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Especial mês da Consciência Negra: Diretoria executiva da UBES fala sobre a realidade do jovem negro no Brasil

No mês de novembro, período de intensa mobilização por conta do Dia Nacional da Consciência Negra, o site da UBES entrevistou a diretoria da entidade que historicamente atua no combate ao racismo, contra o genocídio e a criminalização da juventude negra do Brasil.

Nesta gestão, segundo a presidenta da UBES, Camila Lanes, a própria composição da diretoria executiva, formada majoritariamente por jovens negros de diferentes regiões do país, fortalece o papel histórico do movimento estudantil como espaço de empoderamento e luta contra a segregação racial.

“Lutamos pela aplicação da Lei 11.645/08, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas, públicas e particulares, do ensino fundamental até o ensino médio, assim como também lutamos pelo fim da intolerância religiosa dentro e fora das salas de aula. Uma educação pública de qualidade também é uma educação não racista, laica e que garanta direito para todos e todas”, diz.

Há um ano, a UBES assumiu uma das principais trincheiras de luta contra o conservadorismo do Congresso Nacional e sua medida de ataque aos jovens negros das periferias, que foi o enfrentamento à PEC 171/93, barrada pelos estudantes. Relembre aqui os motivos.

“O Congresso mais atrasado dos últimos tempos ataca as conquistas dos movimentos sociais. Em sua maioria, é formado por homens brancos, ricos, acima de 50 anos”, critica o secundarista Ericleiton Emidio.

AS JOVENS NEGRAS

A pernambucana Stephannye Vilela é a primeira secundarista negra a ocupar o cargo de tesoureira da entidade, ela conta que foi nesta nova fase de atuação no movimento estudantil que se reconheceu como mulher negra.

“Assumir meu cabelo crespo foi o primeiro passo para o meu empoderamento, mas isso não é uma questão apenas de aparência. Usar meu black na rua e abandonar a chapinha é o reflexo do meu descobrimento como mulher negra, uma reconexão com minhas raízes. Hoje, quando participo de reuniões como dirigente da UBES, sei que estou quebrando padrões, mostrando que as meninas podem sim ocupar lugares de decisão, como provou a própria Primavera Secundarista no Brasil com jovens comandando o movimento em suas escolas”.

Enquanto as estatísticas apontam que o número de mulheres negras mortas cresceu em 54% nos últimos 10 anos, segundo o Mapa da Violência 2015, na Primavera Secundarista as jovens negras têm respondido com resistência e organização na liderança das ocupações de suas escolas.

“Ser mulher negra e participar da política é lutar todo dia, me orgulho de participar de uma das entidades estudantis mais importantes da América Latina com maioria de mulheres e de negros e negras. Continuaremos combatendo qualquer tipo de opressão, construindo espaços políticos mais feministas e mais enegrecidos”, pontua a diretora de Mulheres da UBES, Brisa Bracchi.

A secundarista Jéssica Lawane conta que, apesar de constar em sua certidão de nascimento a cor parda e algumas pessoas dizerem que ela é uma jovem “socialmente branca”, a diretora de Movimentos Sociais afirma que o fato de não sofrer racismo não muda sua condição de negra.

”Quando entrei no movimento social um amigo me chamou para organizar a frente de negros e negras da minha organização. Perguntei o porquê do convite, ele me respondeu dizendo que eu era negra. Fiquei um pouco constrangida por não ter certeza disso, o que foi positivo, me fez ter vontade de procurar entender melhor a questão racial no Brasil”, conta Jéssica.

Desde que ingressou no movimento estudantil, a 1ª vice-presidenta da UBES, Mariana Ferreira, conta que muita coisa mudou em sua vida. “Durante muito tempo fiz piadas racistas pensando que se tratava apenas de uma brincadeira. Às vezes as piadas agrediam a mim mesma e à minha família, mas eu não percebia. Só depois de entrar no Movimento Estudantil que eu fui ter acesso ao debate sobre o racismo e as diversas formas de propagação desse tipo de preconceito. Foi um aprendizado importante que o movimento estudantil me proporcionou e foi capaz de mudar a minha percepção sobre o povo negro e, consequentemente, sobre a minha própria história”, relembra Mariana.

“Sou negro e fazer parte da UBES é uma oportunidade de me empoderar ainda mais, é muito importante quando passo nas salas de aula para dialogar com tantos jovens que ainda não se reconhecem”, conta o 1º diretor de Grêmios, Fernando Alves.

A LUTA NA EDUCAÇÃO

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a falta de acesso à educação de qualidade aumenta a desigualdade entre brancos, pretos e pardos. As populações pretas e pardas representarem 69% dos brasileiros com a renda mais baixa do país, são o grupo onde há maior taxa de analfabetismo e evasão escolar entre os jovens de 15 a 17 anos.

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Juliene da Silva é uma das jovens negras que compõe a executiva da UBES, para ela, a escola ainda é um espaço de intensos conflitos. “Os professores e diretores não sabem lidar com a discriminação racial que sofremos todos os dias, e para piorar, não temos a oportunidade de conhecer a nossa própria história. O mês da Consciência Negra nos permite discutir o privilegio branco e nos posicionar pela necessidade de mudar as estruturas sociais que confinam os negros aos piores espaços educacionais, profissionais e habitacionais”, aponta a secundarista.

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OS ATAQUES DO GOVERNO

“A história do Brasil é de exploração e sempre quem mais sofreu, desde a escravidão, foi o povo negro. Hoje atacam a educação e outros serviços públicos que atendem a parte mais pobre da população que é negra. Não interessa aos golpistas e poderosos nossa emancipação, por isso, o mês de novembro é simbólico em resistência e combate ao racismo e a todos os preconceitos da sociedade”, critica o 1º secretário da UBES, Rafael Araújo.

Ø  Entenda mais sobre o assunto, leia aqui o posicionamento da UBES contra a PEC 241, agora 55, que congela gastos e impactará a educação, a saúde e áreas sociais.

LUTA HISTÓRIA DA UBES POR MAIS DIREITOS

Em agosto de 2012, o Brasil sancionou a Lei da Reserva de Vagas nas universidades federais, em que estudantes autodeclarados negros, pardos e indígenas passaram a ter reserva de cotas. A educação passou a garantir o acesso ao ensino superior, passo inédito e transformador na democratização do acesso à universidade, fruto da mobilização da juventude secundarista, universitária e do movimento negro.

“A UBES é uma entidade muito importante para a luta contra as opressões, é a entidade que representa a parcela da juventude que mais sofre com o preconceito dentro das escolas, preconceito esse reproduzido pelo modelo de escola que temos. Para nós, jovens negros diretores da UBES, é um desafio enorme – e ao mesmo tempo gratificante – saber que a juventude negra ocupa espaço na política”, afirma Jairo Marques, diretor de Relações Internacionais.​