Ser jovem no Brasil já é, por si só, um desafio. Ser jovem e LGBTQIAPN+ é, diariamente, um ato de resistência. Em meio a um cenário que insiste em nos empurrar para a invisibilidade, para o silêncio e para o medo, nós seguimos. Seguimos ocupando espaços, transformando realidades e mostrando que o orgulho, a existência e o direito de ser quem somos não se negociam.
O Brasil carrega, infelizmente, uma marca vergonhosa: seguimos liderando o ranking mundial de assassinatos de pessoas LGBTQIAPN+, segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) e do Grupo Gay da Bahia. Em 2024, mais de 120 pessoas da nossa comunidade perderam suas vidas vítimas do ódio e do preconceito. Mas não somos apenas números. Somos histórias, sonhos, famílias e, principalmente, força coletiva.
É nesse cenário de contradições que a escola assume um papel central. A escola deve ser o espaço do saber, do acolhimento, do respeito e da construção cidadã. No entanto, para milhares de estudantes LGBTQIAPN+, o ambiente escolar ainda representa insegurança, discriminação e violência. Não são raros os casos de bullying, agressões verbais e físicas, negação de identidade e silenciamento das nossas vozes.
Por isso, reafirmamos: a escola precisa ser um território livre de preconceito. Defendemos a construção de uma educação pública, gratuita, de qualidade, inclusiva e comprometida com o respeito à diversidade em todas as suas formas. Não aceitamos retrocessos. Não aceitamos que nossos direitos sejam tratados como privilégios ou que nossas vidas sejam alvo de discursos de ódio e perseguição.
O movimento estudantil, através da UBES (União Brasileira Das/Dos Estudantes Secundaristas), dos grêmios, dos coletivos e de cada estudante organizado, tem um papel fundamental na defesa das pautas LGBTQIAPN+. Nossa luta vai além das salas de aula. Ela se estende para as ruas, para as redes sociais, para os debates e para cada espaço onde a juventude ousa sonhar e resistir.
Orgulhar-se não é romantizar o movimento. É reconhecer o direito inegociável de existir com dignidade e respeito. É levantar a cabeça, mesmo diante do medo. É transformar o luto em luta, o preconceito em força, a dor em mobilização. Orgulhar-se é reivindicar o básico: o direito de ser, de amar, de viver.
Como diz a frase de Leonardo Lamin, estudante e militante:
“A educação secundarista é o alicerce onde os sonhos ganham forma, e a juventude descobre sua voz para transformar o mundo.”
E essa transformação só é possível quando todes podem existir sem medo. Quando a escola acolhe, quando o Estado protege, quando a sociedade respeita. A juventude LGBTQIAPN+ é protagonista dessa mudança. Somos estudantes, somos resistência, somos o presente que constrói um futuro mais justo, igualitário e plural.
Seguiremos em marcha. Seguiremos nas escolas, nas assembleias, nos congressos e nas ruas. Porque enquanto houver preconceito, haverá luta. Enquanto tentarem nos silenciar, nossa voz se fará ainda mais alta. E enquanto houver juventude organizada, haverá esperança.
Orgulhem-se. Lutem. Resistam. Existam. Porque ninguém vai nos parar.
Leonardo Lamin
Diretor de Políticas LGBTQIAPN+ da UBES