Hoje, 20 de novembro, não é o dia de abordar a escravidão com eufemismo, muito menos de postar texto bonitinho com “somos todos iguais”. Não é um daqueles dias para continuar sendo hipócrita, fingir que racismo não existe e falar de “consciência humana”. E, por favor, não é nosso aniversário para nos darem os parabéns. A data da morte de Zumbi não foi escolhida como Dia da Consciência Negra para nos parabenizar, mas sim para lembrar da luta negra, que ainda é diária.
Ser uma jovem negra na nossa sociedade é já nascer em um ambiente hostil, desde o espaço escolar, que promove nossa invisibilização e ignora o ensino da história e cultura da África, hoje previsto por lei. A escola permite que brancos contem a trajetória e sabedoria de seus ancestrais, enquanto a nós fica reservado um capítulo sobre a escravidão. Nem ao menos este período é contado pelo nosso ponto de vista ou de forma que demostre nossa resistência.
Além disso, desde cedo lidamos o tempo inteiro com uma visão racista-social que menospreza nossas características e nos relaciona apenas a espaços marginalizados. O que faz nós, negros, nos sentirmos inferiores. O que faz nós, meninas negras, nos sentirmos feias e rejeitarmos nossa aparência.
Junto a essas questões cotidianas que afetam nossa saúde mental, temos a luta por conquista de espaços que historicamente nos foram negados. Somos maioria nos presídios e nas periferias, mas minorias nas universidades. Ganhamos 36% menos que brancos e vemos nossos irmãos, país e filhos serem exterminados diariamente.
Diante de tudo isso, mesmo assim conseguimos nos olhar para além da lente do racismo, nos enxergar e entender que nossa sociedade foi construída sobre pilares de opressão, estrutura que ainda que se demonstra por meio do racismo institucional. E que é preciso, sim, entender e compartilhar toda a historia negra para nos empoderarmos a partir dela.
O dia 20 de novembro não é para comemorar. É para que você, não negro, reflita sobre seus privilégios. Para nós, negros, compartilharmos nossa história e nos erguermos contra essa estrutura social racista. Vivemos 338 anos de escravidão e depois 129 anos de opressão e isso precisa acabar.
“Povo preto unido, povo preto forte. Que não teme a luta, que não teme a morte.”