ao fogo.
Os incêndios se acentuaram na segunda-feira (26) e avançam rapidamente em direção ao Parque Nacional. As famílias que vivem na região estão sob toque de recolher e muitas tiveram que deixar suas casas pelo perigo da expansão do fogo. Também a capital do estado, Cuiabá, está sentindo as consequências, já que a fumaça é facilmente vista deixando a cidade tomada pela neblina.
Desmatamento e produção de grãos
Segundo o TerraBrasilis, plataforma desenvolvida pelo INPE sobre desmatamento, a área de cerrado que está sendo devastada no Mato Grosso corresponde à 45124.56 km². Há dois anos, as ONGs americanas “Mighty Earth” e “RFL” afirmavam sobre as relações entre o desmatamento do Cerrado e o cultivo de soja para a produção de gado. O estudo publicado apresentava a ligação das empresas Cargill e Bunge – fornecedoras de suprimentos para a rede de fast-food Burger King. Não à toa, o Mato Grosso possui o maior número de focos de incêndio e também ostenta a maior produção de soja do Brasil.
Moradores da região que não quiseram se identificar por medo de represálias, disseram que a atuação criminosa dos fazendeiros é frequente e que utilizam-se das queimadas para depois colocarem pasto para o gado. Afirmam também que com o passar dos anos a agricultura familiar ficou prejudicada pela falta de água. Especialistas ambientais por diversas vezes já demonstraram que o desmatamento está intimamente ligado à destruição de nascentes.
Desafios
O Parque Nacional da Chapada dos Guimarães vem sendo alvo de deputados estaduais que propõe a estadualização da Unidade de Conservação. Ocorre que, segundo nota emitida pelo Ministério Público do Estado do Mato Grosso no ano passado, historicamente o estado não tem demonstrado preocupação político/ambiental com as suas Unidades de Conservação estaduais, quem dirá assumir responsabilidades inerentes ao Governo Federal. O MPE afirmou sua posição frontalmente contrária à estadualização.
Ainda, há a pressão para redução da área protegida, que também tem sofrido com a duplicação da rodovia que corta a área e o despejo de esgoto sem tratamento.
Em 2019, o Parque comemorou 30 anos de implementação.