Um a cada cinco bebês brasileiros que nasceram em 2014 eram filhos de mães adolescentes, de 10 a 19 anos. O número tem diminuído – e a UBES defende a educação sexual nas escolas para que diminua cada vez mais. Em 10 anos, caiu 17%.
Mas este continua sendo um dos maiores motivos para que garotas desistam do Ensino Médio. Entre as secundaristas que deixaram a escola, 18% apontaram a gravidez como motivo. Um pouco melhor do que em 2004, quando esta foi a razão de 25% do abandono escolar de garotas.
A falta de estrutura para deixar os bebês durante as aulas e a necessidade de complementar o orçamento contam muito para a decisão de parar de estudar. Mas outros fatores também podem ser determinantes, como o preconceito e falta de apoio por parte de professores, colegas e até a direção da escola, como algumas garotas contam ao site da UBES e como mostra o relatório da UNESCO Juventudes e Sexualidade.
Por outro lado, ter uma rede de apoio fortalecida e boa recepção no ambiente escolar fazem com que garotas que engravidaram precocemente não deixem de sonhar – o que só comprova a necessidade de psicólogos nas escolas e boas condições de trabalho para os profissionais da Educação. Além disso, a ampliação do acesso a creches, como determina o Plano Nacional de Educação, é fundamental para que mães de todas as idades possam manter outras atividades além da maternidade.
Conheça Rosely, a caminho de ser pedagoga, Mayara, futura advogada, e Brenda, que quer se tornar enfermeira.
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“Quando fiquei grávida, aos 15 anos, acabei deixando o colégio estadual onde estudava, no Acre. Até fui algumas vezes à aula, mas enfrentei preconceito tanto dos colegas quanto de professores e coordenação. Diziam que a minha vida tinha acabado e que a maioria das meninas na minha situação desistiam dos estudos e eram sustentadas pelas mães. Decidi não ir mais.
Meu filho, Ruan Kalleb, nasceu em novembro e, no ano seguinte, resolvi começar de novo. A experiência, em outra escola estadual, foi bem melhor. Isso fez muita diferença. Fui super bem recebida pelos professores e também pela coordenação. Alguns professores sabiam da minha rotina e me ajudavam com os estudos.
A possibilidade da família ajudar foi fundamental, no meu caso. Consegui estudar de manhã, trabalhar como auxiliar administrativo de tarde e fazer cursinho para o Enem de noite, enquanto meu filho ficava com a bisavó e a tia. Agora consegui uma vaga e vou poder estudar Pedagogia.
A maior dificuldade é como as pessoas mudam o olhar sobre você, depois que engravida. É indignante que, se um homem assume ter um filho, é reconhecido como herói. Se uma mulher decide isso, é fracassada. E quando uma mulher decide não ser mãe também é julgada como um monstro.
A sociedade nos faz sentir apreensivas, como se não pudéssemos mais chegar a lugar algum. E, quando conseguimos realizar objetivos, ainda não somos reconhecidas, porque não fizemos mais do que nossa obrigação.
Outra coisa: quando engravidei, já existiam palestras organizadas pelas juventudes e pela Ubes sobre prevenção, mas isso não atingia bairros mais distantes. Infelizmente, ainda não atinge, mas espero que a gente consiga avançar.”
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“Até os 6 meses de gravidez, continuei acompanhando as aulas do Ensino Médio. Mas fui ficando com um pouco de vergonha, os amigos se afastaram um pouco, e acabei desistindo.
Eu planejava voltar logo que Manuela nascesse, mas acabei não conseguindo desapegar dela. Me dava dó de deixá-la para ir à aula. Mas hoje tenho 18 anos e acho que ainda dá tempo. Pretendo fazer um supletivo este ano e seguir meu desejo de fazer enfermagem.
Eu achava que não seria capaz de cuidar da minha filha, pois meu avô, com quem eu vivo, não aceitava, e o pai não acompanhava muito. Mas minha família foi me apoiando e eu fui conseguindo.”
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“Eu estava perto de conseguir ser jogadora de futebol. Aos 14 anos, já atuava profissionalmente em um time em Canoas (RS). O contrato foi rompido quando souberam que estava estava grávida, com seis meses de gravidez.
Mas eu tinha também outros sonhos, e um deles era fazer Direito. Hoje consigo fazer esta faculdade. Meu avô fica com meu filho enquanto vou às aulas. E estou procurando trabalho.
Apesar da gravidez no 2° ano do Ensino Médio, consegui terminar o ciclo, graças, entre outras coisas, ao empenho de professores e colegas.
Na escola, fui bem acolhida. Conversaram comigo bastante, me davam atividades para casa. Eu podia amamentar meu filho no intervalo. Eles me ajudaram o máximo possível. Meus colegas me apoiaram, me mandavam os trabalhos. Já os outros alunos da escola ficavam me olhando com cara de assustados.
O mais difícil? Ter que se afastar do Gabriel para ir às aulas. Minha mãe ficou com ele por dois meses, mas ela mora muito longe de mim. Eu só o via aos fins de semana. Foi muito ruim. Pensei em parar de estudar. Mas tive o incentivo de amigos. Apesar de ter perdido muitas amizades, os mais próximos me apoiaram bastante.”