Nesta quarta (26), estudantes e professores marcharam até a Assembleia exigindo mudanças na gestão Alckmin
Um clima de esperança e coragem tomou as ruas de São Paulo nesta quarta (26/03). Foi com muito barulho que a juventude se mobilizou, por meio de diversas entidades do movimento social, para exigir melhorias na precária educação da rede estadual, o fim do extermínio da juventude negra e também a abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investigue as denúncias de corrupção no Metrô paulista.
Em 2014, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) cortou em 36,62%, em relação a 2013, a verba de São Paulo para construir escolas, realizar reformas estruturais nos prédios e comprar equipamentos. Os investimentos, que no ano passado foram de mais de R$ 749 milhões, caíram para pouco mais de R$ 474 milhões em 2014, uma redução de aproximadamente R$ 275 milhões. Este é o menor valor destinado à educação em toda gestão Geraldo Alckmin (PSDB). Os dados são da Secretaria Estadual da Fazenda e estão disponíveis na ferramenta Sistemas de Informações Gerenciais da Execução Orçamentária (Sigeo).
Também segundo dados do Sigeo, em reportagem publicada no portal RBA (Rede Brasil Atual), o programa que mais perdeu verba para investimento foi o Escola da Família (99,9%), ficando com o orçamento de R$ 10 para este ano.
Cansada, a juventude tomou as ruas da capital para protestar, certo de que somente com muita luta é possível mudar.
Artur, estudante do terceiro semestre de Relações Públicas da FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas), mostrou muita insatisfação, não só com sua universidade, mas também com o governo estadual. A “questão do metrô”, a qual se refere Artur é suspeita do desvio de R$ 450 milhões em obras do Metrô, envolvendo as gestões de Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, entre 1998 e 2008, e 12 empresas que são acusadas de formação de cartel.
O ato também pediu o fim do extermínio da juventude negra. Em sua coluna na Folha de S. Paulo, a jornalista Mônica Bergamo publicou, no último dia 25/03, dados alarmantes sobre a atuação da polícia contra os jovens negros. “Os policiais militares de São Paulo envolvidos em ocorrências com mortes são na maioria brancos (79%), entre 25 e 39 anos (73%) e homens (97%). Do lado das vítimas, 61% são negras, 57% tinham menos de 24 anos quando morreram e 97% são homens”. Os dados são resultados de pesquisa da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) com base em números de 2009 e 2010.
Às 14h30, o carro de som se posicionou na pista sentido Paraíso e a juventude partiu rumo à Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp). Faixas, bandeiras, caras pintadas. Os estudantes gritaram palavras de ordem, cantaram e convocaram todos os paulistanos presentes nos trajeto a se juntarem à luta por um Estado melhor, digno da grandeza daquele que recebeu o justo apelido de “locomotiva do Brasil”.
Proibidos de adentrar à Alesp portando tambores, megafones e até mesmo guarda-chuvas, cada um dos estudantes passou pela revista da Polícia Militar, que foi lenta.
Demorou até que todos conseguissem entrar no plenário Juscelino Kubitschek, local da esperada votação pela alteração no plano de carreira de colaboradores e professores das Fatecs e Etecs. Lá, pregaram faixas e bandeiras nas paredes exigindo a aprovação do Projeto de Lei Complementar 7/2014, de alteração da Lei Complementar 1.044/2008, que institui o plano de carreira dos servidores do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza (Ceeteps) e das Escolas de Ensino Técnico (Etecs) e as Faculdades de Tecnologia (Fatecs) que integram o centro.
A votação, inicialmente marcada para as 19h, só ocorreu por volta das 21h, e o projeto foi aprovado por unanimidade. O clima de luta deu espaço então à comemoração.
Ao deixar o Palácio 9 de Julho, sede da Alesp, com lágrimas nos olhos, Marinês, que é bibliotecária da Fatec Jundiaí, desabafou: “Estou com a alma lavada, pois a luta foi muito grande. O pessoal [outros professores] voltou, mas eu fiquei aqui, porque sabia que íamos conseguir. Sempre acreditei. Agora estamos com a vitória na mão. A união fez essa força, valeu muito a luta de todos envolvidos”, desabafou a bibliotecária.
A Jornada Nacional de Lutas da Juventude começou por volta das 8h em São Paulo com a mobilização dos estudantes das universidades da Rua Vergueiro, tradicional centro de concentração de instituições privadas da capital paulista.
O diretor de Universidades Privadas da UNE, Mateus Weber, explica que a Jornada vem denunciar a indignação da população com a falta de qualidade nos transportes públicos, nas falhas dos metrôs, que acontecem quase que diariamente. “O dinheiro que deveria ser gasto para melhorar as estruturas do sistema, vai, na verdade, para o esquema de cartel que o governo do estado montou”, afirma.
Para Carina Vitral, presidente da UEE-São Paulo, é necessário uma CPI urgente para apurar essa corrupção. “A luta prioritária de hoje é que se abra a investigação das licitações do metrô. E é inadmissível que mesmo com todas as falhas e superlotação o governo ainda use os transportes como bandeira política”, avalia.
Em frente a uma sede do Metrô, na Rua Vergueiro, os estudantes realizaram uma faxina na escadaria para reivindicar por uma CPI que apure as denúncias de corrupção nas licitações do Metrô no Governo do PSDB em São Paulo, chamada de “CPI do Trensalão”.
Enquanto lavavam, cantavam: “Nas ruas de março eu fecho o quarteirão, eu quero CPI para investigar o trensalão”
Fazem parte da Jornada Nacional de Lutas da Juventude entidades estudantis, as juventudes do movimento social, dos trabalhadores (as), da cidade, do campo, as feministas, os negros e negras, as juventudes partidárias, religiosas, lgbt, dos coletivos de cultura e das periferias. Assinam o manifesto da Jornada as seguintes organizações:
ABGLT, ANPG; APEOESP; Associação Cultural B; Centro de Estudos Barão de Itararé; CONAM, CONEM, Consulta Popular; ECOSURFI; Enegrecer; FEAB; Federação Paulista de Skate; Fora do Eixo; Juventude da CTB; Juventude da CUT; Juventude do PSB; Juventude do PT; Juventude Pátria Livre; Juntos; Levante Popular da Juventude; Marcha Mundial das Mulheres; MST; Nação Hip Hop Brasil; Pastoral da Juventude, PJMP, PCR; REJU; REJUMA; UBES; UBM, UJS; UNE; UPES.
Yuri Salvador e Sara Puerta
Do site da UNE