Entrevistamos o diretor de Escolas Técnicas da UBES, Fillipe Matias, para discutir um pouco sobre as pautas o ENET e ainda saber as expectativas em torno do evento. O XIII Encontro Nacional de Escolas Técnicas se realiza no Rio de Janeiro, entre os dias 1º e 4 de fevereiro. Confira a entrevista abaixo:
UBES: No ENET, uma das pautas que estão em discussão é o acesso. Quais são os problemas enfrentados pelos alunos do ensino técnico? E como podemos resolvê-los? Entra em pauta o passe livre estudantil?
Fillipe Matias: A expansão do ensino técnico do Brasil é pautada pela UBES há mais de dez anos e essa da democratização do acesso não foi diferente. A gente tem hoje o Sisutec, as cotas, a segunda opção de curso, a expansão que deu mais vagas. Mas ainda há o que melhorar. Um dos principais problemas é da ampliação da assistência. A estrutura dos campi, em sua maioria, as redes federais, precisam de melhorias. Os investimentos são altos, mas ainda há muitas obras inacabadas e por fazer, o que compromete a qualidade do ensino técnico.
É claro que a questão do passe livre entra também nessa pauta. Mas fica mais na permanência, do que na discussão do acesso. O problema hoje é que não há passe livre irrestrito, você tem só uma vez por dia (uma para ir e outra para voltar da aula). E os estudantes do ensino técnico querem entrar no mercado de trabalho, e para isso, precisam fazer um curso de línguas, por exemplo, e precisam se deslocar, gastando assim do seu bolso o valor dessa passagem.
UBES: A assistência estudantil também vem como uma pauta importante, mas porque este é um ponto que deve ser discutido? O que falta para os estudantes do ensino técnico? Como essa assistência precisa ou será empregada?
Fillipe Matias: Não tem como a gente falar de democratização do acesso, sem falar em assistência estudantil. Porque nós não queremos apenas que a pessoa entre numa instituição, queremos que ela tenha assistência de moradia, auxílio transporte… Principalmente para aquela galera que vem do interior, vem de outro estado, ou vem da capital para o interior para fazer um curso, né? O que falta hoje é um investimento maior na assistência estudantil, principalmente na questão da alimentação. Existe um projeto da UBES, em parceria com o Conif para pressionar o MEC. A ideia é que nos próximos três ou quatro anos, os campi dos Institutos Federais tenham restaurantes para os alunos, como já acontece em universidades públicas pelo país.
UBES: Nos últimos 12 anos o Brasil assiste à expansão da rede técnica federal, o número que em 2002 era de 140 escolas técnicas, até o fim de 2014 tinha a promessa de ser triplicado e chegar ao total de 562 unidades. Porque este número ainda é pequeno?
Fillipe Matias: Esse número ainda é pequeno, porque grande parcela dos jovens ainda está fora do mercado de trabalho. As vagas para as instituições federais ainda são poucas. Tendo uma gama de jovens, que ainda precisam de formação técnica no país. A expansão que aconteceu nos últimos anos foi criada justamente para qualificar essas pessoas. E se essa rapaziada está fora do mercado de trabalho, ela tá aonde? Está na rua, ou trabalhando muito o dia inteiro para ganhar pouco. Está deixando de estudar para trabalhar. Acabamos de aprovar a meta 11 do PNE, que é triplicar as vagas no ensino técnico, sendo 50% na rede pública. E o que a gente defende e tenta garantir com isso, é que os institutos federais tenham a maior parcela desses recursos e sejam os protagonistas nessa expansão.
UBES: Outro tema que norteia a ENET é a qualidade do ensino. Hoje, quais são as críticas do movimento estudantil quanto a qualidade do ensino técnico no país? Onde é preciso avançar?
Fillipe Matias: A expansão possibilitou um número muito grande de instituições, mas a qualidade não acompanhou o crescimento. O que pautamos hoje é que a qualidade venha integrada à expansão. Se vamos triplicar o número de vagas, então não podemos cometer os mesmos erros. Defendemos que se construam mais campi, mas que a qualidade acompanhe. É preciso que haja contratação de professores, a assistência estudantil, infraestrutura adequada, tudo isso para garantir a permanência do estudante. Porque não adianta ter um laboratório, senão há um professor para dar aula, isso vai comprometer o estudo e a qualidade.
UBES: Qual a expectativa de público? E como a UBES está se organizando para o evento?
Fillipe Matias: Estarão presentes estudantes de todas as regiões do país e a UBES está organizando o evento de uma forma bem dinâmica. Há espaço para falar sobre cultura, sobre o ensino técnico de forma geral e dentro disso, o que nós queremos é discutir e aprovar uma Jornada de Lutas para 2015 em defesa do ensino técnico. Não conseguimos isso nas gestões passadas, mas estamos com um gás novo. Junho de 2013 mostrou que a juventude não está parada e quer mais melhorias, a gente quer mudanças e vamos com tudo para aprovar isso.