Epicentro da Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Democracia, que acontece hoje em várias cidades brasileiras, o estádio Mané Garrincha, em Brasília, reúne jovens de diversos lugares do país que enfrentaram horas de viagem para participar do grande ato contra o golpe.
É o caso de Nadson Rodrigues, 20, presidente da Associação Nacional dos Estudantes da Bahia. A caravana de baiana saiu de Salvador às 7h da quarta-feira (30). Chegou por volta das 10h do dia seguinte em Brasília, levando moradores de cidades como Vitória da Conquista, Mutuípe, Porto Seguro e Santo Amaro.
“As nossas escolas ainda possuem forte resquícios da ditadura. Com as ocupações e as lutas, estamos mudando isso. Precisamos de escolas democráticas e críticas para a real transformação da sociedade”, diz Nadson.
Já o pessoal de Minas Gerais se divertiu ao som de Plebe Rude, Racionais e funk nas 12h de viagem pela noite e madruga. Mais de 200 estudantes, vindos de Uberlândia, Uberaba, Diamantina, Conselheiro Lafayete, Betim e Barbacena, chegam ao Mané Garrincha nesta quinta-feira.
Bruna Helena tem 18 anos e é presidenta do Grêmio de uma dos colégios mais tradicionais de Belo Horizonte, o Estadual Central. Ela defendeu o respeito ao voto dos mais de 54 milhões de brasileiros que elegeram a presidenta Dilma Rousseff em 2014.
“Não é só pela manutenção de um projeto que viemos a Brasília. É para também pressionar pelo nosso projeto de país, que é do pré-sal para a educação, a reformulação do ensino médio, melhores escolas e mais direitos”, explica.
Annie Garcia, 24, estuda Direito na Faculdades Catedral, em Barra do Garça, no Mato Grosso. Sua viagem até Brasília demorou mais de 10h e, para ela, o esforço é pouco para defender a democracia.
“Exigimos o respeito ao nosso voto e à eleição de uma presidenta democraticamente. Como estudante de direito repudio o impeachment inconstitucional e exijo a legalidade do judiciário”, diz.
Ela enxerga o governo federal, apesar de todas as dificuldades, comprometido com uma bandeira histórica do movimento estudantil: mais vagas mas universidades.
“A Dilma acabou de aprovar a criação de uma universidade federal em Rondonópolis. Ao contrário do governo estadual que, reflexo das políticas neoliberais tucanas, quer militarizar e privatizar as escolas públicas”, denuncia.
O Amapá também está presente. O estudante de Física da UNIFAP, Adonai Ferreira, 25, chegou à capital federal na quarta-feira (30), junto a outros amapaenses, para ajudar na organização e
mobilização do ato.
“O Amapá é um estado que sofreu e ainda sofre muito. Não podemos permitir retrocesso. Na Universidade Federal do Amapá, por exemplo, tivemos avanços com o Reuni e a expansão da universidade para mais três campi avançados em Santana, Oiapoque e Laranjal do Jari”, conta.
Adonai acredita que o debate da democracia e da legalidade deve acontecer também dentro da universidade. “Temos que levar também a pauta do petróleo, das riquezas naturais que devem ser para a educação, para o nosso povo.”
O estudante Markson de Souza, 19, é de Belém do Pará e se junta à luta pela democracia em Brasília. Ele diz estar vivendo uma experiência rica e única ao poder participar da resistência popular.
“Quero levar essa vivência aqui para Belém e fortalecer nosso movimento lá, organizar grêmios estudantis, lutar por melhor qualidade e estrutura nas escolas sucateadas do Estado. Eles
começaram uma tentativa de reorganização lá, assim como foi em São Paulo e Goiás. Mas nós vamos resistir!”
Texto Rafael Minoro, de Brasília
Colaborou Mariana Payno, de São Paulo