Com muita comoção após meses de mobilização e anos de construção coletiva, o Senado aprovou por unanimidade a Proposta de Emenda Constitucional 26/2020, do novo e permanente Fundeb, nesta terça-feira, 24/8. Isso significa que o principal mecanismo de financiamento da escola pública brasileira não vai mais acabar em 2020. Ele fará parte da Constituição Federal, com maior contribuição da União e com a ferramenta de Custo Aluno Qualidade (CAQ).
A PEC é promulgada nesta quarta, 26/7, como Emenda Constitucional 108/2020.
“Essa é uma vitória que vai entrar para a história do nosso país, que vai marcar a nossa e futuras gerações”, comemora Rozana Barroso, presidenta da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, ao agradecer a pressão do movimento estudantil.
Senadores demonstraram entusiasmo ao falar da importância do direito à educação com qualidade para o Brasil pós-pandemia. Entre tantas medidas emergenciais recentes, a decisão sobre o Fundeb foi colocada como um alento para o futuro.
Ao apresentar a proposta, o relator Flávio Arns lembrou que o texto “é fruto de uma construção coletiva” e que o Senado trabalhou em conjunto com a Câmara na proposta em mais de 15 audiências públicas. Arns citou as diversas organizações que trabalharam pelo texto, entre elas a UBES.
Há cinco anos a UBES defende a renovação de um Fundeb permanente com mais recursos da União e teve esta como principal bandeira no último mês.
Na nota em que comemoram a vitória, as entidades estudantis UBES, UNE e ANPG também destacam as tentativas do governo federal de desmontar a proposta do Fundeb e de esvaziar o orçamento do Ministério da Educação para o ano que vem. “Não vamos desistir de transformar o Brasil por meio do investimento no ensino”, afirmam.
Apesar do descaso do governo federal, todo o movimento estudantil comemora uma boa notícia em tempos de crise. Diretor de Políticas Educacionais da UBES, Herbert Coelho lembra a importância de se aprovar o novo Fundeb em meio a uma crise sanitária, econômica, política e social: “Nossa luta é para garantir uma educação de qualidade a cada estudante, e a educação é um dos principais instrumentos de transformação da sociedade”.
Mais de 80 mil assinaturas foram entregues simbolicamente ao Senado em uma live antes da votação, com participação do senador Randolfe Rodrigues (Rede/AP), a UNE, a UBES, a Campanha Nacional Pelo Direito à Educação e o Movimento Interfóruns de Educação Infantil do Brasil (Mieib).
“Se não fosse a sociedade organizada, teríamos aprovado o Fundeb do governo, sem o aumento de 23% de investimento da União. Isso será uma revolução na educação brasileira”, disse o senador Randolfe.
A retirada de três destaques ao texto da PEC e a falta de apoio para outros seis foram vitórias da mobilização. Um ponto muito comemorado é a aprovação do texto integral com o Custo Aluno Qualidade (CAQ), uma ferramenta que o governo federal tentou retirar da proposta. O CAQ vai garantir padrões dignos de ensino e aprendizado para cada estudante.
Daniel Cara, da Campanha Nacional Pelo Direito à Educação, explica: “Esse padrão mínimo de qualidade significa escolas bem equipadas, professores bem remunerados e número adequado de estudantes por turma. Ou seja, isso não poderá faltar para nenhum estudante do Brasil”.
2015 – PEC 15/2015 é proposta na Câmara. Até o início da pandemia, foram mais de 40 audiências públicas sobre a proposta.
2018 – Secundas debatem e se engajam pelo tema em Seminário de Educação. Também foi pauta da UBES dentro do Fórum Nacional Popular de Educação (FNPE).
2019 – No movimento Todos Pelo Novo Fundeb, secundas e entidades pressionam a Câmara para votar o assunto.
2020 – julho – Câmara vota a PEC do Fundeb (15/2015) mesmo sem participação do governo Bolsonaro nos debates. Na última hora, o governo tenta desarticular a votação e alguns deputados tentar modificar a proposta, mas com pressão o texto é aprovado na íntegra.
2020 – agosto – Aprovação da PEC 26/2020 no Senado. Além da mobilização nas redes, estudantes e entidades entregaram mais de 80 mil assinaturas ao Senado.
A meia-entrada é um direito dos estudantes, mas é necessário soicitar o seu DNE para garantir esse direito.