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Criolo: ‘Desde que me entendo por gente vão pra favela assassinar jovens’

Para o rapper, redução da maioridade penal só ‘coloca no papel’ realidade vivida nas periferias

Preocupado com a situação do povo brasileiro, Criolo afirma que a redução da maioridade penal é apenas uma regulamentação do que já é feito. Veja trecho da entrevista produzida pela Carta Capital.

Carta Capital: Qual é a sua opinião no debate sobre a redução da maioridade penal? 

Criolo: Já foi reduzido, só faltou colocar no papel. Desde que eu me entendo por gente, vão para favela assassinar jovens. Só estão regulamentando. Desde pequeno, a gente sabe: ‘ó, o muleque ali foi assassinado, meteram bala nele’. Seja pela força que representa o governo, seja pela mazela social ligada à desventura das coisas horríveis que são oferecidas a nossos jovens. Isso já foi taxado.

A gente luta para que exista uma mudança de concepção. Porque não é só ensinar que um mais um é dois, que o Ceará fica no Nordeste e Porto Alegre fica no Sul, mas dar um ambiente de construção de texto, propício para que todo jovem brasileiro possa ter ambiente de discussão. Senão, não vai adiantar nada. A gente luta para que exista uma compreensão melhor de ser humano em nosso país.

CC: Você acredita que essa medida atinja em maior escala a população pobre?

C: Afeta todo mundo, porque ódio só gera ódio. Até agora, não vi ninguém querendo trabalhar com a causa, só querem trabalhar com efeito para ganhar ibope. É óbvio que existe uma guerra, não vamos virar as costas e fingir que não está acontecendo uma guerra civil no país. Mas o rap vem falando isso há mais de 40 anos no Brasil. E o pessoal vem falar disso agora?

Que bom que estão falando, não vou tirar ninguém. Opa, demorô, vamos falar, discutir, conversar. Se educação é comércio e saúde é comércio, você já vê por aí. O tanto que os caras roubam da gente todos os dias, era para todo mundo ter uma situação maravilhosa no Brasil, ninguém estar passando essa dificuldade toda. Eu nem diria dificuldade, passar dificuldade é uma coisa, você lida com isso. Passar por humilhação, aí é fogo.

CC: Você defende que a falta de diálogo é um de nossos maiores problemas. Esse quadro tem piorado?

C: Mas não só a falta de diálogo quando surge um tema. Uma falta de diálogo global, desde a concepção do ser, é necessário criar um ambiente que não seja só para passar a nossas crianças que um mais um é dois e questões de geografia. Mas esse perceber ser capaz de construir diálogo. Perceber-se construção de pensamento.

Não é só diálogo na hora que o bicho tá pegando, porque, na hora que a bala tá comendo, como você vai resolver? Vem falar para mim que uma poesia vai ser uma solução? E também é. A força da poesia é algo brutal. Mas, na hora que o bicho tá pegando, não adianta trazer flores. A verdade é muito dura. Tudo que está acontecendo já foi arquitetado, alguém imaginou que iria ser desse jeito e como se aproveitar da situação.

Acesse aqui a entrevista completa no site da Carta Capital.