Dez carros, dois ônibus, uma van e três motos foram mobilizados pela polícia militar de São Paulo com objetivo de cercar o prédio da Presidência da República na Avenida Paulista. O aparato intimidador serviu para afastar os manifestantes que estavam do lado de fora e cercar também por dentro o 3º andar, local onde se encontravam cerca de 50 estudantes desde as 18h desta segunda-feira (10/10).
Foram 5h de ocupação pacífica em protesto contra a Proposta de Emenda à Constituição 241. A PEC, que congela os investimentos da União por 20 anos, foi aprovada em 1º turno na Câmara enquanto os estudantes ainda estavam dentro do prédio. A desocupação ocorreu por volta das 23h após muita negociação, empurrões de PMs em deputados e manifestantes, além da proibição da entrada de advogados.
A deputada estadual Márcia Lia (PT-SP) relatou as dificuldades para adentrar o prédio.
“Foi difícil negociar, não queriam deixar a gente entrar, chegamos a falar várias vezes com o Secretário de Segurança Pública do Estado. Eu avisei que eu ia entrar e ele deveria garantir a minha integridade física”, disse. “Policias me empurraram, deram um chute na minha perna”, denunciou.
Após entrada no prédio, a parlamentar conseguiu dar andamento à desocupação pacífica.
“Fico muito feliz que os garotos e as garotas tenham saído com sua integridade física garantida, porque sem os advogados eles não estavam respaldados em nada. A OAB tem uma lei que garante a prerrogativa dos advogados acompanharem seus clientes”, lembrou.
O deputado Alencar Braga (PT-SP) também esteve no local e parabenizou a ocupação realizada pelos estudantes.
“Eles ocuparam a sede da Presidência em São Paulo no dia em que o governo golpista quer congelar os gastos nas áreas sociais, ou seja, quer condenar uma geração inteira à ignorância, não garantindo direitos fundamentais e estes estudantes estão aqui lutando não só pela geração atual, mas pela geração vindoura”, ressaltou.
O presidente da União Paulista dos Estudantes Secundaristas (UPES), Emerson Santos, lembrou que durante toda a ocupação pelo menos dois comandantes foram negociar a saída.
“Sempre num grande terror psicológico, dizendo até que os menores de idade iam sair daqui direto para delegacia, mas a gente se mostrou resistente e permanecemos porque nosso objetivo era justamente ocupar até a votação da PEC”, frisou.
O diretor da UNE, Mateus Weber, que estava dentro da ocupação, explicou que o protesto teve o objetivo de pressionar os parlamentares a votar contra a PEC e alertar a sociedade dos perigos do governo golpista de Michel Temer.
“Tiveram vários momentos de tensões, a PM não deixava entrar os advogados a fim de garantir o direito de defesa dos estudantes. Eles não davam acesso a banheiro e água. E não deixaram entrar comida”, contou.
O advogado da Comissão de Direito Educacional da OAB, Victor Grampa, relata sobre a dificuldade de diálogo com a polícia militar. “Não estavam passando nem o nome do comando da operação, essa situação com o tempo foi se agravando, chegaram deputados estaduais, mais advogados, a comissão de prerrogativa da OAB chegou em peso para tentar solucionar de um modo pacífico, mas sem diálogo nenhum”, contou.
Grampa relata ainda que, depois da agressão à deputada Márcia Lia, a situação se agravou. Eles, então, entraram em contato com o Secretário de Segurança Pública, Mágino Alves Barbosa Filho. Os policiais queriam exigir que os estudantes assinassem um espécie de termo para sair.
“O que seria mais grave segundo a comissão de prerrogativa dos advogados e ao direito de defesa deles por serem obrigados a assinar alguma coisa que eles não sabem direito o que é”, explicou. “Nós subimos, dialogamos, eles disseram que aparentemente não houve crime algum, fizemos uma inspeção junto com os policiais, não houve nada, os integrantes se retiraram só com a qualificação”, disse, em relação a alguns dos estudantes terem que ter dado nome e RG aos PMs.
Os movimentos sociais convocaram para esta terça-feira (11) um grande ato na Avenida Paulista, em frente ao Masp, contra a aprovação da PEC 241 e também para denunciar o pacote de maldades de Michel Temer, que inclui ainda a reforma do ensino médio, a escola sem partido e a retirada de direitos trabalhistas.
ESCOLAS OCUPADAS NO BRASIL
A resistência contra os retrocessos na educação movimenta ocupações secundaristas em todo o Brasil. A UBES, que realiza levantamento diário sobre o movimento – que pauta a luta contra a MP de reformulação do ensino médio, contra a PEC 241 e a Lei da Mordaça -, contabilizou até o fim da noite desta segunda-feira, 146 escolas ocupadas em todo o Brasil.
Da UNE, com Redação
Foto: Mídia Ninja