Você já ouviu falar no filme “A Rebelião dos Pinguins?” O documentário de Carlos Pronzato sobre levante de estudantes chilenos rodou muito pelas escolas de São Paulo durante as ocupações de 2015. Quando o cineasta viu que o seu filme sobre o Chile estava inspirando ações em São Paulo, não teve dúvidas. Correu para fazer mais um documentário: “Acabou a Paz – Isto aqui vai virar o Chile!”.
Ele fez o mesmo em 2016 e documentou a nova onda de ocupações em “Ocupa Tudo – Escolas Ocupadas no Paraná”, filme lançado no Youtube nesta quarta (10).
Já dá para dizer que se trata de uma trilogia. “De alguma maneira, as ocupações do Paraná, que levaram o número de escolas ocupadas a 850, também se nutriram do histórico episódio das escolas paulistas, o que acabou encerrando (por agora) um ciclo narrativo iniciado, ou inspirado, no Chile”, analisa.
Em apenas um mês, entre novembro e dezembro de 2016, Carlos conseguiu registrar as movimentações no Paraná, com depoimentos de estudantes, pais, professores e historiadores. “Foi meu recorde!”, ri o cineasta.
O filme foi lançado em janeiro no Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, e já rodou alguns estados com exibições e debates. Carlos Pronzato fez tudo de forma independente e se anima com a ideia de “contribuir com o debate e a ação política”.
Leia a entrevista com o documentarista:
Carlos Pronzato: Venho trabalhando esse tema, o dos levantes estudantis, desde 2006, quando realizei o documentário “A Rebelião dos Pinguins – Estudantes secundaristas chilenos contra o sistema”, muito utilizado nas escolas paulistas para deflagrar a onda de ocupações de escolas (mais de 200) no fim de 2015.
De alguma maneira, as ocupações do Paraná, que levaram o número de escolas ocupadas a 850, também se nutriram do histórico episódio das escolas paulistas, o que acabou encerrando (por agora) um ciclo narrativo iniciado, ou inspirado, no Chile.
Carlos Pronzato: As gravações foram realizadas em pouco mais de uma semana. O processo todo demorou um mês. Acho que foi meu recorde de tempo (risos). A primeira entrevista foi em 17 de novembro e os lançamentos em Curitiba e região metropolitana ocorreram em 17 de dezembro de 2016.
Chamou minha atenção a identidade das lutas entre estudantes de diversos estados, não só de São Paulo e Paraná. Ouvi também de outros estados, por conta dos cine debates que fizemos ano passado com o filme “Acabou a Paz – Isto aqui vai virar o Chile“.
Carlos Pronzato: O de sempre desde que iniciei meu percurso no cinema de intervenção política, e que tem a ver com as escolhas que faço da maioria dos temas: a importância fundamental da ação direta, a relação da luta estudantil com a luta de todos os outros segmentos sociais – no caso específico, com a dos professores – o aspecto essencial da autonomia política e principalmente um alinhamento com o pensamento político que os estudantes construíram durante a luta. Essa, pelo menos, é a intenção.
Carlos Pronzato: Totalmente independente, como muitos outros que já fiz, ativando uma rede de apoios estruturais para gerir a produção. Lembro que um sábado entrei em contato de São Paulo com uma amiga professora em Paraná explicitando minha intenção de fazer um documentário sobre esse episódio histórico e segunda feira já estava – a partir do contato com outra professora – numa sala na frente de umas 30 pessoas, em Curitiba, para serem entrevistadas e/ou para contribuir com informações para o filme.
Carlos Pronzato:
Absolutamente não! Toda a imprensa da hegemonia empresarial atua no sentido de criminalizar tudo que ameace o status quo da construção burguesa da sociedade. Portanto, desmobilizar, difamar, criar atritos entre os próprios estudantes, fomentar as desocupações por vias violentas é o foco natural e distorcido dessas empresas familiares aliadas ao Estado repressivo.