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O que aconteceu com a educação paranaense?

Presidenta da UPE, Elys Maryna, fala com exclusividade sobre a crise no governo tucano de Beto Richa

De região próspera à bancarrota, o Paraná passa por uma das maiores dificuldades da sua história. A União Paranaense dos Estudantes Secundaristas (UPES), UBES, UPE e UNE têm protagonizado uma série de batalhas contra o desmonte da educação pública no Estado desde o início do ano de 2015. O governo afirma não ter dinheiro para bancar as contas básicas de salários e repasses mensais de universidades e escolas. A população questiona e o movimento estudantil afirma: “essa crise não é nossa, e nós não vamos pagar por ela”.

Leia abaixo a entrevista exclusiva em que a presidenta da UPE, Elys Marina, concedeu para o site da UNE na qual ela dá uma panorama geral sobre o cenário.

UNE: Quais as causas dessa crise econômica que o governo Beto Richa (PSDB) tem usado para justificar ações como o “Pacotaço”?

ELYS: As reais causas dessa crise são ocultadas pelo governo. Em um Estado que teve um aumento na arrecadação líquida de 49,53% nos últimos quatro anos fica difícil pensar em como chegamos a essa crise. O governador [Beto Richa] e seu secretário da Fazenda [Mauro Ricardo Costa] alegam que o Estado está com o caixa vazio e sem capacidade de investimento, sem dar grandes justificativas. Mas é necessário pontuar que essa crise foi uma opção política, afinal de contas o que levou à quebra da economia do Paraná foram os gastos abusivos com publicidade, com os cargos comissionados – o que representa R$ 507 milhões no ano de 2014, por exemplo, mas que entre os quatro anos do último governo tiveram um aumento de 349% – e principalmente a amortização da dívida e pagamento de juros – que foi em média R$ 1,4 bilhão por ano.

Além disso, cabe problematizar a quem essa crise atinge. Afinal, enquanto se corta salários e direitos de servidores públicos e professores, setores do judiciário recebem altos valores em auxílio moradia, além do aumento salarial dos parlamentares e dos próprios secretários e o governador, medidas essas aprovadas recentemente.

UNE: Toda educação paranaense está em greve?

ELYS: A greve começou com os professores e funcionários das escolas da rede estadual de ensino, mas se alastrou por várias outras categorias do funcionalismo público – agentes penitenciários, caminhoneiros, servidores da saúde etc. Atualmente, os professores e técnicos também de todas universidades estaduais estão paralisados, não só pelo atraso dos salários, mas pela falta de condições de trabalho. É a primeira vez que todas instituições entram em greve simultaneamente.

Nas escolas faltam funcionários, falta investimento em questões básicas, está acontecendo demissão de professores e funcionários temporários sem o pagamento da rescisão, o salário dos professores estão atrasados e existiam ainda diversas propostas para piorar os planos de carreiras bem como as condições de trabalho que foram derrotadas com a retirada do projeto do ‘pacotaço’ da Assembleia Legislativa.

UNE: E nas universidades estaduais?

ELYS: Nas universidades também faltam funcionários e os salários estão atrasados e a situação também é caótica. As instituições além de estarem sucateadas, não tem investimento em assistência estudantil, várias obras estão paralisadas há anos e o governo sequer repassou o custeio necessário para o funcionamento básico das universidades pro início do ano letivo de 2015, que ameaçaram fechar as portas pela falta de recursos. Enquanto os reitores apresentaram a necessidade de R$ 124 milhões o governo diz só ter condições de repassar R$ 9 milhões, ou seja, menos de 10%.

Existe ainda uma proposta muito questionada por reitores, pelo movimento estudantil e a comunidade acadêmica em geral. Chamando de uma pretensa “Autonomia Universitária”, o governo propõe através de um projeto de lei que as universidades passem a ter autonomia na gestão de seus recursos e um repasse orçamentário anual congelado, fazendo com que essas instituições tenham o poder de decidir inclusive sobre o plano de carreira de professores e técnicos e que tenha que buscar financiamento por outros meios, aproximando-as cada vez mais do setor privado ou mesmo da cobrança de mensalidades.

UNE: Como está posicionado o movimento estudantil em meio a esta crise?

ELYS: O movimento estudantil tem se somado à luta em apoio aos professores para combater todas essas medidas neoliberais do governo Beto Richa buscando garantir o direito de todos os trabalhadores e do povo paranaense em geral. Portanto os estudantes dizem: essa crise não é nossa, e nós não vamos pagar por ela.

Esse é um momento de resistência contra as medidas do governo, mas, além disso, serve também para que os estudantes possam pautar as deficiências que já existem nas universidades, portanto o posicionamento do Movimento Estudantil é que sejam apresentadas essas demandas dos mais diversos campi para que os problemas de urgência, como a permanência estudantil e a finalização de prédios, sejam resolvidos. Além de nos posicionarmos veementemente contra o projeto de “Autonomia Universitária” apresentado pelo governo, que vai totalmente na contramão da verdadeira autonomia que defendemos e que já é garantida constitucionalmente.

Da UNE
Cristiane Tada com edição de Rafael Minoro.