O amplo movimento de ocupação das escolas paulistanas no último ano parece ter gerado preocupação na Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, que neste mês de abril deu início à organização de grêmios estudantis. Apesar de ter como meta ampliar a participação dos 3,7 milhões de alunos da rede pública, a iniciativa não foi bem vista pelos estudantes, já que parte do processo será conduzida pela direção escolar.
Para os secundaristas, a iniciativa da Secretaria é reflexo de um governo que não estabeleceu diálogo com a juventude e tenta correr atrás do prejuízo. No período de ocupação das 221 escolas contra o projeto de reorganização escolar e sucateamento do ensino, a administração de Geraldo Alckmin (PSDB) agiu com violência e repressão.
A presidenta da União Paulista dos Estudantes Secundaristas, Angela Meyer, também denuncia as estratégias do projeto atual. “Achamos importante o estímulo à democracia, mas é preciso frisar que antes da reorganização, a Secretaria de Educação impedia os grêmios de atuar e agora a situação se inverteu. Neste momento, os alunos que eram ligados ao movimento estudantil estão sendo barrados de participar das eleições de grêmio, as direções estão controlando o processo eleitoral, ferindo a auto-organização”, denuncia.
“A Secretaria também tem impendido a UPES e o movimento estudantil de entrar nas escolas e participar do processo de construção dos grêmios, direito que historicamente defendemos e contribuímos para que fosse livre e dos estudantes”, rechaça Angela.
ELEIÇÕES DIRETAS PARA DIRETOR
A necessidade de tornar a democracia uma realidade nas escolas também mobiliza e será tema central do 18º Congresso da UPES, que terá como uma de suas pautas centrais a gestão democrática com eleições diretas para diretor e a real atuação do grêmio livre.
“O congresso da UPES vai focar na democracia dentro da escola, que precisa ser valorizada e levada em conta pela Secretaria. Os estudantes têm total e livre poder de organização, os grêmios são livres, eles devem se organizar e não é isso que está acontecendo”, declarou a líder estudantil.
O evento que reunirá estudantes de todo estado de São Paulo acontece na capital, nos dias 29, 30 de abril e 1º de maio. Acesse aqui e saiba mais.
DIREITO AO GRÊMIO É LEI
Apesar da iniciativa do governo, o direito à formação do grêmio nas escolas é garantido por lei. Chamada de Lei do Grêmio Livre, foi conquistada em 1985 após um movimento de luta pela democracia realizada pela UBES e as demais entidades estudantis que a compõe.
Atualmente, a UBES realiza pelo país a campanha de formação de grêmios em todos os estados brasileiros. Em 2015, a entidade foi presenteada pelo cartunista Ziraldo, que elaborou juntamente com a UBES uma cartilha que explica o passo a passo para a organização dos grêmios, os direitos dos estudantes e demais informações para a fundação.