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UNE 77 anos, um livro sem ponto final

No dia do Estudante a entidade que representa mais de 7 milhões de estudantes relembra suas lutas

Primeiro de fevereiro de 2007, Rio de Janeiro. Milhares de estudantes tomam as ruas da cidade, após a realização da 7ª Bienal da UNE, e ocupam o terreno da Praia do Flamengo 132, onde havia sido o prédio-sede da entidade máxima do movimento estudantil, incendiado e demolido pela ditadura. Em meio a toda catarse, perplexidade e daquela multidão de olhos marejados, um senhor nutria uma preocupação bastante legítima:

“Vou ter que reescrever um novo capítulo para o final do meu livro”, comentou Arthur Poerner, o maior conhecedor e especialista na história da UNE, autor do clássico “O Poder Jovem”. Abismado com a dimensão e importância daquele episódio, Poerner sentiu que precisava registrá-lo o mais rápido possível em uma reedição de sua obra.

 Todavia, o problema que se apresenta objetivamente ao escriba é o de que, de 2007 para cá, a UNE realizou duas caravanas por todo o país, ocupou por inúmeras vezes a Esplanada dos Ministérios e o Congresso Nacional, conseguiu a aprovação da PEC da Juventude e do Estatuto da Juventude, participou da jornada de manifestações de junho de 2013, conquistou os royalties do petróleo e recursos do pré-sal para a educação, conquistou 10% do PIB para a educação e muito mais.

Escrever a história da UNE é como deixar um livro permanentemente sem ponto final. Quando menos se espera, uma nova geração de estudantes brasileiros muda o curso de tudo que já havia sido feito, se reinventa, descobre um novo norte, uma nova causa, cria um novo acontecimento que altera o futuro do país e da juventude.

A UNE nasceu no dia 11 de agosto de 1937, a partir da união de diversas organizações de estudantes que já atuavam separadamente no país. Pouco tempo depois, a entidade teria um papel fundamental na oposição aos movimentos do nazismo e do fascismo no país, durante a segunda guerra mundial. Um dos episódios mais marcantes desse período foi a tomada do clube Germânia, no endereço da Praia do Flamengo 132. Antigo reduto dos apoiadores do Eixo na guerra, o espaço foi então doado pelo presidente Getúlio Vargas para ser a sede da UNE.

Durante a década de 50 e 60, a UNE cresceu, junto com aquele local, promovendo campanhas como a do “Petróleo é Nosso”, contra o imperialismo no Brasil, a favor das reformas de base, da educação, da reforma universitária. Na Praia do Flamengo, a UNE recebeu visitas como a do presidente João Goulart e do astronauta Yuri Gagarin. Lá foi criado o Centro Popular de Cultura, o CPC da UNE, uma das principais iniciativas culturais do país naquele período. No começo da década de 1960, a UNE lançou também a sua primeira caravana, a UNE Volante, que rodou o país pela primeira vez conhecendo a realidade da juventude de diversas regiões.

Com o golpe militar de 1964, a primeira ação dos que roubaram o poder foi incendiar e metralhar a sede da UNE, na noite de primeiro de abril de 1964. As entidades estudantis foram postas na ilegalidade, começou um período de perseguição e cerceamento aos movimentos de juventude. Os congressos da UNE passaram a ser clandestinos, como o de Belo Horizonte em 1966 e o de Ibiúna (SP) em 1968, que terminou com todos os participantes presos.

Após a instauração do Ato Institucional número 5 (AI-5), a repressão tomou seu caráter mais cruel, com torturas e aniquilamento quase completo das organizações de juventude. Foi nesse momento que a UNE conheceu um dos seus maiores heróis, Honestino Guimarães, presidente entre os anos de 1971 e 1973, quando foi preso e assassinado pela ditadura militar.

Mesmo assim, a UNE resistiu e, em 1979, foi reconstruída em um congresso na cidade de Salvador (BA). No começo da década de 1980, como enfraquecimento do regime, os estudantes tentaram retomar a sua sede na Praia do Flamengo, mas o prédio foi demolido pelo governo militar, em um dos seus últimos gestos de repressão à juventude organizada. A UNE esteve então presente na campanha das Diretas Já, retomando o seu caráter de massas e de intervenção nas principais questões nacionais.

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Foi assim que, em 1992, o movimento estudantil teve papel central no episódio do Fora-Collor, quando a UNE, a UBES e os jovens cara-pintadas foram personagens principais da campanha que levou ao impeachment do então presidente Fernando Collor de Melo. Na década de 1990, a UNE combateu o neoliberalismo na educação, a privatização do ensino superior e manteve-se firme na defesa da universidade pública.

Já no século XXI, os estudantes retomaram, com força, a sua atividade cultural, com a realização das suas Bienais de Arte e Cultura e a criação do Circuito Universitário de Arte e Cultura (CUCA da UNE). Foi também quando a entidade voltou a realizar suas caravanas pelo país, recuperou com mais força o tema da reforma universitária e começou a colher grandes conquistas, como a criação do Prouni e a expansão do ensino superior.

A partir de 2010, a UNE e o movimento estudantil definiram um marco, um número, uma meta como símbolo de sua principal luta: 10% do PIB para a educação. Essa foi uma luta que tomou corpo depois da Conferência Nacional de Educação e espalhou-se pelas ruas de todo o país como a principal bandeira dos estudantes.

Em 2011, os jovens tomaram a Esplanada dos Ministérios com o movimento “Agosto Verde e Amarelo”, no final do mesmo ano, voltaram para ficar, no acampamento “Ocupa Brasília”. Esses movimentos tiveram, como resultado, vitórias como a aprovação dos recursos do pré-sal para a Educação. Em 2013, o financiamento da Educação foi um dos grandes temas das manifestações de junho. A luta cresceu e, em 2014, os estudantes conseguiram finalmente a aprovação dos 10% junto ao Plano Nacional de Educação.

A história está, ainda, em construção.

Veja também a linha do tempo da descomemoração do Golpe de 64 que conta sobre o protagonismo da UNE na resistência à ditadura e na luta pela redemocratização do país.

Redação da UNE