Em meio a uma pandemia inédita e um governo federal irresponsável, a estudante Rozana Barroso assume a tarefa de presidir provisoriamente a União Brasileira de Estudantes Secundaristas, entidade representativa dos 42 milhões de estudantes de ensino fundamental, médio e pré-vestibular – este último, caso da fluminense.
Esta gestão provisória recebe o desafio enorme de continuar propondo caminhos de solidariedade e justiça em uma crise muito grave e inédita até que as eleições da UBES possam ocorrer em segurança. A decisão da Diretoria Plena por adiar o 43º Congresso, que aconteceria de 30 de abril a 3 de maio, coloca a saúde e a vida da população em primeiro lugar, como secundaristas têm feito desde a chegada do novo vírus ao Brasil.
Diante de tantas situações adversas, Rozana diz confiar ainda mais na força de meninas e meninos secundaristas para lutar contra injustiças e propor novos caminhos para o país, sem deixar ninguém para trás. Mulher, negra e feminista, ela assume a presidência após a primeira gestão com a mesa diretora 100% negra.
Natural de Campos dos Goytacazes (RJ), Rozana explica que, graças à força do movimento estudantil, sonha em ser a primeira da sua família a entrar numa universidade federal.
Depois de toda a vida em escola pública, Rozana se prepara para o Enem em um curso pré-vestibular popular. Tem dois irmãos secundaristas, além de seus pais, que atualmente cursam o Ensino de Jovens e Adultos (EJA). Por isso conhece bem a realidade fora dos comerciais do Ministério da Educação. E vê o adiamento do Enem como uma das principais lutas de hoje por justiça e igualdade.
“Eu sonho com o Enem há anos! Em respeito ao necessário isolamento social, meu cursinho nem começou as aulas este ano. E não temos Ensino a Distância, como muitos cursinhos e escolas particulares”, revolta-se. “Lutamos por um futuro que inclua todos nós.”
Não é de hoje que a luta faz parte da vida dela, assim como a música, a arte, o feminismo. Rozana compôs a gestão 2017-2020 da UBES, como diretora de Escolas Técnicas. Ela então esteve na liderança de um dos maiores movimentos de resistência ao governo Bolsonaro, o #TiraAMãoDoMeuIF e os tsunamis da Educação, em maio de 2019.
Antes disso, integrou a União Estadual dos Estudantes Secundaristas do Rio de Janeiro. No estado, participou do enorme movimento de ocupações de escolas em 2016. Na época, foi uma das lideranças da ocupação da sua escola, a Faetec João Barcelos Martins, em Campo dos Goytacazes (RJ), pela valorização dos professores e das escolas no estado.
Com muita facilidade para emendar assuntos descontraídos e questões sérias, ela diz que esta trajetória deixou cada vez mais clara a importância da escola pública valorizada como única opção para um país justo, democrático e desenvolvido. “Se a gente não lutar por ela, ninguém vai”, afirma, muito séria. E logo sorri: “Ainda bem que não nos falta força e coragem para isso.”